Refúgio

O Brasil é realmente rico. Uma fonte não só de riquezas naturais, mas de culturas. Italianos, portugueses, sírios, haitianos, venezuelanos e tantos outros que aqui estabeleceram raízes e decidiram fazer do país “verde-amarelo”, um lar.  No entanto, o fenômeno da imigração voluntária deixou de ser comum e deu lugar à onda migratória dos refugiados, que é uma saída forçada, isto é, uma maneira de sobreviver e fugir de conflitos e violências.

Nessa perspectiva de conflitos armados, desastres ambientais, perseguições por motivos religiosos, políticos e étnicos, tudo isso levou milhares de pessoas a saírem em busca de se reinventar, se desafiar, aprender novas línguas e culturas e sempre com grandes bagagens, algumas mais materiais, outras psicológicas. Além disso, os migrantes latino-americanos passam por inúmeras dificuldades no decorrer da viagem até chegar ao destino.

Nesse cenário, os direitos humanos, a inclusão e a integração social são meios assistenciais e auxiliares que norteiam o posicionamento do Comitê Nacional para os Refugiados, (Conare), já que esses precisam de atenção, orientação e proteção. Ademais, pode-se refletir acerca do dever que todo ser humano deveria prestar ao semelhante, que é de acolher e guiar, tal como Dora, personagem do filme Central do Brasil faz por Josué, como diz o escritor Antônio Cândido “reconhecer que aquilo que consideramos indispensável para nós é também indispensável para o próximo”.

No Acre, a Secretaria de Estado de Assistência Social, dos Direitos Humanos e de Políticas para as Mulheres realiza frequentemente atividades de lazer, educação e atenção básica em prol dos refugiados venezuelanos, a fim de servir, assistir e assegurar todos os direitos elementares promulgados na Constituição Federal e na Lei n° 9474.

Segundo a Agência da ONU para Refugiados (Acnur), o Brasil é o país com maior número de refugiados venezuelanos reconhecidos na América Latina, logo, há uma estimativa de que 264 mil sejam residentes no país. Nesse sentido, muitos deles percorrem quilômetros a pé, condições climáticas desfavoráveis, mas que não alteram a força e a resistência desse povo que luta por uma vida digna e autônoma. Nesse contexto, o compartilhamento de responsabilidades entre órgãos e a sociedade é o caminho mais coerente para fazer de qualquer lugar do Brasil um refúgio, evidentemente com todas as disposições legais.

“O limite da solidariedade humana não deve ser o limite da fronteira física”, esse é o pensamento da chefe do escritório do Acnur em São Paulo, a doutora em Relações Internacionais Mª. Beatriz Nogueira. Ela dialoga sobre a questão das fronteiras, no que concerne à entrada dos refugiados no Brasil, e em outros países, tendo em vista a responsabilidade coletiva, isto é, todos precisam contribuir com ações edificantes que promovam o bem comum, tal qual a Copa dos Refugiados que aconteceu em Brasília, em 2019. Todavia, esse evento é anual desde 2014, e tem como intenção diminuir a distância entre os migrantes e refugiados. A pretensão do projeto foi combater a xenofobia, quer dizer, a rejeição a um indivíduo que faz parte do local de origem.

Ao ter como alicerce os Direitos Humanos, o enfrentamento ao preconceito e ao medo pelo desconhecido é extremamente relevante, já que o papel social dos sujeitos é incluir e não distinguir. E como frear a discriminação, a xenofobia e o preconceito? O filósofo Hans-Georg Gadamer contribui para tal questão ao exprimir que “a compreensão é um processo de fusão de horizontes”, ou seja, o processo citado por ele é um fluxo que se presume ser contínuo, tal como o dever de ter dúvida e, ao lado desse, o cultivo pelo diálogo e o respeito.

Com efeito, compreender que “o Brasil” não é tão caloroso, receptivo e gentil como se está acostumado a escutar é um passo para desmitificar violências simbólicas, já que os brasileiros fazem distinção entre culturas, ou seja, existe uma seletividade que deve ser combatida. Por conseguinte, é indispensável saber o que é realmente a empatia, mas não simplesmente entender o significado da palavra, mas colocá-la em prática, no sentido de humanizar-se com o sofrimento e a angústia daquele que muitos chamam de “estrangeiro”, e que está sem apoio, abrigo e às vezes perdido, mas que busca um futuro, segurança e paz para iniciar outras histórias.

 

Dana Anute é estudante de jornalismo e estagiária de comunicação na Fundação Hospital do Acre

Compartilhe:

WhatsApp
Facebook
Twitter