Parfor e Proemat: o ensino superior como oportunidade de vida

Charles e Sarlene são dois dos formados do Parfor e Proemat no Alto Acre (Foto: Eduardo Gomes/SEE)

Ser professor na zona rural é um desafio mesmo para quem já mora nos seringais, colocações e assentamentos. Imagine então lecionar em uma escola distante 84 quilômetros de sua casa. Assim é a vida de Sarlene Oliveira, uma das formandas do curso de pedagogia oferecido por meio de uma parceria entre governo do Estado e a Universidade Federal do Acre (Ufac ) aos professores da rede básica dos municípios do Alto Acre.

Como sempre morou em Brasileia, ela nunca precisou deixar sua casa para estudar ou trabalhar. Foi na idade adulta que Sarlene percebeu que poderia fazer mais por aqueles que não têm as mesmas oportunidades de quem mora na zona urbana, por isso resolveu ingressar na carreira docente.

A jovem professora de 23 anos trabalha na educação desde que concluiu o ensino médio. Na bagagem traz a experiência de já ter atuado em salas de aula multisseriadas. Hoje Sarlene integra o grupo de alfabetizadores do Asinhas, a modalidade de alfabetização do Programa Asas da Florestania.

“Este é meu primeiro ano no Asas. Fui convidada a fazer parte este ano por conta da exigência da graduação e pela minha experiência. Já são seis anos trabalhando na educação rural. Comecei a trabalhar assim que saí do ensino médio”, disse.

A jovem professora é a primeira da família a concluir um curso superior (Foto: Eduardo Gomes/SEE)

Parfor

Os alunos da turma de pedagogia do Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (Parfor) no Alto Acre, da qual Sarlene fez parte, estudavam em período diferente do habitual. Os acadêmicos vinham para a cidade no período de férias do trabalho e permaneciam no campus da Ufac em período integral para adiantar os conteúdos das disciplinas do curso.

“Nós deixávamos as nossas escolas no período de férias e vínhamos para Brasileia. Estudávamos no horário em que poderíamos estar em casa, descansando e revendo a família. Essas dificuldades fizeram alguns desistir da graduação, mas 34 alunos da nossa turma conseguiram se formar”, lembrou.

Sarlene é a primeira graduada da família. Ela lembra que nunca teve condições de pagar uma faculdade particular e, por isso, resolveu aceitar o emprego em uma escola na zona rural.

“É uma adaptação difícil. Sempre fui acostumada a morar na cidade e ter tudo de que precisava. Quando você vai para uma comunidade de difícil acesso e sem parentes por perto, é muito mais complicado. Mas hoje tudo deu certo e eu digo com orgulho que sou a primeira pessoa a se formar na minha família”, destacou.

Charles viu no Proemat uma chance para a segunda graduação (Foto: Eduardo Gomes/SEE)

Proemat

Quem também concluiu a graduação, mas pelo Programa Especial para Formação de Professores de Matemática (Proemat), foi Charles Moreira. O profissional já era formado em pedagogia, mas não atuava na Educação.

O agora professor já trabalhou em diversas áreas. Foi garçom, agente de saúde, cozinheiro e auxiliar de serviços gerais. “A pedagogia te proporciona desafios diferentes. Na sala de aula você é um exemplo para os alunos, eles te veem como alguém em quem podem se inspirar”, afirmou.

Charles ressalta que há poucos profissionais dedicados às ciências exatas e que esse foi um fator determinante para que ele optasse pelo curso de matemática como segunda graduação.

Este ano ele iniciou a prática educacional no Instituto Odilon Pratagi, uma das escolas públicas mais tradicionais e disputadas de Brasileia. A instituição atende alunos do ensino fundamental 2, do 6º ao 9º, e da Educação de Jovens e Adultos (EJA).

“É uma experiência dignificante. Nós tivemos a oportunidade de nos formar aqui no município e já começamos a atuar nas escolas públicas. A matemática é uma das bases exigidas pelas avaliações externas e isso requer um compromisso ainda maior da nossa parte”, disse.

No último dia 27 de abril, governo e Ufac formaram novos professores (Foto: Eduardo Gomes/SEE)

Política de Estado

A formação em nível superior é um compromisso assumido pelo governo do Acre desde o fim da década de 1990. Primeiro o Estado graduou os professores que já estavam nas salas de aula mas que só tinham o magistério. Depois cursos em outras áreas do conhecimento foram ofertados aos profissionais da Educação.

“As parcerias da Ufac com o governo do Estado são permanentes. Temos formado turmas do Parfor e Proemat em quase todas as cidades do Acre. Com isso nós colaboramos para a melhoria da educação básica”, ressaltou Guida Aquino, reitora da Universidade Federal do Acre.

Em todos esses anos a Ufac atuou como parceira da iniciativa. SEE e Ufac se fizeram presentes por meio dos núcleos instalados em todas as regionais. Mais recentemente, outros cursos também foram ofertados, fruto de convênios com a Universidade de Brasília (UnB).

“Para que nós pudéssemos ter educação de qualidade, precisávamos ter também profissionais formados. Isso tem ocorrido ao longo dos anos de diversas maneiras, com parcerias entre o governo e instituições locais e de outros estados”, destacou o secretário de Educação e Esporte, Marco Brandão.

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