Denize Galvez foi a única mulher e única representante da Região Norte entre os selecionados
Há um ano e um mês privada de liberdade Denize Galvez Domingos, 32, sabe o que perdeu. Mas nos últimos dias comemora apenas o prêmio que ganhou: estar entre os 30 reeducandos que tiveram as redações selecionadas como as melhores de todo o país no Concurso Escrevendo a Liberdade, promovido pelo Departamento Penitenciário Nacional do Ministério da Justiça (Depen) e a Associação Alfabetização Solidária (AlfaSol). Com o texto Esperando a Liberdade, Denize foi também a única mulher e a única interna da Região Norte entre os selecionados.
Condenada a 5 anos e 10 meses de reclusão por tráfico de drogas, Denize encontrou no trabalho, nos estudos e na Bíblia motivos para lutar pela liberdade. Foi da Carta de Paulo aos Coríntios que veio a inspiração para escrever o texto. “Li esse trecho da Bíblia e achei muito lindo. Pensei em como era a liberdade e comecei a escrever. Surgiu assim, rápido. Não adianta ter tudo e não ter liberdade”, avalia Denize dizendo que depois do resultado do concurso passou a ter mais esperança no próprio futuro. Ela, que trabalha em projeto de parceria entre a Unidade de Recuperação e a Secretaria de Saúde, aprendeu a costurar e sonha em montar o próprio ateliê quando ganhar a liberdade.
O texto foi o único escrito até agora pela reeducanda que parou de estudar ainda na 5ª série do Ensino Fundamental. Por este motivo, o 17º lugar teve gosto de primeiro também para a equipe de professores e colegas das aulas do segmento 2 da Educação de Jovens e Adultos da Unidade de Recuperação Social Francisco D’Oliveira Conde, nas quais Denize está matriculada. A professora Regina Célia conta que a participação acreana no concurso foi expressiva. No total, 221 redações foram inscritas. Número considerado bastante positivo para um grupo de alunos cuja distância da vida escolar é de no mínimo 10 anos. A redação de Denize Galvez será apresentada durante Seminário Nacional de Educação para a Liberdade, que acontece entre os dias 30 e 31 de outubro e 1º de novembro em Brasília.
O concurso de redação Escrevendo a Liberdade foi criado com o objetivo de incentivar a produção de textos de internos das unidades penais. Reeducandos de todo o país participaram com textos de diferentes estilos como poesia, letra de música, contos, prosa e até história em quadrinhos. As 30 melhores redações foram escolhidas por representantes de instituições de ensino superior. Os 4 melhores textos foram escolhidos por equipe de especialistas e voto popular por meio do site do Centro de Referência de Educação de Jovens e Adultos (Cereja). Confira o texto escrito por Denize Galvez Domingos:
Esperando a Liberdade
"Ainda que falasse sobre a Liberdade dos homens e dos anjos, e não tivesse a Liberdade e amor seria como o sino que tine. E ainda que tivesse a Liberdade e o dom de profecia e o conhecimento de todos os misterios da vida e ainda que tivesse todas a fé de maneira tal que transportasse as montes eu daria valor e amor a Liberdade. E ainda que destribuisse toda minha fortuna para os sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado e não tivesse a Liberdade nada disso me aproveitaria. Agora pois permanecem na fé e a esperança e o amor na espera da Liberdade".
Golby Pullig
Agência de Notícias do Acre
