Receita de afago de mãe – crônica

(Foto: Onides B. Queiroz)
(Foto: Onides B. Queiroz)

A goma de mandioca é sempre de produtores aqui do Acre, para fortalecer a economia local, feita de gente humilde e valorosa. Peneiro, com carinho, cinco colheres de sopa já sobre a frigideira, que tem um palmo de diâmetro. Com essa medida, a tapioca fica fininha e macia, do jeito que ele gosta.

Fogo baixo, pra não correr o risco de ficar cascuda – que mesmo a comida simples pode e deve ser preparada com capricho e elegância. Esse gesto reforça a autoestima de quem cozinha, por saber fazer, e de quem é servido, por merecer.

Então sal a gosto. Quando as beiradas começam a se soltar, passo uma espátula de madeira por baixo, pra auxiliar no processo. Hora de virar. No ar, como panqueca, que é divertido e alegria é tudo. Esquento mais um pouco desse lado B, para não ficar farinhenta. Tiro do fogo.

Aí passo manteiga. Na face mais áspera. A lisa fica pra fora, o que deixa a tapioca mais bonita e de textura mais agradável ao paladar. Enrolo o disquinho sobre um aparo e cubro com um prato, pra ficar quentinha até o menino acordar.

Ah, se ele soubesse o quanto aquece meu coração fazer-lhe esses afagos, o quanto me alegra poder nutrir seu corpo e sua alma, o quanto me faz feliz vê-lo chegar à mesa e, sorrindo, descobrir:

– Oba, tapioca!

Ah, se ele desconfiasse do quanto eu o amo e lhe sou grata pela oportunidade de ser sua mãe.

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