Senadora e ex-ministra participa do Fórum Social Mundial e faz avaliações sobre as crise econômica e ambiental, da Copa 2014 e da candidatura de Tião Viana à presidência do Senado
A senadora Marina Silva concedeu entrevista à Rádio Difusora Acreana nesta sexta-feira e falou dos eventos de que participa no Fórum Social Mundial, em Belém, como palestrante e ouvinte. Marina diz que é necessário o estabelecimento de uma nova relação com o meio ambiente na luta para evitar que o pior aconteça. A senadora diz que tanto a crise econômica que se agrava no mundo todo quanto a crise ambiental são temas de relevância e devem ter igual prioridade nos debates. Ela também falou sobre outros temas. Veja a entrevista concedida ao jornalista Júnior César:
A senhora destacou a importância de se pensar em uma educação comprometida com o desejo de ensinar e aprender. Quais ações se podem ter nesse sentido?
Marina: O Fórum aqui é um conjunto de atividades e essa daí fez parte das atividades pré-Fórum que foi a palestra sobre a educação para uma nova visão civilizatória. Participamos eu, o Frei Leonardo Boff e o professor Moacir Gadotti. O que foi enfatizado lá por mim e por eles é que é necessário que se tenha cada vez mais um olhar para a educação de forma transversal, onde o tema do meio ambiente possa perspassar os demais conteúdos que ensinamos na sala de aula, mas também um processo de desadaptação criativa.
Nós fomos adaptados a pensar a Natureza como se ela fosse infinita e como se pudéssemos fazer com ela o que bem entendêssemos, e agora vamos ter de desadaptar dessa visão e construir com ela uma relação de respeito porque o que fazemos com ela será devolvido a nós e que os recursos naturais são finitos e estão sendo já escassos. Hoje nós já esgotamos a terra 30% a mais do que ela pode suportar.
A senhora acredita que com essa visão a crise ambiental deve ter uma atenção maior que a crise econômica?
Marina: As duas precisam de atenção. O que não pode acontecer é cuidar da crise econômica querendo passar por cima dos desafios ambientais. Mais de treze eventos que eu já participei (no Fórum Social Mundial) no fórum de educação e de saúde, juventude, fé e política, segurança alimentar, um conjunto de atividades ao longo destes dias bastante intensos e com uma presença muito significativa de pessoas eu tenho entendido que as duas crises devem ser tratadas com igual prioridade.
A crise ambiental é mais grave do que a crise econômica. Sem ela nós não vamos ter como dar conta do grande desafio de se desenvolver as condições necessárias para os mais de seis bilhões de seres humanos do planeta. Nós já estamos à beira de situações muito graves. Um estudo feito pelo Inpa dá conta de que se a Amazônia continuar nesse ritmo de destruição para os próximos trinta anos vamos ter uma perda de cerca de um trilhão de dólares para os países da América do Sul. E vamos ter graves problemas com precipitações de chuva nas regiões Sul e Sudeste com graves prejuízos sobretudo para a agricultura.
De sorte que cuidar das duas coisas ao mesmo tempo, com o mesmo nível de prioridade sem querer passar por cima do dever do que precisa ser feito tanto pelos países desenvolvidos quanto pelos em desenvolvimento. E é interessante que essa discussão esteja sendo colocada no Fórum pelos diferentes segmentos, que eles estejam tendo essa reflexão.
Quais os reflexos da crise ambiental para a Amazônia?
Marina: Um dos graves problemas em relação à Amazônia é o que os pesquisadores estão chamando de processo de savanização, a Amazônia se transformar em savana. A Amazônia produz cerca de vinte bilhões de toneladas de água por dia, é responsável por 26% de toda a água doce que é lançada nos oceanos, e é aquilo que o pesquisador Antônio Nobre chama de "a maior caixa d´água existente no planeta".
Para nós, as graves conseqüências será de perdas da biodiversidade, ecossistemas inteiros e provavelmente com conseqüências para a saúde, para as populações, agriculturas, para as diferentes atividades…aumento dos incêndios, problemas em relação ao período de chuvas que vai se tornando cada vez mais escasso. Com isso a umidade vai ficando cada vez menor, aumentando o risco dos incêndios se tornarem mais prolongados.
Na semana que vem a comissão da Fifa estará no Acre. A senhora é presidente do Comitê do Legado da Copa 2014 e vem acompanhando a campanha do Acre. Que resultado podemos esperar dessa visita?
Marina: Primeiro, o trabalho que vem sendo feito pela equipe do Acre, pelo governador Binho jntamente com seus assessores, o ex-governador Jorge Viana, tem sido muito gratificante porque o Acre já está na final com aqueles que serão escolhidos para sediar os jogos da Copa. Em se tratando de um Estado da Amazônia que muitos acham que é pequeno, chegarmos até até é motivo de muita alegria para todos nós.
Essa visita se reveste de uma importância altamente relevante porque a comissão irá verificar a capacidade técnica de suporte para uma atividade dessa envergadura. Nosso estádio já foi construído de acordo com os padrões da Fifa, o projeto que nós apresentamos no último dia 15 de janeiro juntamente com nosso técnico responsável, que é o arquiteto Volpato, Cassiano, eu, Jorge Viana, é altamente inovador. Talvez possamos dizer é um dos projetos mais avançados em termos de um campo de futebol e toda infraestrutura que precisa ser levada à cabo para poder dar conta de recepcionar um evento dessa magnitude.
Nós vamos desdobrar tecnicamente agora tudo isso que está no projeto que foi protocolado no último dia 15 lá no Rio de Janeiro.
O PSDB decidiu apoiar o senador Tião Viana na disputa pela presidência do Senado. Como a senhora está vendo esse processo de eleição no Senado?
Marina: Vejo como muito positivo. É a oportunidade de termos uma inovação na composição da Mesa, ainda que o senador Tião Viana seja da base do governo ele tem a clareza de que são poderes independentes e que temos de resguardar a autonomia desses poderes. Acredito que há de se ter uma valorização significativa para os processos legislativos que têm iniciativa na própria Casa não tenho dúvida de que o senador Tião Viana vai dar uma grande contribuição. O apoio do PSDB é importante.
Nossa bancada vai ter uma reunião no dia 1º, domingo, para avaliar como está nossa candidatura e espero que a gente possa fazer frente à essa disputa à altura do desafio, que é do ter uma Casa, uma direção que faça o devido balanço: se a Câmara dos Deputados vai ter alguém do PMDB é justo que no Senado haja uma mudança para que não tenhamos dois presidentes do mesmo partido e pela proposta que o senador está propondo junto com outros colegas que é de o ver o Senado da República debatendo os grandes temas. É preciso que se tenha um olhar sobre essa crise econômica, sobretudo sobre a crise ambiental. Há um movimento no Congresso de querer revogar o Código Florestal, passar por cima dos processos de licenciamento e é preciso que o presidente do Congresso tenha uma atitude em relação aos problemas. Precisamos de projetos de desenvolvimento mas sem passar por cima dos interesses da proteção do meio ambiente, sobretudo no que compete a Amazônia.