Ufac inicia aulas para docentes indígenas de nível superior

Experiência é tida como inovadora tanto para docentes, como para os alunos que participam da formação em Cruzeiro do Sul

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Reitora da Ufac participa de início do curso de formação dos professores indígenas em Cruzeiro do Sul (Foto: Onofre Brito/Secom)

A reitora da UFAC Olinda Batista e o vice-reitor Pascoal Muniz participaram nesta semana da aula inaugural dos 70 indígenas que estão participando do curso de Formação de Docentes Indígenas em Nível Superior, provisoriamente instalado no Centro de Treinamento da Diocese. A reitora explicou aos estudantes que as obras no Campus da UFAC destinadas a construir um local específico para os cursos de formação indígena estão em andamento e que no segundo semestre deste ano provavelmente as aulas já ocorrerão em seu local definitivo. Pascoal Muniz destacou o fato de que o curso de formação indígena simboliza a democratização do acesso à universidade.

A coordenadora do curso, professora Heidi Soraia Berg, conta que o curso tem uma fase presencial que acontece em Cruzeiro do Sul até o final de maio. Em seguida vem a fase intermediária que já está sendo planejada nas reuniões semanais dos colegiados. Cada fase presencial tem uma fase intermediária correspondente e nesta fase professores irão até uma aldeia indígena onde farão um trabalho durante 14 dias.

No segundo semestre vai acontecer a segunda fase presencial e intermediária. O curso total tem a duração de 04 anos.

Entrosamento entre etnias

Todos os indígenas estão hospedados no Centro de Treinamento e este fato também se tornou numa experiência interessante. Heidi conta que as diferentes etnias ocupam o mesmo espaço. São 11 etnias, das quais 10 são do Vale do Juruá e ainda tem a presença dos Manchineri do rio Iaco, afluente do rio Purus. Para a coordenadora, o fato de dividir o mesmo espaço, o refeitório, os momentos de lazer, os momentos de estudo facilitam o entrosamento e adaptação entre os diferentes grupos.

A professora Heidi está há três anos no estado. Ela fez parte da comissão que construiu o projeto pedagógico deste curso. Na ocasião – ela conta – o grupo teve apoio de vários parceiros como a Gerência Indígena da Secretaria de Educação do Estado, Secretaria dos Povos Indígenas, Organização dos Professores Indígenas, Funai, Funasa, Comissão Pró Índio e continua recebendo o apoio destes órgãos.

Segundo informou, no final de 2008 foi realizado um concurso, quando foram contratados 04 professores efetivos. Os demais professores estão sendo convidados ou da UfAC sede ou de outras instituições de ensino superior do país para atender alguma disciplina específica.

Outro mundo

O índio Fernando Yawanawa (Nani), que dirige a aldeia Nova Esperança na Terra Yawanawa do rio Gregório, tem uma peculiar opinião sobre a presença indígena nos cursos superiores: "Para nós é outro mundo, porque o nosso mundo é diferente. Este aqui é o mundo da competição, o mundo da escrita, mundo diferente da nossa convivência, mas a gente tem que lutar para alcançar, porque o que vale hoje em dia para se alcançar este objetivo é o diploma. Se você não tiver estes estudos não vai conseguir. No nosso mundo não precisamos de diploma; a gente já tem nossa universidade, nossa cultura, nossa tradição que já vem de muito tempo. Então, esse aqui é o único jeito de poder assegurar esta questão de escrita e também o certificado", disse.

Nani explica que são cinco Yawanawa nas duas turmas, todos já lotados como professores nas aldeias do rio Gregório e nenhum deles pretende deixar a aldeia, mesmo depois de formados. "Nenhum deles tem motivos para ir para a cidade. O que nós estamos querendo é melhorar o ensinamento, porque nós já temos educação desde muito tempo", garantiu.

A professora do curso, Andréia Martini, acha a experiência  inovadora. "Acho que no Brasil é única, pois, além de estar ajudando na formação, você está trabalhando com pessoas que às vezes tem mais de 20 anos de sala de aula. É uma educação diferenciada que também é referência no Brasil. É um trabalho de diálogo forte, que permite pesquisa de ponta, permite a nós rever nossos conceitos e preconceitos e sempre é engrandecedor para os dois lados, pois somos uma sociedade só. Quanto mais trabalharmos em conjunto e dialogar mais proveitoso será para todos, inclusive para a universidade" – disse.

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