Por Socorro Camelo, com colaboração de Edir Marques
Da Planície Amazônica ao Planalto Central, há muito mais a se conhecer que o ecoturismo ou turismo de aventura, carro-chefe da Expedição Honda Redrider Amazônia/Pantanal/Motoweek, promovida pelo empresário Cassiano Marques, de Rio Branco, em parceria com o governo do Acre.
Em apenas três dias de viagem, os viajantes foram surpreendidos com duas inusitadas atividades. Em Porto Velho, a visita ao Memorial Rondon os fez recuar no tempo, a quase 300 anos, e imaginar como o marechal Rondon, com sua expedição, desbravou aquela terra, chegando em lombo de burro, canoa e até mesmo a pé, enfrentando a selva, animais selvagens, clima inóspito e resistência do povo indígena e implantando o telégrafo nacional.
Autor da famosa frase “Morrer se preciso for, matar nunca”, Rondon escapou de morrer com uma flecha envenenada, graças ao coldre de tórax em couro que lhe protegeu o coração. O fato de ter sobrevivido lhe rendeu a fama de imortal entre os indígenas, obtendo admiração e respeito. A presença de cachorros em grande número, acompanhando o militar, era outro fator que atemorizava os habitantes originários, que desconheciam aquela espécie animal.
Rondon também tem um elo com a segunda visita cultural da expedição ao Estado de Rondônia, pois foi ele quem descobriu as ruínas do Forte Príncipe da Beira, encoberto pela exuberante vegetação amazônica, à margem do Rio Guaporé, fronteira com terras bolivianas. A colossal obra histórica, considerada a maior edificação portuguesa fora de terreno europeu, remonta ao ano de 1775 e levou oito anos para ser concluída. O forte chegou a ser ocupado por 900 adultos e 200 crianças, segundo Santiago, guia voluntário e morador da comunidade quilombola homônima estabelecida no entorno do forte.
A materialidade das ruínas reaviva, com a narrativa dos quilombolas descendentes dos povos originários, o que a tradição oral resiste em preservar: a exploração dos escravos indígenas e negros que ergueram, com sua força, sangue e suor, até a exaustão, a fortaleza portuguesa, sob a chibata de soldados brancos que obedeciam cegamente às ordens de Portugal ou também morreriam acorrentados na lúgubre masmorra que eles mesmos ajudaram a construir.
A riqueza histórica fez com que os visitantes Rosa Maria e seu marido, Paulo Patrício de Medeiros, se sentissem verdadeiramente fascinados. “Nunca pensei que Portugal e Espanha tivessem feito uma guerra também aqui”, exclamou Rosa.
O forte, datado de 1775 e construído pelos portugueses, proporcionou uma experiência memorável aos integrantes da expedição.
E, durante o trajeto até Vilhena, ainda em Rondônia, mais uma surpresa: o expedicionário Eduardo Marques, morador do Distrito Federal, avistou uma anta atravessando, imponente, a estrada. “Quando se vê uma anta dessa forma, sabe-se que o lugar é preservado ou que há reserva. Foi uma experiência fantástica”, relatou.
Elvis Pessoa: o grande líder dos quilombolas
Em abril, a comunidade local perdeu seu grande líder, Elvis Pessoa, irmão de Santiago. “Através dos contatos que meu irmão fez com todos os quilombolas do país e com as autoridades federais, acabou se tornando uma referência” contou.
Elvis deixou um projeto de restauração do forte, que seu irmão se compromete em viabilizar, junto à comunidade formada por 32 famílias. Graças a essa população, a história do local se preserva, por meio da tradição oral, pesquisas e registros. Nesse cabedal, há relatos que não se encontram no Google nem nas redes sociais, mas que se propagam e sensibilizam os visitantes, que levam na memória um passado que existiu e que foi construído a duras penas, em defesa de fronteira brasileira no século 18.
No momento, arqueólogos estão escavando a região, já tendo encontrado os pilares da antiga ponte movediça que dava acesso ao forte, sobre o grande fosso que circundava a fortaleza.
Vilhena
Em Vilhena, a expedição de aventureiros foi recebida pela direção do Sebrae em Rondônia, com um delicioso lanche.
O RedRider é um programa de experiências com motos de altas cilindradas da Honda. As expedições pela Amazônia e América andina são realizadas com motos CRF 1100L Africa Twin e operadas pela empresa EME Amazônia Turismo. O governo do Acre, apoiador da expedição, acredita nas potencialidades de fomento ao turismo.