Governo elabora lei para tornar oficial o uso do gentílico “acreano”

Assunto está sendo colocado em pauta durante reuniões (Foto: Sérgio Vale/Secom)
Assunto está sendo colocado em pauta durante reuniões (Foto: Sérgio Vale/Secom)

O Poder Executivo estadual está elaborando um projeto de lei que poderá tornar o gentílico “acreano” o adjetivo pátrio oficial em todo o Acre. Antes de ser encaminhado para aprovação na Assembleia Legislativa (Aleac), o governo do Estado também prepara uma consulta popular que estará disponível em breve no portal oficial e na página Notícias do Acre, na internet.

O Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa manteve a normatização que já existia, definindo o gentílico como “acriano”. Segundo essa regra, do substantivo próprio “Iraque”, por exemplo, retira-se a vogal final e acrescenta-se o sufixo “iano”: “iraquiano”. Ou de “Jordânia”: “jordaniano”.

Ainda assim, no Acre nunca se utilizou a norma-padrão e permaneceu a adoção do gentílico consagrado pelo uso, “acreano”. Com o projeto de lei garantindo o uso oficial da linguagem utilizada pela população, fica patente o respeito à história, à cultura e mesmo ao hino, além de todos os documentos históricos produzidos no Acre desde o final século XIX.

Para a chefe da Casa Civil, Márcia Regina Pereira, é uma questão de responsabilidade: “Estamos tratando da nossa identidade cultural, da memória social, do sentimento de pertencimento”.

Contraria o Acordo?

O Novo Acordo Ortográfico visa simplificar as regras ortográficas da Língua Portuguesa e aumentar o prestígio social da língua no cenário internacional. Ele já se encontrava assinado desde 1990 por oito países que falam o idioma, inclusive pelo Brasil, mas só agora é que teve sua implantação. Ainda assim, é um equívoco afirmar que o acordo visa uniformizar a língua, já que uma língua não existe apenas em função de sua ortografia.

Por isso, o documento também abriu possibilidades para que o que é praticado por usos e costumes possa ser adotado. Assim, a proposta de lei estadual não terá nenhuma contradição ao Acordo Ortográfico.

“Vamos adotar isso como lei porque, se não há nenhuma alteração dizendo que reconhecemos o uso do gentílico com ‘e’, um site como o Wikipedia, por exemplo, irá reconhecer apenas o com ‘i’. É como se apagássemos nossa história e só vamos ter uma a partir do momento em que escrevermos com ‘i’ ou em que se mude todos os documentos oficiais para se ter o ‘i’. A lei vai garantir que em documentos oficiais e normativas a obrigatoriedade seja do gentílico ‘acreano’”, explica Márcia Regina.

Posicionamento das Academias de Letras

 
A presidente da AAL posiciona-se a favor da grafia “acreano” (Foto: Diego Gurgel/Secom)
A presidente da AAL posiciona-se a favor da grafia “acreano” (Foto: Diego Gurgel/Secom)

A AAL, assim como a Academia Juvenil Acreana de Letras (Ajal), posiciona-se contra a grafia “acriano”. Segundo a presidente da AAL, Luísa Karlberg, durante pesquisas, identificou-se que o gentílico foi usado em documentos em 1878, antes mesmo de o Acre ser legitimado como território brasileiro.

“A tradição de um povo é soberana até mesmo sobre um idioma. O povo é que caracteriza seu gentílico, sendo assim, somos contrários ao uso de ‘acriano’”, diz.

Já a Ajal defende uma consulta pública. O presidente do órgão, Jackson Viana, afirma: “Assim como o brasão, a bandeira e o hino, o gentílico é parte de uma cultura, e isso não pode ser mudado”, ressalta.

Consulta popular

O governo planeja lançar a consulta popular na próxima semana, com o texto de lei já pronto. As pessoas poderão opinar. Se no decorrer da consulta houver uma necessidade de mudança no texto, ela será prorrogada, mas o governo planeja que fique online até o início do Carnaval, para ser encaminhada para a Aleac até o início de março.

Depois que a lei for aprovada, será enviada para a Academia Brasileira de Letras e haverá uma discussão para incorporar de vez a ideia. O “acriano” poderá ser utilizado, mas nos documentos oficiais, passará a valer apenas o “acreano”.

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