Se você é acreano do “pé rachado”, com certeza a maneira que você pronuncia determinadas palavras tem influência da cultura indígena local. O modo como cada vocábulo é pronunciado, sua entonação e sonoridade foram alguns dos motivos que levaram o maestro e professor Afonso Portela a pesquisar a respeito e elaborar um livro sobre o tema. Apesar de a pesquisa, intitulada “O Uso de Vocábulos Amazônicos na Interpretação de Canções”, fazer parte do programa de pós-graduação realizado por ele na Universidade do Estado de Santa Catarina (UESC), a lei Aldir Blanc, por meio da Fundação de Cultura Elias Mansour, foi primordial para o seu desenvolvimento e conclusão, possibilitando viagens para bibliotecas em outros estados.
Você sabe o que é um vocábulo? trata-se de um pequeno trecho de som que é produzido nas falas e pode se dizer que toda letra é um vocábulo ou simplesmente a junção de alguns. A pesquisa de Afonso envolveu a análise de cinco músicas do cantor paraense Waldemar Henrique. O músico fez um levantamento de dicções e características de falas amazônicas. Ele entrou em contato com todos os estados do norte do país, exceto Tocantins. Após ter todo o material, ele realizou um comparativo do que há de semelhante e do que há de diferente, além de se basear, primeiramente, no seu estado de origem, o Acre.
Com os processos de imigração e povoamento da região, a linguagem foi se diversificando de acordo com cada estado amazônico, incluindo o Acre. Suas pesquisas concluíram que a linguagem local possui nasalidade e isto está diretamente relacionado à ancestralidade indígena, pois as etnias que formam o território amazônico utilizam a nasalidade em vogais específicas de acordo com a etnia. Para embasar o assunto, ele utiliza desde Platão a Focult, além de envolver estudos semióticos, os quais ele utiliza da retórica musical que revela algo além.
A obra ainda não tem data para ser publicada, porém, o professor espera ansiosamente para compartilhar os resultados de sua pesquisa por meio do livro, para que a população acreana e nortista conheçam ainda mais a própria cultura.