O adultério representado na adaptação cinematográfica da obra A Letra Escarlate de Nathaniel Hawthorne

O livro A Letra Escarlate, do autor Nathaniel Hawthorne (1804-1864) foi publicado em 1850 e em 1995 foi lançado no Estados Unidos da América (EUA) a sua adaptação para o cinema. O filme, dirigido por Roland Joffé, teve em seu elenco estrelas como Demi Moore, no papel de Hester Prynne, e Gary Oldman, como Arthur Dimmesdale. Assim como no livro, o filme conta a história de amor proibida entre os protagonistas. Proibido porque Hester era uma mulher casada. Porém, isso não impediu que ela e Arthur tivessem uma filha. A narrativa explana como foi a vida de Hester após ser flagrada em seu adultério.

Ao chegar em Massachusetts Bay, na Nova Inglaterra de 1666, época da colonização dos Estados Unidos, HesterPrynne já gera burburinhos por ser uma mulher completamente independente, detentora de conhecimento e a frente do seu tempo. Mesmo casada com o doutor Roger Prynne ela se vê encantada pelo reverendo Arthur Dimmesdale que também se apaixona por ela. Os dois resolvem se afastar, mas tudo muda quando o navio em que Roger está é massacrado e Arthur precisa dá a notícia a Hester.

Os amantes apaixonados veem essa como uma oportunidade de ficarem juntos. De acordo com as leis sociais e vigentes da época, uma recém viúva deveria respeitar sete anos de lutos quando não houvesse prova concreta da morte do marido, como no fato aqui narrado, caso o período não fosse cumprido, a mulher seria fortemente julgada pela sociedade. Arthur e Hester não conseguem se conter e, na mesma noite, se entregam aos seus desejos.

É interessante pensar que no mesmo momento em que os amantes estão consumando o ato de seu amor, a escrava de Hester banha-se na tina de banho da patroa. E o jogo de câmera é feito lentamente nas duas cenas, mostrando que ambas – escrava e patroa – estão fazendo algo errado e, consequentemente, podem ser punidas por seus atos impensáveis. Após o acontecimento, Hester começa a apresentar sinais de gravidez e, por isso, é levada a julgamento. Sob ameaça de enforcamento, ela não revela que Arthur é o pai da criança e, assim, enfrenta as consequências sozinha.

Durante o julgamento é possível ver que os homens não sabem qual sentença aplicar à mulher, já que não existe uma pena para uma mulher que engravida após a morte do marido. Arthur, que assiste a todo o julgamento, parece querer assumir, porém Hester não permite, pois ela sabe que, segundo as leis, ele seria enforcado acusado de fornicação. Assim, ressaltando o machismo vigente na época, a mulher é presa, mesmo que não possa ser acusada de nenhum crime. É notório que Hester será usada como exemplo para a outras mulheres do povoado, um aviso do quanto elas serão humilhadas caso comentam o mesmo “crime/pecado”.

Mesmo que Arthur insista em contar a verdade, de que ele é o pai do bebê, fica claro que ele teme a vergonha, o julgamento e um possível enforcamento. Deixando para Hester carregar o fardo mais pesado. Ela, mesmo após cinco meses presa, insiste em continuar calada e acaba dando à luz na prisão. Arthur consegue, junto ao govenador, com que a mulher seja solta, mas não consegue livrá-la da censura. Mais uma prova do quanto o machismo era presente na época é a de que uma mulher, esposa do governador é quem o aconselha a obrigar Hester a andar com um grande ‘A’ em suas roupas, para que todos soubessem que ela é uma adúltera e, assim, a ignorassem  e rejeitassem.

Após voltar para casa, Hester descobre que o marido Roger está vivo e completamente insatisfeito com a situação. Por isso, ela pede que Arthur fuja para evitar que eles sejam enforcados acusados de adultério. Ao sair na rua, Hester era acompanhada de um menino que batia um tambor para anunciar que ela estava passando. Ao ouvir as batidas, toda a comunidade passava a xingar e ofender a mulher. Em uma parte do filme, Hester chega a questionar se vale a pena ser mulher. Ela se sente julgada e rebaixada apenas pelo seu gênero.

Outro ponto marcante é como os homens se utilizam da religião para justificar o adultério de Hester, por muitas vezes eles dizem que o pai do bebê é o próprio Lúcifer e sempre que ela ou outra mulher expressam a sua opinião, logo levanta-se a suspeita de bruxaria. Em um julgamento de bruxaria, Roger, fingindo ser outra pessoa, diz que a filha ‘bastarda’ da mulher é uma filha do demônio, pois contém um sinal da barriga e, segundo ele, aquela seria uma marca de bruxaria.

Ao fim do filme, Roger se suicida e Hester consegue a felicidade junto a Arthur e sua filha. Portanto, pode-se concluir que, naquele período, a mulher era humilhada apenas pelo fato de ser mulher, não importando se tivessem cometido crime, ela seria julgada pelas leis dos homens e pelas leis de Deus.

Emily Vitória é repórter da Secretaria de Estado de Comunicação no município de Cruzeiro do Sul 

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