Varadouro 2008: pluralidade musical brasileira

Em sua quarta edição, festival traz um leque de apresentações culturais sinalizando a diversidade da música do país

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A pluralidade da banda Filomedusa: uma das atrações do Varadouro (Foto: Val Fernandes/FEM)

O Festival Varadouro chega a sua quarta edição com o patrocínio da Petrobras, reforçando o conceito de diversidade cultural. Filiado à ABRAFin e parceiro do Circuito Fora do Eixo, o Festival em 2008 será realizado nos dias 26 e 27 deste mês, no estacionamento do Arena da Floresta, a partir das 18 horas. 

O Varadouro mais uma vez impulsiona a integração da América Latina através das manifestações integradas da cultura e assume definitivamente o papel de propulsor na discussão dos problemas sócio-culturais e ambientais que atingem o planeta através de sua programação que envolve debates, palestras e oficinas de conscientização, capacitação e potencialização de talentos. O Festival é uma realização do Catraia Coletivo de Cultura com patrocínio da Trama Virtual, Cerveja Sol e Governo do Acre e parceria do Ministério da Cultura.

Durante os dois dias serão mais de vinte bandas, entre acreanas, nacionais e da América Latina, de vários estilos e propostas, como Los Porongas, Filomedusa, Hey, Hey, Hey (RO), Linha Dura (MT), os veteranos do Cordel do Fogo Encantado (PE), e os bolivianos da Atajo e os peruanos da Bareto, além de diversas outras atrações musicais.

Além da música, esta edição do Festival agrega a Semana Varadouro, iniciada no último dia 20, com a realização de oficinas e palestras gratuitas de artes visuais, produção cultural, jornalismo, dramaturgia, audiovisual e radiodifusão, moda e marketing cultural, com intuito de capacitar pessoas para os diversos segmentos que integram as cadeias produtivas da cultura. A Semana termina no dia 28, com o II Campeonato Varadouro de Skate. Com isso, o Festival Varadouro, pretende fazer jus ao conceito: abrir caminhos.

Cordel do Fogo Encantado, La Pupunã e Mercadorias e Futuro no Varadouro

 

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Lirinha, vocalista do Cordel do Fogo Encantado apresenta "Sobre Mercadorias e Futuro" (Foto: Divulgação)

O Festival Varadouro não é meramente um espaço para o rock in roll, segundo definem seus criadores. Reunindo um mix arrojado de atividades, o projeto além de trabalhar a formação com oficinas e palestras, promove o intercâmbio e apresenta shows com bandas que sinalizam a diversidade cultural no país. Entre os grupos que passeiam por essa pluralidade musical, que irão se apresentar ao público acreano figuram o Cordel do Fogo Encantado (PE) e o La Pupuña (PA).

Para marcar melhor essa diversidade cultural proposta como conceito, o Festival Varadouro apresenta em sua programação o espetáculo ‘Mercadorias e Futuro’, escrito e interpretado por José Paes de Lira, o Lirinha, vocalista do grupo Cordel do Fogo Encantado. A peça com apresentação no dia 25, às 20 horas, no Teatro Plácido de Castro é um projeto paralelo e experimental do músico dentro de outra linguagem. Com co-direção assinada pela atriz Leandra Leal, Mercadorias e Futuro é uma performance que une texto, som, luz e improviso.

Sobre Mercadorias e Futuro – Na peça, Lirinha interpreta Lirovsky, um vendedor de livros que inventou uma parafernália de máquinas em forma de carrinho para ajudar em seu ofício. Dessa aparelhagem, dispara sons, imagens e luz, pondo em cena um aparato de recursos tecnológicos contemporâneos. São equipamentos que ele mantém ao alcance do corpo, ativando um arsenal de áudios pré-gravados que, junto com os improvisos, se convertem na trilha sonora do espetáculo. "Mercadorias e Futuro" é sobre arte, comércio e direito autoral, sobre a dificuldade de unir arte e negócios, sobre como trabalhar e ganhar dinheiro.

Livovsky é um comerciante de registros proféticos, dotado da ciência de colecionar a poesia das predições e de caçar as inscrições do que está por vir. Possuidor do dom de estudar, de decifrar e de narrar mensagens que anunciam o futuro, é também detentor do direito divino de transformar essa narrativa na mercadoria que oferece ao público. No exercício de sua função de vendedor, Lirovsky ocupará o palco como se ocupasse uma feira, à semelhança dos antigos que vendiam poesia metrificada pendurada em cordões, o que hoje denominamos "literatura de cordel" Além do aparato tecnológico de som e luz, e, claro, das citações dos profetas que compõem o livro, Lirovsky recorre à obra de outros poetas, não ficcionais, para fortalecer seu argumento de vendedor.

