Algo inusitado ocorreu no Centro de Apoio à Semiliberdade, ao Egresso e Família (Casef). Os adolescentes João Henrique e Pedro Paulo (nomes fictícios), ambos de 17 anos, acostumados a serem olhados pela sociedade como jovens que cometeram atos infracionais, despertaram o gosto pela vida das passarelas. Nada de ser jogador de futebol, engenheiro ou mecânico, o que eles realmente querem é ser modelo.
Alto, loiro e postura adequada. Pedro Paulo carrega o jeito de modelo desde criança. Na unidade, a equipe percebeu isso e logo resolveu investir no jovem. “Ele e o João Henrique estavam juntos quando fomos à agência de modelo. Conversei com a direção do Instituto Socioeducativo (ISE) e conseguimos pagar a inscrição do Pedro. Ao chegar lá, percebi que o João ficava olhando curioso para tudo, com um sorriso no rosto, parecendo querer participar também”, relata a diretora do Casef, Cíntia Pontes.
Apesar de estar ali apenas acompanhando o colega, Pedro Paulo não deixou de incentivar João Henrique. Uma atitude que fez a diretora tentar uma bolsa para ele na agência. “Falamos com a coordenação da ATMC Model Management e, sensibilizados, nos concederam a vaga para o outro adolescente. Os dois eram apenas sorrisos”, lembra a diretora.
O curso, que teve duração de um mês, contou com profissionais qualificados. Durante o período, Cíntia notou um melhor rendimento dos socioeducandos na sala de aula e um comportamento mais maduro.
No entanto, para se sair bem no ramo, João Henrique precisou mudar os hábitos alimentares e o estilo de vida. Isso porque o rapaz está um pouco acima do peso. Decidido a seguir carreira, ele iniciou uma série de exercícios em casa. “Esse curso mudou muita coisa na minha vida.
Agora estou me cuidando mais e até malhação já faz parte do meu dia”, revela Henrique.
Sobre o preconceito referente à área do curso, João diz receber muitas piadas, mas que leva todas na brincadeira. “Até lá em casa bagunçaram com a minha escolha, mas não me ofendo.
Algumas pessoas não entendem o que é ser modelo e distorcem tudo. Encaro isso de uma forma normal”, declara.
O curso foi encerrado no último fim de semana. Na plateia, a namorada de João Henrique e a família de Pedro Paulo aplaudiam o desempenho dos dois na passarela. De acordo com Cíntia Pontes, os nomes dos jovens ficarão cadastrados na ATMC Model Management durante um ano, para futuros contratos.
O presidente do ISE, Henrique Corinto, afirma que a instituição também tem o papel de apoiar os talentos dos adolescentes. “Já descobrimos vários artistas dentro das unidades – dançarinos, pintores, cantores e agora modelos. Não há limite para os sonhos, basta que eles sejam saudáveis. É bom ver jovens, que já erraram na vida, escolhendo caminhos dignos”, afirma.
