Mais de 30 anos depois, turista volta ao Acre e relata suas impressões

Lourenço visitou o Seringal Cachoeira, em Xapuri (Foto: arquivo pessoal)
Lourenço visitou o Seringal Cachoeira, em Xapuri (Foto: Elson Martins)

Quem não tem curiosidade de saber como é visto pelos demais? Afinal, o olhar do outro sempre traz alguma informação, seja sobre a gente mesmo ou sobre esse outro. “Aqui o povo é muito espontâneo e não tem medo de se expor, de tirar foto. No meu estado, as pessoas não permitem ser fotografadas na rua por um estranho, como fiz estes dias, sem problemas”, observa Lourenço Chacon, paulista em sua segunda visita ao Acre. A amabilidade do acreano também não passou despercebida: “O pessoal é muito afetuoso”, diz.

Lourenço veio, antes, em 1982 ao estado. E ficou surpreso com as mudanças que encontrou agora em Rio Branco. “Naquela época, quando a rua tinha asfalto, nem chegava até a calçada. Agora tudo é muito mais limpo e organizado, a cidade gera uma sensação de bem-estar”, avalia. E constata que o espaço público, nas avenidas, ciclovias, parques e praças, também está sendo ocupado pelas pessoas.

Elogiou o Novo Mercado Velho, “antes era detonado”, e se admirou com as instalações e a proposta da OCA, central geral de atendimento ao cidadão. Na Usina de Arte, gostou de ver “a molecada fazendo cursos, oficinas de teatro, adolescentes gravando documentários e editando vídeos”. Já na Biblioteca da Floresta, se surpreendeu com a qualidade da atenção dispensada pelos jovens monitores aos visitantes da exposição permanente.

Faz uma ressalva, entretanto, a ser tomada como lição de casa pelos gestores públicos: o excesso de poluição visual. Cartazes demais, placas demais, informações demais, o que enfeia qualquer cidade.

Em Xapuri, visitou o Seringal Cachoeira e percorreu trilha na mata com grupo guiado por Nilson Mendes, primo de Chico Mendes: “Ele tem conhecimento sobre a floresta e sabe relacionar esse saber com outras realidades”, avaliou. Conheceu também a indústria de preservativos Natex, a primeira do mundo que utiliza látex de seringais nativos, gerando fonte de renda para as comunidades extrativistas locais e empregos diretos na cidade. “Me emocionou o depoimento de um funcionário da fábrica que, como muitos acreanos com quem conversei, mostrou grande envolvimento com o próprio trabalho. Ele me disse que se sente contente em trabalhar na produção de algo que evita doenças”, relata.

A "baixaria" é prato da culinária acreana (Foto: Patrycia Coelho)
A “baixaria” é prato da culinária acreana (Foto: Patrycia Coelho)

Lourenço também conheceu a culinária acreana: “Baixaria? Achei o máximo”, diz, sobre um dos pratos mais tradicionais do desjejum no estado. Para quem é de fora e não conhece a composição: cuscuz de milho, carne moída refogada e ovo frito, temperados com tomate picado e cheiro verde – que na Região Norte não leva salsa, mas coentro. “Adorei os peixes e o mingau de banana também”, acrescenta.

Um turista em busca da cultura popular

Turista habitual e fotógrafo amador, Chacon, que é pós-doutorado em linguística e dá aulas na Unesp, em Marília (SP), gosta de viajar, se possível de carro, “para poder ir parando e conhecendo melhor”. Seu foco, além das paisagens naturais, são os modos de ser do povo, os trabalhadores, a produção artística regional e a estética arquitetônica. Em suas imagens (veja galeria abaixo), lança olhares para além dos cartões postais previsíveis, retratando os aspectos pitorescos da cultura.

E já planeja a terceira vinda ao Acre: ainda este ano quer ir ao Vale do Juruá, ao noroeste do estado.

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