Síndrome do coração partido: quando a dor emocional causa sintomas semelhantes aos do infarto

Quem nunca teve o coração partido e sofreu por amor? A poetisa brasileira Martha Medeiros já expressou tal sensação que aperta o coração em um de seus poemas intitulado A dor que dói mais, que fala justamente sobre uma saudade dolorosa por alguém que já se foi. Quando enfrentamos uma perda, desilusão ou tristeza profunda a dor emocional é tanta que, muitas vezes, a sensação é de que ela se transfere para o corpo. E de fato isso acontece.

Mas o que pouca gente sabe é que essa dor emocional pode efetivamente gerar consequências graves. Esse sofrimento que pode surgir após uma situação de intenso estresse emocional tem um nome e pode ser grave o suficiente para levar o paciente ao óbito. Trata-se da síndrome do coração partido um problema cardíaco causado por uma emoção negativa muito forte, como o término de um casamento, a descoberta de uma traição, um acidente ou a perda de um ente querido.

Apesar de rara, a síndrome ocorre com muito mais frequência em mulheres acima dos 40 anos, principalmente as que se encontram no período pós-menopausa, mas pode surgir em qualquer idade, afetando também homens e pessoas idosas. A causa exata da doença ainda não está bem definida pela medicina, acredita-se que o excesso de adrenalina provocado por uma emoção forte provoque mau funcionamento cardíaco.

O quadro clínico da síndrome do coração partido é bem semelhante com o do infarto agudo do miocárdio, cujos sintomas mais comuns são caracterizados por dor súbita no peito e falta de ar, mas outros sinais também podem ocorrer como tonturas e vômitos, perda de apetite e dor no estômago, raiva, tristeza profunda ou depressão, dificuldade para dormir, cansaço excessivo, perda de autoestima ou sentimentos negativos.

Em termos mais técnicos, a síndrome do coração partido também é conhecida como Síndrome de Takotsubo ou, ainda, cardiomiopatia induzida por estresse, uma doença do músculo cardíaco que pode surgir não apenas após eventos ruins, saber que ganhou na Mega-Sena ou receber uma promoção inesperada podem também funcionar como fatores de risco para a manifestação da síndrome.

Gatilhos perigosos

Alguns gatilhos conhecidos da cardiomiopatia de Takotsubo são: notícias de uma morte inesperada de um ente querido; uma notícia muito triste, como diagnóstico de câncer avançado de um parente próximo; violência doméstica; perda súbita e inesperada de grande quantidade de dinheiro; festa surpresa; divórcio; perda do emprego, entre outras situações de grande estresse.

O tratamento para a síndrome do coração partido deve ser orientado por um clínico geral na emergência ou um cardiologista. Por algum tempo, essa patologia foi tida como uma doença psicológica, mas estudos mostraram que, nos pacientes acometidos pela síndrome, os ventrículos do coração realmente não contraem corretamente e simulam um infarto do miocárdio, tendo semelhança com um coração partido.

O cardiologista Erisson Farhat, explica que a síndrome do coração partido ocorre devido a uma disfunção ventricular Foto Júnior Aguiar/Secom

O cardiologista Erisson Farhat, que atende na Fundação Hospitalar do Acre e no Pronto-Socorro de Rio Branco, é quem explica isso, destacando também que nos casos mais graves, pode ser necessário internação hospitalar, tratamento medicamentoso, psicológico e em alguns casos psiquiátrico.

Farhat explica que a síndrome do coração partido ocorre devido a uma disfunção ventricular, mas geralmente essas disfunções voltam a ficar normais. “Quanto a ser semelhante ao infarto, de fato a dor se assemelha, mas temos de observar o quadro clínico, o eletrocardiograma e as enzimas cardíacas para definir se é infarto, se houver dúvida pede-se o cateterismo cardíaco. Geralmente, o tratamento para a síndrome do coração partido é bem rápido, com o paciente sentindo melhoras dos sintomas em poucos dias. No entanto, nos casos mais graves, em que seja necessária a internação, o tratamento pode ser mais prolongado. Também pode haver a necessidade de um encaminhamento para ajuda com psicólogos ou psiquiatras para a superação do trauma que está causando o acúmulo de estresse emocional”, observa.

Sintomas da síndrome do coração partido

O paciente com síndrome do coração partido pode apresentar alguns sintomas, como:

  • Aperto no peito;
  • Dificuldade para respirar;
  • Tonturas e vômitos;
  • Perda de apetite ou dor no estômago;
  • Raiva, tristeza profunda ou depressão;
  • Dificuldade para dormir
  • Cansaço excessivo;
  • Perda de autoestima, sentimentos negativos ou pensamento suicida;

 

Dor intensa no peito deve ser investigada de imediato, orienta Farhat Foto Júnior Aguiar/Secom

Caso a dor no peito seja muito forte ou o paciente tenha muita dificuldade para respirar, o cardiologista recomenda ir ao pronto-socorro para fazer exames, como eletrocardiograma e exames de sangue, para avaliar o funcionamento do coração.

Cuide-se!

Não existe nenhuma fórmula eficaz para prevenir a síndrome do coração partido, mas é fundamental estar sempre alerta a fim de identificar os agentes estressores que podem provocar danos no organismo. Praticar esportes, atividades físicas ao ar livre e ter uma alimentação mais saudável podem ser bons aliados para combater a síndrome e outras doenças, uma vez que representam a oportunidade de sociabilizar, reduzindo o isolamento social e contribuindo não apenas com o bem-estar do coração, mas com a saúde de um modo geral.

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