O banco da praça

“Vou pedi-la em casamento hoje à noite, isso se eu não tiver um infarto antes. Nem na final da Libertadores eu estava tão nervoso. E ainda tenho que enfrentar o pai dela. Só Jesus na causa!”

“O meu netinho nasceu e é a coisa mais linda desse mundo. Assim que for possível, eu viajo para conhecer ele.”

“O meu filho conseguiu passar em um concurso público, e eu sei que isso é bom, mas não sei é se vou suportar ficar longe dele.”

“Agora que conseguiu o emprego, você vai poder investir naquele projeto de morar sozinho e criar um doguinho.”

“Olha, o acreano não pode ver um vento gelado que já corre para tomar tacacá. Essa fila está maior que a do banco e eu já estou com fome.”

Eu posso dizer que sou privilegiado por poder ouvir essas e outras conversas durante algumas tardes e noites. Sou um bom ouvinte, e fico entusiasmado a cada história interessante que ouço, mesmo quando não consigo saber o que aconteceu no final. Aliás, as melhores eu nunca soube como terminaram, mas isso não me impediu de torcer para que tudo desse certo. E assim é melhor, porque eu posso criar o final do jeito que quero.

Confesso que prefiro as histórias alegres, aquelas que deixam o dia ainda melhor. Certa vez presenciei um pedido de namoro – o garoto estava nervoso e tremia mais do que vara verde, mas seguiu. Ele carregava um buquê de rosas vermelhas e bombons, bem arrumado, seu cabelo estava penteado para trás e dava para sentir o perfume dele a várias quadras dali. A garota disse sim, e depois de um beijo de cinema, seguiram de mãos dadas para a sorveteria mais próxima.

Mas nem só de boas histórias se vive. Certa vez um garoto que aparentava ter entre 15 e 16 anos se sentou próximo a mim. Após alguns minutos sem nada dizer, deu início a choro intermitente. E apesar de não ter falado muita coisa, o pouco que disse foi suficiente para que eu pudesse imaginar o tamanho da sua dor: “A gente nunca sabe quando vai dar o último abraço, e infelizmente o tempo não volta.”

O que me deixa triste é não poder fazer nada além de ouvir. Às vezes as pessoas deitam sobre mim e não contam nada, mas as suas lágrimas dizem tudo. Até porque para um bom ouvinte, o silêncio também diz alguma coisa. E por falar em silêncio, ocasionalmente eu pude presenciá-lo, e na maioria das vezes foi tão forte que pude até senti-lo. Mas vamos seguir, afinal, não sou especialista em silêncio.

Há quem me ache um bom companheiro, afinal eu não faço distinção entre as pessoas. O meu entusiasmo é pelas histórias, por isso não me importo se você é rico ou pobre, se mora na rua ou tem muito dinheiro, o que importa é o que você vai compartilhar comigo. É obvio que não vou poder te aconselhar, e talvez nem possa ser o abrigo que você deseja, mas serei companhia no momento que você precisar.

E, por falar em entusiasmo, acho que me empolguei demais e acabei me esquecendo de me apresentar, desculpem-me:

– Prazer, eu sou o banco da praça.

Eu sei que no momento vocês não estão podendo ir até as praças para compartilhar suas histórias comigo por causa do isolamento social. E também sei que infelizmente não poderei saber como terminam algumas boas tramas. Mas acredito que esse período difícil vai passar, e a gente vai poder se encontrar de novo, em qualquer praça, em qualquer lugar e a qualquer hora, para mais uma das suas empolgantes histórias.

(Este texto é dedicado a cada uma das pessoas vítimas da Covid-19 que teve a sua historia interrompida, assim como às famílias enlutadas.

Com respeito, Disney Oliveira.)

Disney Oliveira é estudante de Jornalismo da Universidade Federal do Acre

 

 

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