Pesquisadores, empresários e representantes de instituições de pesquisa debateram cenário econômico do bambu no País
As pesquisas desenvolvidas com o bambu, a cadeia produtiva, os usos múltiplos e os mecanismos de incentivo ao cultivo deste vegetal estiveram na pauta de discussão do Segundo Seminário Nacional da Rede Brasileira de Bambu (RBB), realizado em Rio Branco, de 25 a 28 de agosto. Promovido pelo CNPq, o evento é executado pela Universidade de Brasília, em parceria com a Embrapa Acre, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae/AC) e Fundação de Tecnologia do Acre (Funtac), com apoio da Universidade Federal do Acre (Ufac), Governo do Estado e prefeitura.
Pesquisadores, empresários do ramo moveleiro e representantes de instituições de pesquisa e ensino, e ligadas à gestão ambiental de diversos Estados participaram do evento, debatendo e avaliando o cenário do desenvolvimento tecnológico e econômico do bambu e o aprimoramento e ampliação das atividades de pesquisa no País. O principal objetivo do evento é consolidar a Rede Nacional de Bambu, a partir dessa avaliação. Criada em 2006, a Rede tem a missão de promover o desenvolvimento tecnológico do bambu, a articulação de pesquisadores e instituições e viabilizar a construção de parcerias em diversos segmentos sociais e econômicos.
De acordo com o pesquisador Elias Miranda, as pesquisas realizadas pela Embrapa são fundamentais para fortalecer o funcionamento da Rede. Atualmente, a Unidade coordena a Rede Acreana de Bambu, oficializada e cadastrada no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq, no mês de Julho. "A certificação deste trabalho e a articulação em rede facilitam a captação de recursos para a realização de futuras pesquisas", diz.
Política Nacional
O Brasil possui a maior diversidade de bambu das Américas e o Acre ocupa papel estratégico neste contexto porque abriga uma das maiores reservas nativas do mundo, com mais de 600 mil hectares ocupados pela planta. No último sábado, 28, os participantes do Seminário visitaram o bambual acreano, localizado na Reserva Extrativista Chico Mendes, no município de Xapuri, para conhecer as espécies que compõem esta imensa mancha verde.
Um dos principais pontos abordados durante o Seminário foi a Política Nacional de Incentivo ao Manejo Sustentado e ao Cultivo do Bambu.
Resultado da articulação da Rede Brasileira do Bambu junto a parlamentares das diversas regiões, o Projeto de Lei foi aprovado em 2007, pela Câmara dos Deputados e aguarda votação pelo Senado, para posterior sansão governamental. A aprovação desta Lei atribui ao bambu ganha status de produto agrossilvicultural e garante a empreendimentos que tenham como principal atividade o uso da sua biomassa, o acesso às linhas de financiamento disponíveis para outras modalidades agrícolas.
Na opinião do professor Jaime Almeida, diretor do Centro de Pesquisa e Aplicação do Bambu e Fibras Naturais (CPAB/UnB) e coordenador do evento, dispor de uma legislação própria é questão crucial para o desenvolvimento de novas pesquisas e tecnologias para fortalecer a cultura. "O bambu desponta como uma alternativa sustentável no momento em que o mundo está em crise ambiental. A limitação da oferta de madeira certificada facilita a difusão do bambu no mercado para aplicação como matéria-prima principal e complementar à madeira", afirma.
Versatilidade
Matéria-prima de usos múltiplos, o bambu pode ser aplicado em atividades que vão desde a produção de alimentos, na forma de brotos, até sofisticados projetos de engenharia. Em países orientais e da América Latina é largamente utilizado na construção civil, artesanato, indústria moveleira, de celulose, setor energético e químico. Na China, uma das principais aplicações é na construção, inclusive em arquiteturas irregulares, por ser de fácil contorno, extremamente ecológica, forte, durável e de fácil transporte.
Esta versatilidade do bambu, conforme explica Almeida, ainda é pouco conhecida no Brasil. "A falta de conhecimento sobre as diversas possibilidades de aproveitamento do bambu e dos seus benefícios restringe a sua utilização à produção artesanal de móveis, em pequena escala, em algumas regiões. "Além disso, há uma certa resistência em relação ao uso deste material em determinados setores, mas este pensamento vem mudando em virtude da necessidade de alternativas sustentáveis de desenvolvimento", explica.
Uma alternativa promissora para o negócio do bambu é o mercado de aglomerados e laminados, cuja demanda vem crescendo nos grandes centros. As reservas naturais de bambu, encontradas no Acre, contêm as principais espécies com potencial econômico e representam uma extraordinária possibilidade econômica sustentável. As características da madeira fornecida por este vegetal favorecem uma produção mais limpa e barata, agregando aspectos sociais, econômicos e ambientais à produção.
De acordo com Aldemar Maciel, gestor de projetos do Sebrae, na Amazônia há uma conscientização crescente em relação ao aproveitamento do bambu e o Acre reside em um cenário promissor tanto pela grande oferta da planta como pelos trabalhos de pesquisa desenvolvidos. Em parceria com o governo do Estado e Embrapa, o órgão executa diversos projetos voltados para as indicações de uso, caracterização e identificação de espécies, ocorrência, manejo e conservação de bambuais. Essa grande oferta que ocorre naturalmente é uma vantagem competitiva para o Estado.
Segundo a pesquisadora Andrea Raposo, que coordena as pesquisas para conservação do bambu, na Embrapa Acre, esta é uma planta de difícil reprodução. "Algumas espécies levam entre 30 a 100 anos para florescer e produzir sementes e, quando isto acontece, aproximadamente 95% das sementes são inviáveis para plantio. "Nosso objetivo é estabelecer o cultivo in vitro para permitir uma maior oferta de matéria-prima sem recorrer aos estoques naturais, como forma de garantir a sustentabilidade da espécie", enfatiza.