Valderícia Pereira da Silva transformou o quintal de sua casa, situada no ramal Belo Jardim, num bonito viveiro multicolorido de flores e algumas plantas de corte. Ela, que dois anos atrás dependia do benefício do Programa Bolsa Família para sobreviver, teve sua receita multiplicada ao se dedicar, com a filha Erivânia e uma amiga, à produção e comercialização de plantas ornamentais nas feiras que acontecem de quarta a domingo nos bairros.
A história de Valderícia coincide com a de outras 20 mulheres que participaram há dois anos dos cursos de jardinagem promovidos pela Coordenadoria da Mulher da Prefeitura de Rio Branco. Das 41 pessoas que receberam o treinamento, 21 aderiram à proposta e formaram quatro grupos para a produção de viveiros comunitários. O resultado veio em forma de aumento de renda para as famílias envolvidas. Uma renda sustentável e ambientalmente correta, porque até as ervas daninhas capinadas nos viveiros são amontoadas e transformadas em adubo, ao contrário da prática tradicional da queima, que transforma todo mato em cinzas.
Os cursos dados pela equipe da prefeitura foram o ponto de partida para a transformação da vida dessas pessoas, que se deu em muitas etapas. O acompanhamento da Coordenadoria da Mulher contribuiu para elevar a auto-estima daquelas que não acreditavam no seu potencial. "As reuniões comunitárias funcionavam como terapia coletiva. As pessoas partilhavam seus problemas e juntas buscavam solução", afirma Elisângela Pontes, representando da Coordenadoria.
Dificuldades todas continuam tendo. Mas a superação acontece com criatividade, ousadia e vontade de vencer. "Nós vamos buscar mudas onde a gente ouve falar que existe", diz Valderícia. "Quarta-feira mesmo, nós andamos sete quilômetros de bicicleta atrás de umas flores bonitas para lá do Santa Cecília", completa a filha Erivânia.
Além de aumentar sua renda, Esmeralda Silva, moradora da Vila Acre, contou que o trabalho com as flores fez um milagre na sua vida. A depressão que antes sofria desapareceu. Ela diz que o contato com as flores, a conversa diária com cada uma das espécies que cultiva, foram os melhores remédios. Márcia Bocard, do grupo do bairro Mocinha Magalhães, afirma que a procura pelas plantas tem aumentado a cada feira livre e que o local em que a procura é maior é a feira da Vila Ivonete.
Casa nova, vida nova. Com flores!
Livaneiva Paiva, que trabalha com o marido Heliton, envolveu-se tanto no trabalho com flores que decidiu vender a casa na rua principal do recém-urbanizado bairro Mocinha Magalhães para comprar um terreno maior no ramal do Tucumã, na estrada de Senador Guiomard. No começo, Heliton trabalhava como marceneiro e só ajudava a mulher nas horas vagas. Depois, com o aumento da procura, decidiu mudar de ramo e entrar de corpo e alma no negócio. Agora, morando numa casa de alvenaria que está construindo com o dinheiro das flores e dispondo de um veículo para o transporte das plantas, o casal relata com orgulho como foi a sua trajetória até aqui e já fala com convicção dos planos para o futuro. "O sonho é ampliar ainda mais nossa área, porque outras pessoas da nossa família estão querendo trabalhar com flores aqui por perto", afirma Livaneiva.
Visitas ilustres
Na última sexta-feira, 18, atendendo convite do prefeito Raimundo Angelim, o governador Binho Marques fez uma visita aos viveiros de Valderícia e de Livaneiva. Encantados com a beleza e alegria dos quintais, prefeito e governador ouviram por mais de duas horas os relatos das floristas agradecidas pela oportunidade de uma vida melhor que tiveram. "Se eu não tivesse participado daquele curso, não sei o que teria sido de mim", disse Valderícia. "Agradeço muito ao prefeito pela oportunidade que ele me deu", afirmou Livaneiva.
Para o governador Binho Marques, o projeto de jardinagem da prefeitura tem tudo a ver com sua proposta de fortalecimento das experiências comunitárias. "É muito bom a gente constatar que as pessoas são criativas, vão à luta e, quando têm um apoio da prefeitura ou do governo, podem dar um salto de qualidade na sua vida". Para o prefeito Angelim, a visita aos viveiros foi algo emocionante, porque demonstrou que, "ao mesmo tempo em que realizam grandes obras de infra-estrutura para toda a sociedade, a prefeitura e o governo do Estado apóiam pequenas iniciativas comunitárias que contribuem para a redução da pobreza e a conquista de melhor qualidade de vida para pessoas humildes".