“Eu nunca tive amigo. O meu amigo sempre foi o livro.” A frase proferida ao microfone, com dificuldade, pela adolescente Laura Stephany Oliveira da Silva, de 15 anos, por causa de uma timidez incomum, resume o que o hábito da leitura pode fazer de melhor na vida de um adolescente.
Laura é estudante do 9º ano na escola Antônia Fernandes de Freitas, onde na quarta-feira, 1, ela e outros 250 adolescentes participaram do lançamento oficial do projeto “Nos Embalos da Leitura”, que estimula o uso da literatura para ampliar a percepção de mundo nos alunos para além dos muros da escola.
Antes da solenidade, porém, Isabele Cristine Brasil, 13 anos, do 8º ano, já se divertia, havia pelo menos meia hora, com o livro “Médico à Força”, obra de Molière adaptada por Márcio Trigo sobre Esganarelo, homem de poucas virtudes, mas de bom coração.
Têm sido assim as atividades na escola, localizada no bairro Santa Inês, ao longo dos últimos três meses. O projeto, desenvolvido pelos professores de língua portuguesa, conta com a participação de outras disciplinas e tem duração média de 40 minutos por dia.
Um passeio pelo mundo é o convite que se faz aos alunos sem deixar a sala de aula. E garante a professora Socorro Leal, de Ciências: “Há quem tenha mesmo ido da escola ao Oriente Médio ou feito um tour pelas Ilhas Falklands, sem tirar os pés da escola”.
“As atividades de leitura estão fazendo tão bem a nossos alunos que eles narram com detalhes, por exemplo, desde espaços geográficos a perfis de grandes personagens da literatura”, comemora. “Desse jeito, viajar tem sido tão bom, principalmente, porque não se gasta um tostão”, brinca a educadora.
Os alunos receberam o secretário de Educação, Marco Brandão, como muito carinho. “Em 18 anos aqui, nunca vi uma visita de secretário”, ressalta Raimunda Silva de Almeida, gestora da escola.
E de Brandão, os alunos ouviram a saga do menino que queria ser carroceiro. Desde a casa de taipa em Guajará Mirim, contou que observava seu Raimundo, todos os dias, recolher o lixo na carrocinha de boi. E seu ideal era ser como aquele trabalhador: ver o mundo do alto.
“Quando uma vez subi na carroça tive uma satisfação imensa. Vi o mundo de outra ótica, uma perspectiva nova de tudo ao meu redor”. E aquela situação o incentivou a ler e a aprender, sobretudo depois de ter recebido do pai o conselho de que se não estudasse “puxaria mesmo carroça”.
O encontro com o secretário e os estudantes da escola Antônia Fernandes de Freitas acabou reforçando ainda mais os laços de compromisso com o saber em toda a sua plenitude.