Como de costume, desde a última terça-feira, 17, os integrantes da Polícia Militar do Acre (PMAC) deixam o conforto de seus lares e avançaram para o serviço sob uma atmosfera de tensão e adrenalina. Dessa vez, além do habitual, o risco da própria vida, com a qual juraram proteger a sociedade, tem carga dupla, pois enfrentam também um inimigo próximo, mas invisível: a temida Covid-19.
Oficiais e praças, sejam do serviço administrativo ou que estavam à disposição de outros órgãos, em cursos de formação e até mesmo os que compõem a Banda de Música da PMAC, foram deslocados para reforço. Eles somam forças aos que já estão diuturnamente nas ruas, em ações que buscam conter a criminalidade, bem como a propagação do vírus. “A Polícia Militar está com toda a sua capacidade operacional nas ruas. Intensificamos o policiamento ordinário, estamos com um efetivo de, aproximadamente, 500 policiais por turno”, afirma o comandante-geral da PMAC, coronel Ulysses Araújo.
Na linha de frente desse combate, além da arma, colete e algemas, também fazem parte dos equipamentos de segurança, máscara, luvas e álcool, para proteção própria e dos cidadãos ao seu redor. Nesse contexto de pandemia, ressalvados casos com indicação para quarentena, toda a tropa é convocada e os policiais militares se tornam uma das classes mais vulneráveis a contrair o vírus, ao lado dos servidores da saúde.
Entre uma ocorrência e outra, o sargento Antônio Menezes higieniza a viatura e conta um pouco do trabalho. “Nosso serviço é essencial, temos que estar nas ruas, correr o risco. Claro que temos que tomar precauções. Com o decreto, tivemos que fazer o fechamento de igrejas, bares, restaurantes. Infelizmente, algumas pessoas ainda insistem em aglomerar”, relata o militar.
Diante do risco de entrada do vírus por meio de pessoas vindas de países vizinhos, barreiras sanitárias foram montadas nas divisas do estado, em conjunto com os demais agentes da Segurança Pública e da Saúde. Lá, eles fiscalizam e orientam pedestres, condutores e passageiros de veículos a evitarem trânsito, além de identificar possíveis casos de pessoas infectadas, e assim, evitar o aumento da transmissão comunitária.
O tenente-coronel Atahualpa Ribera, comandante do policiamento operacional (CPO I), explica que a Operação Saturação foi intensificada, além do policiamento com cerca de 40 motocicletas, diariamente, modalidades que podem atuar em todos os bairros, de acordo com a necessidade. “Temos um foco especial nesse período para os comércios, tendo em vista que estão fechados. Equipes especializadas estão trabalhando só nisso, principalmente no período da madrugada”, informa o oficial.
Mudanças na rotina
Medidas internas também foram adotadas pelo comando da corporação e estendidas às demais unidades, entre elas a suspensão de cursos e das tradicionais formaturas, reuniões matinais para hasteamento das bandeiras e a prática de educação física conjunta, assim como as habituais e reconfortantes orações de mãos dadas ou ombro a ombro entre os colegas.
Uma das preocupações do tenente coronel Edener Franco, comandante do Batalhão de Operações Especiais (Bope), é que não se tenha “baixas” de policiais por conta de possíveis contaminações. “Essas ações preventivas internas têm em vista minimizar as probabilidades de nossos policiais contraírem o coronavírus, o que reduziria nosso efetivo nas ruas”, explica o comandante.
Ansiosos pela formatura, até então prevista para o final deste mês, os 244 alunos do Curso de Formação de Soldados (CFSD) tiveram que adiar os festejos e sair às ruas em uma missão atípica: lutar contra um oponente que não se pode enfrentar com armas de fogo e algemas, como esperavam.
“É uma situação bem diferente, mas o curso prepara para nos adaptarmos rapidamente. Senti muito [o adiamento da formatura], mas por outro lado, está sendo bom, pois estamos ajudando a sociedade. Espero que tudo se normalize o mais rápido possível”, afirma o aluno soldado Diogo Monnerat.