Publicação pioneira traz nome e imagem de 4.000 espécies da flora acriana, muitas desconhecidas da ciência
Previsto para ser lançado entre o final de abril e começo de maio próximos, o 1º Catálogo da Flora do Acre, publicação pioneira no gênero, catalogou 4.000 espécies de plantas, sendo 73 novas para a ciência. O catálogo contém 613 páginas coloridas e em preto e branco com nomes científicos e populares de árvores, arbustos, cipós a partir do trabalho dos autores Douglas Daly, do Jardim Botânico de Nova Iorque, e Marcos Silveira, do Departamento de Ciências da Natureza (DCN) da Universidade Federal do Acre (Ufac).
O catálogo trará ao menos uma espécie que ainda será descrita pela ciência. Um pesquisador costariquenho localizou uma planta da família do guaraná nas florestas de Jordão, nova para a comunidade científica. De 250 espécies com nomenclatura atribuída a pesquisadores locais ou à região, metade tem ocorrência restrita ao Acre, Bolívia e Peru. Há uma espécie genuinamente acriana, o costus Acreanus, descoberta possivelmente nas matas da Reserva Extrativista Chico Mendes.
Estão sendo produzidos 300 exemplares, sendo que boa parte estará sendo distribuída aos pesquisadores que participaram do projeto. "Gostaria de poder ver esse material em todas as escolas do Acre", disse Silveira, doutor em ecologia pela Universidade de Brasilía, e um dos maiores especialistas em botânica em atividade no Estado. "Trata-se de um assunto dos mais importantes. O Fundo de Apoio à Pesquisa está à disposição para ajudar", afirmou o presidente da Fundação de Tecnologia do Acre (Funtac), César Dotto.
A quantificação encerrou-se há dois anos para que fosse iniciada a produção do catálogo. Nesse período, os cientistas descobriram novas espécies. A coleta de plantas no Acre remonta a 1901 com o pesquisador alemão Ernest Ule, que levou para seu país cerca de 700 amostras. Na Segunda Guerra, o material foi destruído com o bombardeio dos aliados sobre Berlim. Na década de 1990, o advento do convênio entre a Ufac e o Jardim Botânico de Nova Iorque permitiu a retoma da coleta em larga escala e a formação do banco de dados da flora com 37 mil espécies.
No catálogo, o glossário traz referência a 1.000 nomes populares, grande parte ligada ao tronco tupi. É possível que os nomes tenham sido trazidos pelos nordestinos que colonizaram a região. Parte é originária da língua kaxinawá. A nomenclatura tupi está estimulando pesquisa lingüística sobre o tema.
A publicação está sendo financiada pelo curso de mestrado em ecologia da Ufac e pelo WWF. Em 2010, o catálogo estará sendo revisado e republicado. Silveira e sua equipe estão iniciando o projeto "Resgate e Integração de Dados Botânicos para Conservação no Sudeste da Amazônia" investirá US$ 200 mil na integração de informações envolvendo inclusive Madre de Dios, no Peru, e Pando, na Bolívia.