“Dá uma sensação de vitória para todos os envolvidos. Saber que ajudei a fazer a diferença é algo maravilhoso. Vendo essa redução se concretizar através dos números, das estatísticas e, principalmente, através dos meus alunos crescendo, é o que me faz continuar gostando de educar”, disse o professor Edilson Batista de Sá.
Integrante do Programa de Aceleração da Aprendizagem do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental – Projeto Poronga, há cinco anos, Edilson é um dos 108 professores que trabalham atualmente na ação educacional, que promove a reversão da desvantagem social no Estado do Acre.
Criado em parceria com a Fundação Roberto Marinho em 2002, o projeto foi desenvolvido como uma proposta de experiência educacional alternativa, estruturando uma proposta pedagógica capaz de reduzir a defasagem idade/ano (distorção idade/série), visando recuperar a confiança perdida dos alunos em sua capacidade de aprender e na competência de ensino dos professores.
Redes: Estadual e Municipal/ Zonas: Rural e Urbana
Fonte: CENSO/MEC
De 2006 a 2008, houve a expansão do projeto para outros municípios do Acre, sendo que, atualmente, as ações acontecem em Rio Branco, Sena Madureira, Cruzeiro do Sul, Tarauacá, Feijó, Brasileia e Epitaciolândia.
No início da ação, os dados do Censo Escolar do Ministério da Educação (MEC) registravam uma taxa de distorção idade/série no Acre de 55,6% em 2002, número que caiu para 8,4% no ano de 2012, que indicou uma queda de 47,2 pontos percentuais.
Histórias de superação – Mais do que um projeto educacional, o Projeto Poronga recupera a trajetória de jovens que, por diversos motivos, tiveram que abandonar os estudos em determinado momentos de suas vidas. Trazendo-os de volta à sala de aula e aumentando o incentivo para que o aluno não deixe de acreditar em suas próprias capacidades, os realizadores promovem a igualdade necessária para o avanço social.
Entre os alunos beneficiados pela dedicação da equipe escolar, está Juniel dos Santos Dantas, de Feijó. O jovem, de 19 anos, viveu grande parte de sua infância no seringal e, vítima de acidente, precisou ter uma das pernas amputada. “Uma das maiores dificuldades para mim é a acessibilidade, mas, vendo onde estou agora, consigo perceber o quanto venci e o quanto ainda posso vencer”, disse.
Outra situação de vida complicada foi a da estudante Jenianni Andrade de Moraes, que morou na zona rural de Brasileia até os 15 anos. Suscetível a diversas enfermidades, ficou atrasada nos estudos, vindo morar em Rio Branco com a tia para ingressar no Poronga, onde se formou no início deste ano. A jovem diz que essa foi mais uma etapa vencida. “Eu venci, e agora estou no caminho que minha mãe sempre sonhou para mim.”
Mais um sonho realizado foi o de Francisco de Assis Alves, de Tarauacá, que, tendo que ajudar o pai muito cedo a garantir o sustento da família, pensou ser praticamente impossível conseguir voltar a estudar. “Graças ao apoio dos professores e da equipe, pude ver que ainda não é tarde para realizar meus sonhos”, reconhece.
Alcances e resultados – Entre 2002 e 2012, mais de 20 mil alunos passaram pelas ações do projeto estadual de reversão da defasagem idade/série, com taxa de aproveitamento total registrada em 95%.
No ano passado, 118 salas estiveram em funcionamento no Estado, atendendo 4.271 estudantes das modalidades 2 anos – Etapas I e II e 11 meses, com auxílio de 133 profissionais da Educação, entre professores e supervisores, que auxiliaram na conclusão do curso.
Fonte: Coordenação do Projeto Poronga
De acordo com Emilly Areal Melo, coordenadora geral do Projeto Poronga, os bons resultados conquistados durante estes anos foram fruto de muito esforço e perseverança. “Procuramos resgatar, através desta metodologia inovadora, as aprendizagens bem-sucedidas e a elevação da autoestima e da confiança de nossos alunos”, explicou Emilly.
Segundo o secretário de Estado de Educação e Esporte, Daniel Zen, a correção da distorção idade/série representa o resgate da cidadania para jovens e adultos nessa situação. “Encontrar um caminho alternativo para prosseguir com os estudos é essencial para aqueles que enfrentaram problemas ou outras situações de vida que os impediram de concluir o ensino regular na idade correta. Era obrigação do poder público traçar esse caminho alternativo que já pôde ser trilhado por milhares de acreanos”, explicou o secretário.
Ainda segundo Zen, “a correção da defasagem idade/ano, mediante programas de aceleração de aprendizagem, contribui para a elevação da escolaridade média do povo acreano, para o preparo exigido no mundo do trabalho e para o exercício da cidadania plena. Muitos jovens que concluíram o ensino fundamental no Projeto Poronga são, hoje, professores do quadro efetivo do Estado. Isso nos deixa bastante orgulhosos.”
{xtypo_rounded2}O que é distorção idade/série: É a defasagem entre a idade e a série que o aluno deveria estar cursando. Essa distorção é considerada um dos maiores problemas do ensino fundamental brasileiro, agravada pela repetência e o abandono da escola. Muitos especialistas consideram que a distorção idade-série pode ocasionar alto custo psicológico sobre a vida escolar, social e profissional dos alunos defasados. Uma das soluções para concertar a distorção idade-série é a adoção da correção de fluxo, que consiste numa medida estratégica aliada à aceleração de aprendizagem.{/xtypo_rounded2}