Minutos Antes

Minutos antes – um conto para refletir

Olá, me chamo João. Parei para escrever esta carta porque de repente me senti estranho, mas nem sei como explicar. Na verdade, durante uma de minhas reflexões, percebi que já estou estranho há um bom tempo, no entanto será que ninguém mais percebeu isso?

Eu tenho tantos amigos, familiares maravilhosos, mas nos últimos meses não tenho me relacionado com eles como antes. Às vezes acho que eles se esqueceram de mim. Ou será que fui eu que me distanciei? Essa é uma grande dúvida que me corrói por dentro. Parece que não tenho força.

Não quero mais sair de casa para ir trabalhar, estudar ou conversar com os amigos, só vou por obrigação. Quando estou em casa, me tranco no quarto e fico horas deitado olhando para o nada, pensando em tudo que fiz, tudo que faço e tudo o que poderia fazer. O ápice de todos esses pensamentos é o momento em que me encontro com meus erros, com minhas falhas. Meu Deus, como tenho falhado, como tenho errado. Será que algum dia serei capaz de corrigir tudo?

Quando me dou conta de mim, já estou chorando. Então eu penso: eu não posso, não posso chorar. O que vão pensar de mim? E se alguém entrar? E se meus pais me encontrarem nessa situação, e se… e se… Esses “e se” vão me empurrando ainda mais para um buraco que parece não ter fim. Parece que a cada momento que passa, a cada dia que passa, a dor só aumenta. É uma dor que vem de dentro, não sei como explicar.

Você pode até me olhar, analisar e não conseguir enxergar, mas aqui dentro dói, parece que sangra. É como se eu estivesse sendo consumido por algo que levará de mim até o meu último fôlego, meu último suspiro. Definitivamente, já não tenho mais forças. Eu decidi que não dá mais, não posso ver tudo isso acontecer e ficar parado.

Estou escrevendo esta carta minutos antes. Já é tarde. Talvez quando meus pais entrarem no quarto e lerem estas palavras, eu já terei fechado meus olhos. Eles tentarão me acordar, mas outra vez não serei mais o mesmo João. Eu decidi. Decidi dizer não. Não para a depressão, não para o isolamento, não para os pensamentos que me afundam num mar de dor e sofrimento. Eu vou abrir meus olhos e com a minha boca vou dar um grito de socorro. Posso não ter força, mas de algum lugar essa força surgirá.

Eu me chamo João e não vou ficar aqui assistindo a vida passar. Eu vou lutar.

 

Elenilson Oliveira, servidor público da Assessoria de Comunicação do Iapen, jornalista e estudante de publicidade e propaganda

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