Em meio a tanta notícia ruim que se veicula no país por todos os meios midiáticos (inclua as redes sociais na Internet), principalmente falando de “corrupção” e “golpe”, a informação de que o governo do Acre vai promover em Rio Branco a Bienal da Floresta, do Livro e da Leitura entre 26 de agosto e 4 de setembro ilumina o fim do túnel. Que essa luz chegue com um verão limpo e democrático, cheio de boas ideias e jogo limpo!
A notícia sobre a bienal tem as primeiras declarações feitas pela diretora da Biblioteca Pública, Helena Carloni, e pela secretária de Comunicação Andréa Zílio: Helena afirmou que “estamos na avaliação do local” e que a intenção do governo é “fazer uma coisa diferente, que lembre a Amazônia com a ligação envolvendo os países voltados para o Pacífico”.
Andréa Zílio, por sua vez, disse que “o governador Tião Viana tem um enorme carinho por essa ação e faz questão de consolidá-la como um meio de integração entre o Brasil, Peru e Bolívia, reunindo escritores desses lugares e ampliando para outros cantos do mundo”. A secretária acrescentou que mais de 70 convidados- entre pesquisadores, escritores e livreiros – terão 10 dias de atividades culturais, palestras e oficinas.
Sabemos, por outros meios, que o local a ser escolhido para a bienal poderá ser a Praça da Revolução, a maior e mais central de Rio Branco, e também a mais charmosa, com muitas árvores e muitos bancos apropriados para leitura. Um outro local adequado é o amplo espaço do Novo Mercado Velho, com o toque histórico e lúdico do velho Rio Acre que corre em frente.
Aproveito a ocasião para oferecer aos organizadores algumas dicas sobre possíveis participantes. Um deles é o Instituto Vladimir Herzog, de São Paulo, que produziu o livro “Pássaro sem Rumo”, do Genésio Ferreira da Silva, o menino que aos 13 anos (em 1988) se tornou a principal testemunha contra os assassinos do líder seringueiro Chico Mendes. O Instituto prevê o lançamento da obra em Rio Branco no mês de junho, mas não custa nada deslocar essa data para agosto/setembro na Bienal.
Lançado no começo do ano no Rio de Janeiro, o livro teve boa aceitação e seus editores já pensam numa versão em inglês. O jornalista e escritor Zuenir Ventura, que teve enorme envolvimento com a história do Genésio e se tornou personagem no manuscrito que ele escreveu, participou de um debate com a presidenciável Marina Silva, no Rio, e os dois poderiam estar juntos novamente na bienal acreana.
A segunda dica que ofereço aos organizadores é a seguinte: vive em São Paulo há mais de 40 anos, o escritor acreano Joaquim Nogueira, filho de uma família de seringueiros de Sena Madureira que recentemente surpreendeu o mercado editorial nacional como escritor de temas policiais. Seu primeiro livro, “Informações sobre a vítima”, foi editado pela Companhia das Letras, uma das mais prestigiadas editoras do país, com registro na revista Veja e jornais paulistas, além de comparecimento ao programa do Jô Soares na TV Globo.
Na época (2010) fiz contato com o Joaquim, meu ex-colega de classe do Colégio Acreano e lhe perguntei se não tinha interesse em lançar seus livros no Acre. Seus olhos brilharam de saudade! Ele disse que nunca pôde retornar à sua terra desde que saiu daqui, nos anos 50, mas não hesitaria em vir se fosse convidado, para revisitar Sena Madureira e rever velhos amigos em Rio Branco.
Tive o privilégio de ler seus livros. É impressionante seu estilo literário, tem expressões de quem conhece o submundo do crime (durante muitos anos foi delegado de polícia em SP), mas não perde a ternura na descrição dos personagens, com perspicácia e ironia, eu diria até com um modo revolucionário de diálogo, gostoso de ler. Cheguei a compará-lo com outro escritor que admiro muito, o Campos de Carvalho (Chuva Imóvel, A Lua vem da Ásia), que orientou minhas indignações nos anos de chumbo, pós 1964.
Se quiserem uma terceira dica, sugiro o excepcional escritor de cordel Medeiros Braga, de João Pessoa (Paraíba), que escreveu um precioso livrinho sobre Chico Mendes e o Jornal Varadouro. Tudo a ver com uma Bienal da Floresta.