Famílias vivem da renda do extrativismo e ainda dispõem de serviços como a pousada ecológica
A floresta preservada e gerando renda para os seringueiros por meio do desenvolvimento sustentável. Esta é a realidade do Seringal Cachoeira palco dos empates feitos por Chico Mendes e os seringueiros para barrar a entrada de fazendeiros no lugar na década de 70. Localizado há um quilômetros de Xapuri, o Seringal é um Projeto Agroextrativista, onde vivem 85 famílias.
Atualmente elas sobrevivem da extração manejada de madeira, da castanha, da venda do látex para a indústria de preservativos Natex, em Xapuri. São cerca de três mil litros de látex coletados por semana. Nilson Mendes, um dos líderes do local, diz que a venda para a Natex é garantia de renda segura para os seringueiros. "Além disso, não temos mais todo aquele trabalho de defumar ou fazer outro processo aqui. Entregamos o látex para ser industrializado".
Para a matriarca da família Mendes, Dona Cecília Mendes, de 83 anos, a vida hoje no local é a que o sobrinho Chico sonhava para todos. "A mata em pé, mas todos ganhando dinheiro de negócios gerados a partir da floresta. Aqui já teve um tempo em que só podíamos entregar a borracha para o patrão. Éramos como escravos, meu marido pagou o mesmo rádio várias vezes, todo ano, no acerto o rádio estava de novo nas contas. Agora podemos vender madeira, castanha e borracha para quem pagar melhor, somos livres", relata a tia de Chico Mendes.
Pousada do Cachoeira
A comunidade do Seringal Cachoeira conta também com a renda da Pousada erguida no local em 2007 pelo governo do Estado. Os charmosos chalés em madeira e as trilhas na floresta garantem o turismo ecológico, histórico e científico. O local tem capacidade para brigar 32 pessoas e as diárias variam entre R$ 50 e R$ 180. Toda a mão de obra é local e os produtos consumidos são produzidos no próprio seringal.
A Pousada do Seringal Cachoeira é administrada por meio do arranjo PPC – Privado Público Comunitário. O governo do Estado – por meio da secretaria de Turismo -, as agências de Viagem e a comunidade. De acordo com a coordenadora de Atendimento ao Turista, Rita Ramos, de junho a agosto, a Pousada fica lotada. "Recebemos gente do Brasil inteiro e de vários países".
Todo o dinheiro da pousada circula no Seringal. Os alimentos consumidos na pousada são produzidos no local e a mão de obra também, como relata o gerente Gleisom Xavier. Edivalda Maria , uma das cozinheiras, diz que o salário da pousada complementa a renda obtida pelo marido com a venda de látex e castanha. Para o seringueiro Celestino da Silva, vender açaí, frutas e galinhas para a pousada é um bom negócio. "Recebo na hora e não tenho que ir até Xapuri procurar venda para meus produtos". Rita Ramos da secretaria de Turismo, lembra que até o final de agosto, uma piscina será inaugurada na Pousada do Cachoeira.
"O local é um paraíso", define a psicóloga Macleine Paula de Melo, que passou o final de semana na pousada. Ela diz que além do bom serviço hoteleiro, fez questão de conhecer o lugar onde a história do Acre foi reescrita.
Por entre as trilhas da pousada é possível encontrar uma pequena cachoeira, seringueiras e samaúmas com mais de 500 anos de idade, plantas medicinais, barreiros onde comem os animais silvestres. Para abraçar a samaúma Rainha da Floresta, são necessárias 26 pessoas. Com os mateiros que acompanham os turistas nas trilhas, é possível ouvir "causos da mata", como a do "caboquinho" que assusta quem caça além da conta ou corta árvores. Quem vai ao Seringal Cachoeira tem a certeza de que toda a luta de Chico Mendes pela preservação do local valeu a pena.