Projeto Seringueiro completa 25 anos de educação na floresta

Governador Binho Marques participa da comemoração de fundação do projeto, considerado um dos marcos de apoio à luta dos trabalhadores no Acre

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Governador Binho Marques participa das comemorações pelos 25 anos de criação do projeto. Foto: Gleilson Miranda/Secom

O governador Binho Marques participou neste sábado, 25, em Xapuri, de evento comemorativo aos 25 anos do Projeto Seringueiro, idealizado pelo Centro dos Trabalhadores da Amazônia (CTA), para levar saúde, educação e cooperativismo às comunidades extrativistas do Acre. O evento, realizado no Salão Paroquial da Igreja São Sebastião, lembrou os 20 anos da morte de Chico Mendes, cuja luta é referência para o Projeto Seringueiro.

O Projeto Seringueiro implantou uma rede de escolas nos seringais do Acre a partir da iniciativa de um grupo de jovens educadores, firmando-se como política oficial de ensino ao produzir grade pedagógica específica para a realidade das comunidades que vivem na floresta. A primeira escola, chamada Wilson Pinheiro, foi construída na colocação Já Com Fome, no seringal Nazaré, hoje Reserva Extrativista Chico Mendes, mas na época integrante da Fazenda Bordon.

A opção por iniciar o projeto pelo seringal Nazaré era estratégica. "A Bordon dava o sinal às demais fazendas: quando começavam a desmatar lá, todas as fazendas faziam o mesmo", lembra Manoel Estébio, fundador do Projeto Seringueiro. A importância de promover conscientização popular através da educação, serviços de saúde e noções de cooperativismo levou Estébio e mais três de seus companheiros a fixar residência  no Nazaré. O contexto político, social e econômico era de dominação e tensão. A expansão das fazendas e a conseqüente bovinização da floresta obrigavam os extrativistas a uma reação. Os empates se acentuavam. "A conjuntura era de enfrentamento ao projeto de transformação dos seringais em fazendas", recorda Estébio.

Nesse ambiente sócio-político e econômico, a escola Wilson Pinheiro começou a funcionar com catorze alunos, todos adultos. A colocação havia sido reaberta pelo grupo do CTA, que constatou a dependência do trabalhador local aos intermediários – os marreteiros -, especialmente quanto à aquisição de alimentos, compra e venda de produtos da floresta.  A proposta então era contextualizar a realidade das comunidades, dotando-as de conhecimento mínimo que as tornassem autônomas. A princípio, pensou-se instituir o Método Paulo Freire como esteio pedagógico, o que acabou adaptado. Em 1981, os educadores desenvolveram a Cartilha Poronga, reduzindo o uso das fichas de alfabetização.

A proposta avançou. Os idealizadores consideram o Projeto Seringueiro e os empates divisores de água na luta dos trabalhadores porquanto ajudaram a produzir, entre outros resultados, a consolidação  da reserva extrativista. Antes desse acontecimento, as colocações começaram a reivindicar escolas para suas comunidades, expectativa que foi respondida pelo CTA  ao longo do tempo.  O núcleo original de educadores se transformou em equipe formadora de quadros, convidando o governador Binho Marques e militantes como Fábio Vaz e Marina Silva a iniciarem a fase expansionista do Projeto Seringueiro.

No início da década de 1990, o CTA já era responsável pelo acompanhamento de 51 escolas e mais de mil crianças matriculadas ao ano. Nesse período, acompanhava 32 postos de saúde comunitários. "O esforço do projeto foi adequar a abordagem e metodologia à realidade do seringueiro", disse Fernanda Basso, coordenadora de educação do CTA. Nesse tempo, os seringueiros já tinham franco contato com a central de produção implantada pelo Projeto Seringueiro para apoiar a coleta e comercialização dos produtos da floresta, especialmente castanha e borracha.

Na cerimônia de sábado, integrantes do CTA, alunos e professores novos e pioneiros do Projeto Seringueiro estiveram presentes. Na programação, apresentação teatral, coquetel e a exposição "nos varadouros da educação", com material utilizado pelo projeto em seus 25 anos.  "A gente merece comemorar porque já passamos por poucas e boas", disse o governador Binho Marques.

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De aluno a professor

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Josué Moura Conceição foi aluno e hoje é professor do Projeto Seringueiro. Foto: Gleilson Miranda/Secom

Hoje ele cursa Matemática na Universidade Federal do Acre (Ufac) mas para chegar lá  percorreu um longo caminho desde uma longínqua colocação até a cidade de Xapuri, onde é universitário.  Josué Moura da Conceição recebeu as primeiras noções de alfabetização do pai quando morava na colocação Boa Vista, no seringal São José, a dois dias de barco de Xapuri pelo rio que deu nome à cidade.

Moura passou então a ser alfabetizado pelo Projeto Seringueiro. Seguiu os estudos, esforçou-se e tornou-se professor. "Para o povo da floresta, a metodologia do Projeto Seringueiro é muito boa", avaliou. Sua escola, a Boa Vista, mantém 13 alunos.


Relançamento do livro Bichos

Na programação comemorativa aos 25 anos do Projeto Seringueiro, haverá o relançamento do livro Bichos, publicado inicialmente em 2003 com textos produzidos por professores e alunos. A edição será distribuída em escolas rurais e urbanas do Acre, integrando o acervo desses estabelecimentos e contribuindo inclusive para a formação continuada de professores. São cerca de 90 páginas falando sobre variadas espécies de animais.

A linguagem aplicada, segundo o CTA, representa o universo do vocabulário do seringueiro, com a riqueza de expressões de uma cultura de oralidade.

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