Uma vida renasce quando alguém doa um órgão

Perder um ente querido é um momento muito doloroso na vida de qualquer pessoa, mas também pode se transformar em um momento de esperança e compaixão.

Fígado, captado em Belém, é retirado de aeronave da FAB e levado ao Hospital das Clinicas para transplante (Foto: Junior Aguiar/Sesacre)

A doação de órgãos é um ato de solidariedade e amor ao próximo que ainda não alcançou a aceitação por parte de toda a população. Segundo dados da própria Central de Transplantes do Acre, o estado tem a maior taxa de rejeição familiar, alcançando mais de 65%. Isso contribui para que sejam menores as chances de pacientes que têm no transplante de órgão a última esperança de vida.

Uma pessoa só é indicada para fila de transplantes quando não há mais alternativas para sua saúde e funcionalidade do órgão.

Em algumas regiões do país, como o Acre, devido à distância dos grandes centros urbanos, essa doação local torna-se ainda mais significativa, já que os órgãos têm um tempo limitado até o transplante, e a regulação nacional precisa indicar o órgão para a central mais próxima.

E mesmo com todas essas dificuldades, o Acre tem apresentado bons resultados quanto à realização dos transplantes e à recuperação dos pacientes. Desde a criação da central, o Hospital das Clínicas já realizou 43 procedimentos de fígado, 91 de transplantes de rim e 210 de córneas. Outros mais de 300 procedimentos em acreanos foram realizados via Tratamento Fora de Domicílio (TFD) custados pelo governo do Estado.

Além de ser o único estado da Região Norte a realizar transplantes de fígado, no ano passado o Acre foi, proporcionalmente, o quinto estado do país que mais realizou esse tipo de procedimento.

Como 2018 deve fechar com o mesmo número de transplantes de fígado do ano passado – 14 -, é provável que o Acre se mantenha entre os que mais realizaram o procedimento no Brasil.

“Eu sempre digo que o sucesso dos transplantes no Acre é resultado de muitas mãos. Primeiro, do governador Tião Viana, que apostou e tornou o transplante uma política pública de saúde no Acre. Não podemos esquecer a equipe que trabalha para que um procedimento aconteça, que vai desde o acolhimento da família que perdeu um ente querido até as equipes da FAB que trazem o órgão quando é de outro estado. Poucas pessoas sabem, mas um transplante envolve cerca de 100 profissionais”, afirma Regiane Ferrari, coordenadora da Central de Transplantes do Acre.

Regiane completa: “É claro que não podemos deixar de mencionar as equipes médicas, caso do doutor Tércio Genzini, que está conosco desde o primeiro transplante de fígado”.

Acre consolidou ainda mais sua política de transplantes de órgãos ao longo dos últimos anos (Foto: Angela Peres/Arquivo Secom)

Doações que salvam

O gesto de amor de uma família contribuiu para que a dona de casa Francisca Santos, que realizou transplante de fígado após aguardar um ano na fila, pudesse continuar a viver.

“Depois que tive meu filho, fiquei na UTI, e meu estado de saúde se agravou. Eu estava em risco de morte, passei 1 ano e um mês na fila de transplante, e graças à doação da Maria fui salva. Hoje já faz 2 anos e 4 meses que tive a oportunidade de uma segunda vida, uma nova chance. A pessoa que doa demonstra um gesto de amor muito grande ao próximo,” destaca Francisca Santos.

Maria, viúva que autorizou a doação, conhecia bem a realidade de uma pessoa que aguarda por um transplante, já que o próprio cunhado também estava à espera. Conta que quando soube da possibilidade decidiu com as filhas realizar a doação.

“O meu esposo gostava muito de ajudar as pessoas. E ele pediu para mim que, se acontecesse alguma coisa, mesmo depois de morto ele queria ajudar alguém. Vendo a situação do meu cunhado, que estava na fila de transplante, quando falaram que meu marido não tinha mais jeito decidi com minhas filhas ajudar alguém fazendo a doação” conta Maria Dantas.

Abrangência

Paciente de Rondônia é um dos 14 que fizeram transplante no Acre em 2018 (Foto: Júnior Aguiar/Sesacre)

Sendo o único estado da Região Norte a realizar transplante de fígado, o Acre beneficia muitos pacientes vindos de outros lugares do país, como foi o caso de Airton Silva de Araújo, natural de Rolim de Moura (RO). Ele iniciou o tratamento contra cirrose, mas os médicos informaram que, como o procedimento não é realizado em Rondônia, ele deveria tentar fazer no Acre.

Araújo conseguiu, em janeiro deste ano, finalmente um doador compatível e realizou o transplante. “Eu tinha certeza de que na hora certa iria acontecer, sempre tive esperança. Com o apoio da minha mulher, estou me recuperando muito bem, graças a Deus. Agora é vida nova.”

Atualmente, cerca de 50 pacientes estão na lista de espera para o transplante. Entender a importância desse ato para a vida dessas pessoas representa empatia e amor ao próximo.

Vale lembrar que para ser um doador de órgãos não precisa nada mais do que expressar esse desejo à família.

Compartilhe:

WhatsApp
Facebook
Twitter