“Ela tem 105 anos!”. Impressiona a força de Dona Torôca, maneira como gosta de ser chamada a ex-seringueira Francisca Pereira da Costa, carregando no corpo, mesmo envergado, as marcas do duro tempo vivido. Ela e outros sete ex-seringueiros foram homenageados pela cidadania de Porto Acre no último fim de semana
“Cresci trabalhando no corte da seringa e quebrando castanha, fazendo farinha, colhendo lavoura”, conta Dona Torôca – a mesma rotina narrada pelos demais homens e mulheres da região cujas idades já superam os 70 anos.
A informação quanto à idade da ex-seringueira veio de Francisco Alves Feitosa, 79. Ele é do seringal Canadá, em Feijó (AC), começou a cortar seringa aos nove anos, casou e teve filhos ali, porém, as dificuldades de transporte para produtos que cultivava forçaram a mudança para o seringal Andirá (AM), que tinha escoamento para Rio Branco.
Mais de um século de história esteve reunido naquela solenidade, iniciada ao som do Hino Acreano. Em palestra com o tema “A Importância dos Seringais na Formação Histórica do Acre”, Marcos Afonso Pontes, diretor da Biblioteca da Floresta/FEM, fez a memória de fatos, legados, reflexos da presença e ação desses habitantes da floresta.
“Eu me sinto honrado por ter recebido o convite para estar aqui em Porto Acre nesta solenidade. Primeiro, porque minha família é daqui. Além disso, por estar sendo feita justiça a essas mulheres e esses homens. Estamos diante da verdadeira história viva”, disse.
Entre as emoções daquela noite, o encontro de Marcos Afonso com o tio Francisco de Sena Souza, o Cacique, trouxe recordações ao homem, que é visto como o carpinteiro da família e por ele próprio como “alguém que ama o lugar que habita”.
Das tantas menções ao passado que Cacique também viveu no seringal Pirapora, onde nasceu e ainda reside, destaca: “Quando o Marcos falou que as pessoas vinham para o Acre, para essa região, por causa de duas árvores, a seringueira e a castanheira, eu pensei que já havia sido derrubada mais da metade. É uma dor grande saber que toda aquela riqueza tenha sido destruída”.
A solenidade é o cumprimento da terceira etapa do projeto “Legados Fluídos Jamais Serão Esquecidos”, coordenado pelo historiador, Adalberto Fernandes Martins. A cada dois meses, um grupo composto por diferentes profissionais, moradores da cidade, organiza-se para homenagear pessoas de destaque histórico na cidade de Porto Acre ou no estado.