Por meio de depoimentos, o documentário reconstrói o caso de tortura do jornalista, morto numa cela do DOI-Codi, em São Paulo.
O projeto Circuito Documentário exibe “Vlado – 30 Anos Depois”, do cineasta João Batista de Andrade hoje, 23, às 19 horas no Ponto de Difusão Hélio Melo. O filme é um apanhado da vida, carreira e morte de Vladimir Herzog, o Vlado, contando com depoimentos de amigos e familiares.
No dia 25 de outubro de 1975 o jornalista acordou de manhã e se despediu da mulher Clarice para se apresentar ao Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), órgão da repressão política do regime militar, e depor. Vlado nem imaginava que nunca mais voltaria para casa: naquele fatídico dia ele foi encontrado morto na cela que ocupava.
A versão oficial dizia que o jornalista havia cometido suicídio. Anos depois, a tese foi descartada, devido às várias contradições em torno da morte de Vlado.
Embora existam algumas imagens de arquivo ilustrando a época e os acontecimentos, “Vlado – 30 Anos Depois” encontra a sua força no depoimento de diversas personalidades que foram amigas do jornalista, além de sua viúva Clarice Herzog. São sempre depoimentos emocionados de pessoas que sentiram na pele os horrores de lutar por um país livre da ditadura.
Momentos de tensão e dor vêm à tona com depoimentos de jornalistas como Paulo Markun, Alberto Dines, Mino Carta, Fernando Morias e Sérgio Gomes. Todos se lembram dos horrores da repressão vigente depois do Ato Inconstitucional 5 (AI).
Contando desde a infância difícil na Iugoslávia, de onde Vladimir, de origens judaicas, teve de fugir com a família, o filme culmina no ato ecumênico que reuniu diversos setores da sociedade paulista e cerca de 8 mil pessoas na Catedral da Sé, uma semana depois da morte do jornalista.
No dia 31 de outubro de 1975, realizou-se o que foi caracterizado como um ato silencioso contra o regime. O documentário apresenta imagens inéditas do evento que mostram líderes religiosos como D. Paulo Evaristo Arns e o rabino Henry Sobel realizando o ato ecumênico que representava toda a sociedade pedindo paz.
Mais sobre o jornalista – Formado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), Vladimir Herzog trabalhou em importantes órgãos de imprensa no Brasil (como por exemplo, no jornal Estado de S. Paulo, TV Cultura) e três anos na BBC de Londres, além de ter sido professor da Escola de Comunicações e Artes, da USP. Por força de seu trabalho como jornalista e sua inclinação ideológica comunista, ligado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), foi morto no dia 31 de outubro de 1975. A causa oficial do óbito na época foi suicídio por enforcamento. Anos depois, foi comprovado que a morte do jornalista resultou de tortura, com suspeição sobre os servidores do DOI-Codi, que teriam posto o corpo na posição encontrada, pois fotos exibidas mostram Vlado enforcado.
Nas fotos apresentadas, há várias contradições. Uma delas é o fato de que ele se enforcou com um cinto, acessório que os prisioneiros do DOI-Codi não possuíam. Além disso suas pernas estão dobradas e no seu pescoço há duas marcas de enforcamento, o que mostra que supostamente sua morte foi feita por estrangulamento. Gerando uma onda de protestos de toda a imprensa mundial, mobilizando e iniciando um processo internacional em prol dos direitos humanos na América Latina, em especial no Brasil, a morte de Vlado pode ser vista como o início da abertura política.