“Meu maior medo era a rejeição e a discriminação das pessoas. Ver que meu problema era irreversível foi a pior parte, mas sou grata pelas oportunidades que surgiram no meu caminho pra me fazerem recomeçar”, relata Odessina da Silva, que aos 27 anos teve perda total da visão. Ela é uma entre as centenas que participam da Semana de Luta da Pessoa com Deficiência, aberta oficialmente na última terça-feira, 19, em Rio Branco.
Odessina conta que o diagnóstico médico chegou cedo, quando ela ainda cursava o sétimo ano: retinose pigmentar e glaucoma, o mesmo acometido por quatro de seus irmãos. Após a descoberta, enxergar foi ficando algo cada vez mais difícil, até um dia precisar abrir mão dos estudos e do trabalho. “Eu só chorava, para mim a vida tinha acabado ali mesmo”, diz.
Foi assim até ouvir falar sobre o Centro de Apoio ao Deficiente Visual (CapDV), lugar onde ela afirma ter recomeçado a viver: “Retomei os estudos, depois fiz faculdade e pós-graduação e passei em concurso do Estado e da Prefeitura”. Aos 62 anos, está quase se aposentando como professora.
Para ela, a assistência oferecida por instituições como o CapDV é fundamental para o processo de inclusão. “O estímulo é muito importante pra fazer a gente descobrir nossas capacidades, porque as dificuldades são muitas, mas não se pode desistir. E eu recebi isso por parte do centro e pude ter esperança de novo na minha vida”, conclui Odessina.
Histórias como essa se repetem na vida de milhares de pessoas vinculadas a associações e entidades de apoio na área de educação e saúde voltadas a deficientes no Acre. É o caso de Decreci Lopes, atual representante da Associação Riobranquense do Deficiente Físico (Ardef).
Era agosto de 1992 quando Decreci sofria um acidente no auge de seus 25 anos. Casado, pai de dois filhos pequenos e empresário à época, de repente se viu acordando sem nenhum movimento nas pernas em uma cama de hospital depois de 15 dias em coma, em razão de duas fraturas na coluna e um traumatismo craniano.
“Fiquei sem chão naquele momento, era o começo de uma grande luta na minha vida. Tudo o que eu pedia a Deus era pra não morrer e conseguir ver meus filhos crescerem e se formarem. Com o tempo, as lojas que eu tinha foram sendo vendidas, mas me sobrou uma casa pra morar e o carinho e a atenção da minha família, o suficiente pra continuar lutando”, conta.
Já são 35 anos de acompanhamento médico, inclusive fora do estado. Ao longo desse tempo, foi despertado a ajudar outras pessoas: “A deficiência nos traz mais que a necessidade terapêutica, traz a necessidade com o psicológico, porque abala muito. Foi assim que eu percebi que precisava ajudar os menos favorecidos, por ver a dificuldade no dia a dia das pessoas. Isso me despertou a me envolver diretamente com a associação”.
Também membro do Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Conedi), Decreci ressalta que muito já de ser comemorado, como a sanção da Lei de Políticas Públicas à Pessoa com Deficiência, conquista de vagas demarcadas, leis de isenção de IPVA, IPI e ICMS, entre outros direitos.
Semana de programação
Comemorar direitos conquistados e elencar o que ainda precisa ser alcançado é o objetivo da Semana de Luta da Pessoa com Deficiência, com uma agenda de programações que vão até a quinta-feira, 21, na capital.
A semana foi instituída pela Lei Municipal 2.216 sancionada em dezembro do ano passado, que determina sua realização em proximidade com a data 21 de setembro, o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, conforme lei federal de número 11.133, do ano 2005.
As atividades são coordenadas pelo Conedi, com a parceria de instituições públicas, setor privado e sociedade civil.
No Horto Florestal já foram realizados momentos de recreações, apresentações musicais e dança, palestras e orientações na áreas de saúde e justiça, aferição de pressão, testes rápidos e controle de diabetes entre outros serviços.
As atividades se encerram na quinta-feira, 21, com sessão solene na Assembleia Legislativa do Acre (Aleac).