“No Acre é melhor para trabalhar”, diz Maria do Santos, agricultura e esposa de Rafael Rutemberg Alves, produtor catarinense radicado em Manoel Urbano, Acre, onde insiste, com prazer, no plantio do café há 15 anos. “Aqui o café tem tudo pra ser o melhor. Produz mais, granula mais. Ele segura, sabe”, explica o agricultor, pai de família produtora (os filhos seguem o trabalho na lavoura) e um dos introdutores da cultura cafeeira nos ramais da região.
O café é cultivado no estado desde as primeiras migrações nordestinas, mas ganhou sua expansão na década de 1970 e agora nos anos 2000. O município de Manoel Urbano faz parte dessa produção. Atualmente quase 20 famílias cultivam o grão da segunda bebida mais consumida no mundo, perdendo apenas para a água. “Ano passado eu vendia o quilo do café em coco [sem ser beneficiado] a dois reais. Em 2013 já pude vender a saca por 210 e estou muito satisfeito. Para mim foi uma vantagem muito grande colher 25 sacas de café”, diz o agricultor Relmar Ferreira.
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Quando fui pra Rondônia, desde Belo Horizonte, uma moreninha me atentava para vir ao Acre. Falava que tinha muita terra. Mas cismei dela e não vim. Acho que se tivesse vindo antes eu teria engajado mais cedo, eu seria outra pessoa”
Rafael Rutemberg
O plantio cafeeiro também é feito em Feijó, Brasileia, Xapuri e Acrelândia, porém os ramais murbanenses têm um quê a mais, pois abrigam a história de Rafael Alves e sua família. “Desde os nove até os 20 anos fui boia-fria. Até que um dia eu disse ‘nunca mais quero ser empregado’”, conta, numa manhã de friagem acreana, tranquilamente sentado em sua ampla casa, à margem da BR-364. Antes de chegar ao Acre, Rafael trabalhou nas lavouras catarinenses até a morte de seu pai e seguiu pelos estados do Pará e Rondônia.
“Quando fui pra Rondônia, desde Belo Horizonte, uma moreninha me atentava para vir ao Acre. Falava que tinha muita terra. Mas cismei dela e não vim. Acho que se tivesse vindo antes eu teria engajado mais cedo, eu seria outra pessoa”, relata. Após 13 anos em Rondônia, Alves ouviu o relato de um amigo que tinha então visitado as terras isoladas de Manoel Urbano. “Ele dizia assim: ‘Quando chovia e fazia sol, você olha ao longe a terra e só vê o espelho do vapor subindo’. Na mesma hora eu disse: ‘Conheço essa terra, é uma coisa de boa’. Parti para o Acre”, revela.
Em sua propriedade, no Ramal São João, Rafael e os filhos colheram, na última safra, 600 sacas de café. Atualmente, cada saca é vendida a R$ 200, uma realidade possível somente por causa das máquinas que chegaram aos produtores da região, como parte do projeto de fortalecimento da cultura cafeeira do governo do Estado, executado em Manoel Urbano, pela Secretaria de Pequenos Negócios (SEPN). Antes do beneficiamento, com o sacador e descascador a saca chegava a custar de 50 a 60 reais. “Para mim, que sou acostumado com a dificuldade, melhorou muito. Não existe café sem secador”, afirma.
Aos 64 anos de idade, quase todos dedicados à produção agrícola e à família, Alves explica por que se mantém cultivando o grão: “Eu gosto do café porque é minha segurança. Eu vou me mantendo com mantimentos brancos (arroz, milho, feijão), que leva três meses para produzir, assim eu tenho dinheiro todo ano”. Apontando para o novo terreno, aonde chegou faz pouco tempo: “A prova está ali, quando você chegar neste lugar daqui a uns meses não sabe o que come, se chupa cana, come banana, pega uma macaxeira e assa. Esse é o meu ritmo desde a idade de quatro anos. O que der pra produzir, meu filho, eu sento o pau”.