Moradores do canal que corta o Bela Vista, na ZAP 4, não estarão mais expostos às doenças e à poluição
As obras estruturantes avançam nas Zonas Atendimento Prioritários (ZAPs) de Rio Branco. O projeto, cujo conceito abrange comunidades que apresentem carência em todos os aspectos, irá alterar completamente o sistema urbano, de saneamento básico, habitacional e social de famílias como a de Raimunda Nonata Araújo de Lima, cujo filho, Pablo Henrique, de 10 anos, criou-se no Beco do Pinicão, uma comunidade formada por sucessivas invasões às margens de um canal que deságua no igarapé da Maternidade. Devido à vida na beira do esgoto, Pablo contraiu uma hepatite e seus irmãos de vez em quando apresentam os sintomas de alguma doença -febre, dores de cabeça e micoses são comuns, diz a mãe.
O Pinicão da Bela Vista está localizado na Zona de Atendimento Prioritário do Palheiral, a ZAP 4, onde 2.203 famílias viverão os efeitos do maior conjunto de obras e projetos sociais visando o desenvolvimento humano e o combate à degradação ambiental e social.
Máquinas, operários e agentes públicos atuam de modo sistemático para concretizar o projeto que fará do Acre o melhor lugar para se viver na Amazônia até 2010. "Estou gostando do trabalho que está sendo feito e espero que seja realmente bom para meu bairro", disse Marileuza Costa da Silva, que saiu de casa no começo da manhã para ver o maquinário trabalhando numa região cujas moradias estão mais distante das margens do canal. "Fui ver como está o trabalho", disse, animada com a possibilidade de poder deixar a beira do esgoto depois de quinze anos morando numa região que apesar de gravemente poluído e degradado, hoje se encontra em melhor situação que há alguns anos. "Já teve tempo de eu ver geladeira boiando aqui no tempo das chuvas", lembra. Nessa época, o esgoto inundava as casas quando a chuva era forte e o igarapé transbordava. As sucessivas limpezas promovidas pela Prefeitura de Rio Branco em parceria com o Governo do Estado reduziu o perigo dos transbordamentos.
Raimunda Nonata e Marileuza são diferentes personagens de uma mesma história acontecida no mesmo bairro interligado por trapiches que serpenteiam entre becos e sobre o canal fétido e perigoso. Ambas moram há muito tempo em um fundo de vale enfrentando toda sorte de dificuldade. "Às vezes o mau cheiro é tão forte que ninguém consegue almoçar. Dá ânsia de vômito", diz Marileuza, que vê na urbanização do canal um bom projeto para todos. "Tenho fé que aqui ainda vai ficar muito bom", completou Nonata.
Urbanizado em suas margens, o canal terá sua água tratada e devolvida à natureza com mais de 90% de pureza. Estações de tratamento de esgoto estão sendo construídas para alcançar esse objetivo.
O menino, o pé de azeitona e o homem adulto
A boa parte dos moradores do Beco do Pinicão vive há vários anos no local. Francisco das Chagas de Moura, de 26 anos, mostra um pé de azeitona para expressar o tempo que mora no beco: "quando cheguei aqui a árvore era bem pequenininha, fininha e menor que eu", diz, olhando para a copa do pé de azeitona que hoje está muito maior que ele.
Francisco das Chagas e seu irmão, que também se chama Francisco de Moura, estão otimistas com as obras no canal que corta o bairro. "Disseram que vai virar um parque", disse. "Tenho fé que desta vez vai sair realmente", completou ele, que trabalha como roçador de quintal.
Vendedor otimista
Francisco Carrilho trabalha como vendedor de uma firma de armarinhos e enxovais de Rio Branco. Morador do bairro Jardim Eldorado, localizado na ZAP 1, Carrilho esteve pela primeira na vida nesta quinta-feira no Beco do Pinicão, na ZAP 4, para efetivar uma venda. Equilibrando-se sobre os velhos trapiches, Carrilho conta que percorre toda a cidade e que, em função disso, tem uma visão otimista em relação às obras do PAC. "Não há como negar: tem muito trabalho sendo realizado na cidade e eu vejo que não é brincadeira não. Estão trabalhando de verdade", disse, em tom de otimista.
Sonhos de criança
O conceito de ZAP propõe a valorização da família. No contexto, adultos, jovens e principalmente crianças estarão inclusos numa rede de proteção social e de desenvolvimento humano. As crianças não obrigadas a brincar na beira do esgoto, como Tamires, de dez anos, que nesta época de verão solta pipa com os amigos à beira do canal que corta o Pinicão do Bela Vista.
As crianças não estarão expostas à doenças típicas da poluição ambiental, como Melissa, de um ano, que ainda é amamentada pela mãe, Derdele da Silva Lima -ou como Jéssica, a garota que da janela de casa acena às pessoas.