O fotojornalista ainda se emociona

A pandemia de Covid-19 mudou a rotina de muitos repórteres fotográficos. Diferente de outros profissionais da imprensa que escrevem, temos que ir às ruas para captar imagens. A regra é trabalhar de casa, no entanto, esse grupo de profissionais não tem esta possibilidade: fotojornalistas precisam estar nas ruas para registrar a crise de perto.

Estamos na linha de frente para levar imagens que retratem o que se passa no cotidiano das ruas, com a maior fidelidade aos olhos dos leitores que estão em casa.

Nesse momento saímos com uma pauta na cabeça, munidos com uma câmera, máscara e álcool em gel nas mãos. Na rotina do trabalho ficamos chocados ao nos deparar com cenas que vão de encontro às normas da Organização Mundial de Saúde: pessoas sem uso de máscara.

Numa linha temporal, a pandemia vai se apresentando, tomando forma e proporções gigantescas. Em 18 de março saí às ruas pela primeira vez para fotografar o Calçadão da Benjamim Constant, alguns comerciantes e vendedores de máscaras e o comércio de álcool em gel, não se percebia naquele momento uma real preocupação com a situação. Haviam apenas três casos registrados em Rio Branco.

Precisamente no dia 1º de abril, fotografei em Cruzeiro do Sul, na parte central da cidade, pessoas que agiam normalmente, sem nenhuma preocupação com a pandemia de Covid-19, todos também sem o uso da máscaras. Hoje, em Cruzeiro do Sul, já temos mais de 100 casos positivos.

No dia 14 de abril já haviam 99 casos positivos em Rio Branco, e a população se aglomerava nas filas da Caixa Econômica em busca de receber o auxílio emergencial do governo federal, porém nenhuma das pessoas usava máscara nem respeitava a distância estabelecida para sua segurança.

O momento mais tenso e angustiante ocorreu no dia 7 de maio, quando me vi frente a frente com a Covid-19. Seria realizada a transferência de pacientes graves do Pronto-Socorro para o Instituto de Traumatologia e Ortopedia. O dia estava frio e cinzento, impossível não sentir medo, o pensamento nas minhas filhas, mas faz parte da minha profissão, ser os olhos do leitor nas ruas.

O primeiro paciente surge no corredor em uma maca acompanhado pelos profissionais da saúde com todo zelo e amor ao próximo.

Segundo paciente a ser transferido parecia sentir muitas dores, nesse momento não aguentei, as lágrimas rolaram, mas continuei firme a fotografar, minha profissão é contar a história, registrar os fatos pela imagem.

Fazia muito tempo que não me emocionava numa pauta.

Em tempos de pandemia, quando temos muitas pessoas em um ambiente o risco de contaminação aumenta. Rio Branco tem hoje mais de 1.400 casos positivos da Covid-19.

A melhor forma de prevenção ainda é o isolamento social para minimizar a circulação do vírus, reduzir a incidência de episódios graves e, assim, não deixar o sistema de saúde entrar em colapso.

Fique em casa! Eu não posso, mas se você puder, fique!

Marcos Vicentti é repórter fotográfico da Secretaria de Estado de Comunicação.

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