Pesquisador libanês fará palestra sobre participação social no mundo digital

“É muito importante entender mundo o digital como um ecossistema e não só como uma tecnologia de que possamos nos servir para fazer circular a informação”, diz Hadi (Foto: Angela Peres/Secom)

“Eu acho que no ambiente digital há muitos riscos e desafios, mas oportunidades e vantagens no objetivo de construir uma nova comunidade, onde populações com dificuldades na vida podem achar espaço para falar, se reconstruir e sair das dificuldades deles.” Assim, Hadi Saba Ayon explica, em resumo, sua visão do mundo digital.

Doutor em Ciências da Informação e da Comunicação pela Universidade do Havre, na França, Hadi está com a família em Rio Branco, no Acre, e nesta quarta-feira, 27, fará a palestra “Da interação simbólica ao rastro digital: a arquitetura da informação para uma participação social em redes”. A conversa será às 15 horas, na Biblioteca Pública do Acre, centro de Rio Branco.

O teórico, que se denomina interacionista, está desde o fim dos anos 2000 estudando a relação de nossa sociedade com o mundo digital. Em 2014, após longo caminho de pesquisa e análises, finalizou seu doutorado com a tese “Rastros digitais, discriminação e recrutamento na Alta Normandia: a situação das pessoas com limitação funcional psíquica”.

Em seu trabalho, Hadi traça uma análise de como o ambiente digital pode se tornar uma ferramenta de inclusão social. “O mundo digital, como cultura, oferece facilidades para se distanciar da interação face a face e realizar uma nova comunicação baseada no gerenciamento dos rastros digitais”, explica Hadi, em artigo publicado pela Universidade Federal do Acre (Ufac), em 2015, na revista Tropos: Comunicação, Sociedade e Cultura.

Trajetória

Hadi, casado com a jornalista acreana Marie-Claire Feghali, trabalhou também como jornalista no Líbano entre os anos de 2005 e 2009, quando passou para o mundo acadêmico.

Em uma conversa com a Agência Notícias do Acre, na casa de familiares em Rio Branco, o pesquisador falou um pouco sobre o tema que abordará nesta quarta-feira, quando falará para um público diverso.

Apesar de ter uma pesquisa focada em pessoas com limitação funcional psíquica, Hadi, com sua voz suave e bem tranquila, apresenta uma imagem do mundo binário da web e informática um pouco mais ampla. Ele nos mostra o mundo digital como um ambiente sempre em mudança e com muitas possibilidades de aprendizado.

“Eu acho que a ideia de entender o digital, não só como uma tecnologia ou como um suporte, ou como mídia só para transferir a mensagem, falar de política e outras coisas, mas especialmente como um ambiente que nós precisamos construir, fazermos juntos. O digital é um ambiente onde nós moramos, temos nossas atividades e estamos aprendendo também”, declara.

Longe da generalização do debate, Hadi é seguidor da corrente teórica Interacionismo e faz questão de explicar que não tem uma resposta simplista para mudar o mundo, nem mesmo o digital, mas acredita na mudança pequena como motor para a construção de uma sociedade mais consciente. “Para mim, colocar essa energia em esforços pequenos pode ter consequência grandes e positivas sobre a vida individual e da comunidade”, explica.

Seguindo essa lógica, ele traz uma visão sobre a importância à coisa comum para quem está dentro desse ecossistema: “O digital nos ensina também que a informação é comum. Não vale a pena hoje esconder uma informação, porque nós moramos em um tsuname da informação. É muito difícil para nós hoje de escolher a boa informação e de saber o que queremos, estamos sendo bombardeados pela informação, todo o tempo e em todos os lugares”.

Com isso, Hadi quer nos demonstrar que a informação comum seria um “recurso gerenciado por uma comunidade de partilha que se auto-organiza para colocar esse recurso em bem comum, gerir as condições de acesso, e para proteger contra os vários riscos que a ameaçam”, como explica sua publicação para a Revista Tropos, da Ufac.

Para Hadi, abordar a informação neste contexto faz parte de uma estratégia de ação no mundo digital. “O mais díficil hoje é entender como escolher a boa informação e como vamos usar essa informação. A ideia do comum é importante para fazer dessa informação, uma informação comum. Não no senso de só compartilhar com os outros, mas no sentido de fazer uma memória”, explica.

Em um ambiente com tanta mudança e informação falsa e inútil, o pesquisador aponta a memorização de seu rastro digital uma importante atividade a se realizar na interação desse ecossistema cheio de códigos binários, que é a web. “É importante memorizar a informação boa e útil para ficar e ser usada pelos outros, porque também o digital nos ensina que deixamos muitos rastros digitais em todas as nossas atividades. Mas muito desses rastros ficam perdidos, é difícil de achá-los se a gente não organiza, seleciona, memoriza”, diz.

Durante a palestra, o público poderá se aprofundar ainda mais nesta web, que Hadi considera um ambiente no qual aprendemos e habitamos. “Saber criar e gerir a sua presença digital torna-se uma condição principal para morar no digital com os riscos mínimos possíveis”, alerta o autor.

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