Aí entra a estética do improviso, decorrente da herança poética do autor, com citações de falas de poetas como Zé da Luz, Manoel Filó e Lourival Batista. Isso tudo resulta num espetáculo dinâmico, repleto de referências poéticas tradicionais e contemporâneas, que estabelece um elo entre o arcaísmo das feiras livres e o esbanjamento tecnológico que sustenta os negócios virtuais das bolsas de valores e mercado futuro. O mercado, e sua essência imutável.

A música inventiva do Cordel do Fogo Encantado

O Cordel do Fogo Encantado se apresenta no Festival Varadouro no dia 27 como uma das principais atrações. O Cordel que nasceu como espetáculo cênico-musical em Arcorverde (PE), terra natal de Lirinha, vocalista e panderista, dos percussionistas Emerson, Nêgo Henrique e Rafa Almeida e o violonista Clayton), misturava a tradição musical do sertão – o toré indígena (herança da tribo Xucuru), o samba de coco, o reisado, a embolada e a música dos cantadores – e a poesia popular de nomes como Chico Pedrosa, Manoel Filó, Manoel Chadu, Inácio da Catingueira e Zé da Luz.

 

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Cordel do Fogo Encantadoé uma das principais atrações do Varadouro (Foto: Divulgação)

Foi em 99 que o Cordel estreou participando do Rec-Beat, festival organizado anualmente durante os quatro dias de Carnaval. O primeiro álbum veio em 2000, com produção do percussionista Naná Vasconcellos. Saíram em turnê pelo Sudeste, promovendo o disco, chamaram a atenção de crítica e público, lotando teatros no Rio e São Paulo.

Nas excursões pelo cinema participaram da trilha sonora de Deus é Brasileiro, de Caca Diegues e Lirinha (vocalista), interpretou "O Amor é Filme", em Lisbela e o Prisioneiro, de Guel Arraes.

O segundo trabalho, "O Palhaço do Circo Sem Futuro", veio em 2002, de forma independente, foi produzido pelo grupo e lançado no primeiro semestre de 2003. A lona do circo foi desarmada. Depois de percorrer praticamente todo o país com o espetáculo que rendeu indicações às mais respeitadas premiações musicais, o Cordel do Fogo Encantado lança seu terceiro disco: "Transfiguração".

A base continua a mesma: três percussões, um instrumento harmônico e a força da poesia como motivo da reunião. A maturidade musical se traduz no aprofundamento de novas descobertas sonoras de instrumentos. A percussão é levada para um ambiente mais contemporâneo, trazendo o frescor de uma música inventiva e não meramente reprodutora de ritmos existentes.

"Transfiguração" é, entre os álbuns do grupo, o que apresenta maior diversidade musical. A única participação especial é de BNegão, na faixa "Pedra e Bala (ou Os Sertões)". Repleto de referências, o disco propõe um passeio pelos universos de Graciliano Ramos, Ítalo Calvino, Nietzsche, Euclides da Cunha, Ana Cristina César, o beatnik de Jack Kerouak, além de Bertolt Brecht e José Celso Martinez Corrêa.

Rock, merengue, surf music, brega e a guitarrada do La Pupunã

 

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A mistura musical de La Pupunã será apresentada ao público do festival (Foto: Divulgação)

O grupo paraense se apresenta na primeira noite do Varadouro, dia 26, sexta-feira, juntamente com bandas do Acre, Tocantins, Rio Grande do Sul, São Paulo e Pará. Misturando rock, merengue, surf music, brega e, é claro, a guitarrada paraense, o La Pupuña traz Adriano Sousa (bateria), Marcio Goés (baixo), Diego Muralha (guitarra), Luiz Félix (guitarra e percussão), Rodolfo Santana (teclado) e Ytanaã Figueiredo (voz e percussão). A banda surgiu exatamente no ponto em que o deslumbramento com os tiozões do Mestres da Guitarrada veio à tona, quando o Brasil passou a conhecer o trabalho de Aldo Sena, Curica e Mestre Vieira, que, amplificando suas guitarras em linha direta no som, sem o auxilio de pedais, amplificadores caríssimos e guitarras com timbres específicos, conseguiram colocar os ouvidos mais atentos perto da caixa de som e fazer o pezinho bater no ritmo irresistível para uma dança.

Movidos por esse espírito, os estudantes de música partiram para um projeto de pesquisa chamado Guitarrada – a música instrumental com sotaque paraense, que tinha como base justamente o trabalho do trio de senhores. Depois disso, foi só a tentativa de adicionar ao seu som as influências que trazem Dick Dale, The Clash, Pink Floyd, Buena Vista Social Club etc. O La Pupuña é hype em Belém, eles tocam quase todos os dias da semana em diversos bares da cidade. Tem sido assim desde que Belém descobriu essa fusão inteligente e experimental que coloca os pupuñeros rodeados de mulheres dançando num clima de sensualidade que faria Rick Martin morrer de inveja.

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Quando: 26 e 27 de Setembro, a partir das 18 horas
Onde: no estacionamento do Arena da Floresta
Para saber mais: www.festivalvaradouro.com.br

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