Tudo bem se não plantou uma árvore ainda. Mas o que acontece quando se corta ou queima as que já existem?

Por Roseneide Sena*

Já olhou para o céu hoje? Aqui no Acre é acordar com o sol escaldante e logo após se encharcar num dilúvio repentino, mas não nesta época do ano.

Agora vivemos um período de estiagem, que, de acordo com os especialistas, inclusive o doutor em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Universidade Federal do Acre (Ufac), José Genivaldo Moreira, será muito intensa.

Isso porque o fenômeno conhecido como El Niño, que aumenta temperaturas e reduz chuvas, voltou a ser registrado após três anos de La Niña, que tem efeitos opostos. Foi a primeira vez que o La Ninã aconteceu por três anos seguidos, de 2020 a 2022.

As florestas tropicais são armazéns gigantes de carbono que, se protegidos, auxiliarão no controle do aquecimento global. No entanto, as emissões de gases de efeito estufa (GEE) oriundas do desmatamento e degradação dessas florestas continuam em níveis elevados.

Somente o desmatamento na Amazônia brasileira corresponde a mais da metade dos gases emitidos por essa via pelo Brasil e, mesmo com as recentes quedas nas taxas de destruição da floresta, o país lidera tal ranking.

Estudiosos comprovam que uma das causas das mudanças que sentimos no clima é o aumento do carbono no céu.

Você sabe o que é carbono, né?

Lembra lá da aula de química, da famigerada tabela periódica? Os professores tinham razão: um dia isso tudo seria útil.

Então, o carbono é um átomo. Ele faz parte de tudo ao nosso redor, faz parte do que é vivo: animais, insetos, árvores e até do solo; e do que já foi vivo: o estrume do gado, os esqueletos, o petróleo e até o ar.

Isso quer dizer que, quando o material onde estava o carbono vira fumaça, passamos a ter o gás carbônico ou CO2. Por isso, quando desmatamos ou queimamos a floresta, o carbono que estava nas árvores, nas folhas e nos frutos vira gás carbônico e rapidamente vai para o céu.

Sem chuvas, com a baixa dos rios e sem reservas para captação de água, o Acre entra no radar de atenção.

Embora nossas florestas sejam tolerantes às secas, se submetidas a estiagens prolongadas poderão entrar em colapso, dando início a um processo de degradação sem volta.

Em 2022, o Estado registrou a segunda maior área queimada mapeada desde 2005, com mais de 322 hectares. Já este ano, o governo decretou situação de emergência ambiental em pelo menos dez municípios, por conta do desmatamento ilegal e queimadas.

O fogo coloca em risco toda a biodiversidade e também a qualidade do ar, tão essencial à vida. Além de todos os prejuízos causados à flora e à fauna, a fumaça resultante dos inúmeros focos de incêndio tem sido responsável por comprometer a saúde de muitas pessoas, especialmente as crianças e idosos.

É preciso entender que a fumaça e toda a fuligem produzida nos incêndios acabam não se restringindo às localidades onde ocorrem as queimadas. Alguns especialistas afirmam que as nuvens de fumaça podem viajar até três mil quilômetros. Esse teria sido um dos motivos para a chuva preta que atingiu Porto Alegre (RS), em um fim de semana, entre os dias 12 e 13 de setembro de 2020, e também São Paulo em 19 de agosto de 2019, quando o dia virou noite, resultado dos incêndios destes lados da Amazônia.

É, meu povo, o Acre realmente fica localizado onde o vento faz a curva…

O vento padrão que circula na Amazônia vem do oceano Atlântico e entra no Brasil pelo Pará, na área mais ao norte. Ao chegar à região mais ocidental do país, onde fica parte do Amazonas e o Acre, as correntes de ar esbarram na Cordilheira dos Andes, nos países vizinhos. A cadeia de montanhas funciona como barreira para o vento, que altera sua rota natural e começa a seguir na direção sudeste, passando por Rondônia. Por isso, o Acre e o sul do Amazonas são conhecidos como regiões onde o vento faz a curva.

De 1º de janeiro até esta quarta-feira, 19 de julho, o Acre registrou 118 focos de queimadas, de acordo com os dados do Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) – 56% a menos que os 271 registrados no ano passado no mesmo período. Mas, nesta mesma semana, algumas cidades acreanas registraram taxas de qualidade do ar próximas ao limite máximo recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e algumas, como Rio Branco, já ultrapassam as diretrizes de segurança.

As queimadas diminuem a fertilidade dos solos, tornando as lavouras menos produtivas, e comprometem a qualidade da água, pois destroem as matas ciliares, que são a proteção dos rios, riachos, córregos e ribeirões, contribuindo para a ocorrência de seca e a baixa umidade relativa do ar.

O fogo também acaba levando, para dentro das residências, cobras, escorpiões, aranhas e ratos, entre outras espécies que estão fora do seu habitat natural e que podem causar acidentes aos seres humanos.

Colabore um pouco mais e evite: jogar bitucas de cigarro no chão, acender fogueiras, queimar móveis, lixo e entulhos… E se caso se depare com incêndios, não se arrisque, chame os bombeiros através do número 193.

Nunca tente apagá-los você mesmo! Afaste-se imediatamente e espere o auxílio chegar.

*Roseneide Sena é coordenadora-geral do Programa REM Acre – Fase II, mestre em Administração, membro da Associação Brasileira de Pesquisa em Finanças e Investimentos Sustentáveis (Brasfi) e chefe do Departamento de Crédito à Sustentabilidade e Produção, pela Secretária de Estado de Planejamento (Seplan)

Compartilhe:

WhatsApp
Facebook
Twitter