O desafio de educar adolescentes em conflito com a lei

Há sete anos a professora Maria Ednilse de Souza da Pena, 35, mudou a rotina de trabalho. Diferentemente da maioria dos profissionais da educação, ela escolheu seguir carreira nas medidas socioeducativas. Ednilse está entre os 68 educadores que dão aulas a adolescentes privadas de liberdade no Acre.

No Acre, 68 professores dão aulas nas medidas socioeducativas (Foto: Assessoria ISE)

No Acre, 68 professores dão aulas nas medidas socioeducativas( Foto: Assessoria ISE)

A professora passa boa parte do dia trancada em meio a muros altos. Nas portas, grandes cadeados. Um agente socioeducativo sempre está por perto em caso de alguma situação de risco. E a turma de alunos dela é composta por jovens que já cometeram os mais diversos atos infracionais, que vão do furto ao homicídio.

Ednilse conta que pensar por esse lado às vezes soma um determinado peso. “É tanto que alguns professores preferem nem saber o ato infracional que o adolescente cometeu com medo de isso influenciar um pouco. Mesmo que a gente não queira mudar o tratamento, é natural do ser humano se sentir retraído. Aqui temos o cuidado de manter a relação professor/aluno”, destaca.

Dar aulas em Centros Socioeducativos definitivamente não é tão comum quanto ensinar fora desse local. No entanto, a professora garante que há uma chave para conseguir executar o serviço com zelo. “Para educar aqui é preciso ter amor pelas medidas socioeducativas, independentemente de qualquer ato infracional”, afirma.

A escolarização faz parte da rotina dos socioeducandos (Foto: Assessoria ISE)

A escolarização faz parte da rotina dos socioeducandos (Foto: Assessoria ISE)

Sobre o ambiente hostil em que os professores das medidas socioeducativas precisam trabalhar, Ednilse garante que essa questão não é problema. “Com o tempo a gente vai se adaptando e para mim é bem normal. Eu me sinto à vontade. Na minha concepção, o professor deve fazer a sua interação com o aluno independente do meio em que está. Portanto, se houver essa atenção com o próximo, mesmo entre muros, o profissional vai conseguir ministrar a aula e haverá a troca”, garante.

Entre os maiores desafios desses profissionais se destaca a tentativa de resgatar os valores perdidos. De acordo com Ednilse, a maioria dos adolescentes internados não teve uma base familiar sólida, nem mesmo carinho ou atenção dos pais. “Quando o aluno diz que não gosta de estudar, o trabalho é bem maior. Nesse momento, devemos incentivá-los e fazer com que eles compreendam que somente através do estudo poderão sair dessa vida, porque, infelizmente, o meio para o qual eles voltarão é o mesmo. É aí que entra a vontade de seguir caminhos diferentes”, aponta.

Compartilhe:

WhatsApp
Facebook
Twitter