Sonho do Chico, nossa realização! – artigo

Quando Chico Mendes se levantou contra a política agropecuária que tomava o Acre na década de 70, talvez ele não tenha imaginado que estaria deixando para as gerações futuras uma herança que daria visibilidade internacional para a Amazônia. Ah, se a gente pudesse te agradecer, Chico… Sua luta e o empenho de tantos outros extrativistas fizeram de nós, acreanos, pioneiros na conservação de florestas.

Em 1990, dois anos após sua morte, foi criada a Reserva Extrativista Chico Mendes garantindo aos seringueiros a posse da terra e a possibilidade de continuar exercendo as atividades tradicionais.

Mas, ainda assim, esses guerreiros teriam que lutar contra o preconceito e as dificuldades de um governo que valorizava a criação de gado e, para isso, o desmate da nossa floresta. Foi, quando em 1999, entrava em ação um plano de governo estadual que mudaria a realidade das populações tradicionais.

A Lei Chico Mendes, uma das primeiras providências do então governador, Jorge Viana, foi um importante passo para tirar os seringueiros da marginalidade e trazê-los para uma realidade digna e merecida, fazendo valer seus direitos de cidadão, a sua florestania. Aqui, já estávamos vivendo uma experiência de pagamento por serviços ambientais.

Primeira missão cumprida. Mas, a partir daí, o que fazer para garantir que além desses extrativistas, todo o povo da floresta pudesse ter mais dignidade? Veio então o Zoneamento-Ecológico Econômico (ZEE), um verdadeiro ponto de partida para a criação e a implementação de políticas públicas que dariam qualidade vida aos acreanos. Com o ZEE, nasceu a Política de Valorização do Ativo Ambiental e a certeza de que nossa economia seria verde. A partir daí todos os esforços seriam realizados para que o desmatamento fosse contido, a floresta fosse usada de maneira sustentável e gerasse renda aos habitantes dela, e que áreas já desmatadas fossem aproveitadas com práticas sustentáveis.

Enquanto isso, o mundo tentava encontrar uma alternativa para conter as mudanças climáticas, o aumento de emissões de gases de efeito estufa, prevendo que o futuro poderia ser um colapso ambiental. Em 2003, na Conferência das Partes (COP 9), em Milão, na Itália, foi apresentada a proposta “Redução compensada de emissões”, oriunda da proposta de REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação).

Mas, nós, aqui no Acre, já dávamos à floresta o melhor tratamento possível, sabendo que assim estávamos contribuindo para o estoque de carbono e mitigação das mudanças climáticas na Amazônia, lugar para onde todos os olhares do mundo se voltaram. Nesse período, intensificavam-se muitas discussões de valorização de uma produção florestal mais diversificada e sempre sustentável. Avançamos!

Em 2010, com a criação do Sistema de Incentivo a Serviços Ambientais (Sisa), veio o REM (Redd for Early Movers – Redd para pioneiros na conservação de florestas). O que é isso? É um prêmio! Ganhamos esse prêmio! Atualmente temos 87% do nosso território coberto por florestas, e em franca produção de borracha, castanha, açaí e outros modelos de Sistemas Agroflorestais (SAF), além da criação de pequenos animais e do manejo florestal madeireiro, graças à história que vivemos no passado, a parceria com o banco alemão KfW e às políticas de governo.

Com o Sisa|REM, além de valorizar os produtos florestais, conseguimos o reconhecimento do serviço prestado pelas populações indígenas, a quem devemos o DNA que carregamos e quem tanto resguardou e protegeu nosso maior patrimônio natural.

Os outros 13%, de áreas abertas são reaproveitados com atividades que têm feito a diferença na vida dos pequenos produtores: a piscicultura, por exemplo.

Que injusto seria se a gente não pudesse compartilhar tudo isso com o mundo, não é mesmo? Se você se pergunta “o que o Acre vai mostrar na COP21?” – eis uma resposta possível: temos uma floresta habitada, conservada e produtiva.

Antes de morrer, Chico Mendes disse: “Temos que viver da floresta e com a floresta”. Sonho dele, realidade nossa! Vamos nos apropriar desse momento, de discussão sobre as questões do clima, pois parte do que o mundo quer, o Acre já faz!

Resex Chico Mendes – A Reserva Extrativista Chico Mendes foi criada em março de 1990, por meio do decreto nº 99.144, mas esse processo teve início muito antes. Representantes do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, que, liderados por Chico Mendes, já se opunham ao modelo de desenvolvimento implantado pelo governo federal, elaboraram a proposta durante o 1º Encontro Nacional dos Seringueiros, em 1985. Um modelo que modificava o padrão de conservação.

Até então, a floresta só estava protegida se não tivesse presença humana. Os seringueiros do Acre queriam mostrar que era possível proteger a floresta e usá-la de maneira sustentável.

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