Memória preservada

Livro Pássaro Sem Rumo marca a trajetória da principal testemunha da morte de Chico Mendes

O olhar cabisbaixo e a voz serena de Genésio Ferreira da Silva não revelam sua importância histórica. Aos 13 anos, ele foi a testemunha-chave do assassinato de Chico Mendes, algo que mudaria sua vida por completo e que agora, aos 42 anos, ele relata no livro “Pássaro sem Rumo – Uma Amazônia Chamada Genésio”, lançado na tarde desta terça-feira, 19, na Livraria Paim, como parte da Semana Chico Mendes.

Genésio durante lançamento do livro Pássaro Sem Rumo, na Livraria Paim (Foto: Alexandre Noronha/Secom)

“Só depois que eu dei meu depoimento que caiu a ficha e eu percebi que eu estava com a vida complicada. A minha vida anda ainda muito perturbada, mas eu trabalho pra isso, pra buscar um futuro melhor. Por isso esse livro tem o nome de Pássaro Sem Rumo, porque depois disso, esse pássaro voou e ficou sem rumo. Eu estive em vários estados, várias regiões, não me adaptei e tô retornando ao Acre procurando um cantinho que eu crie raiz”, conta Genésio.

Escrito à mão por Genésio, o manuscrito original apresentava 365 páginas frente e verso, contando sua história e como acabou envolvido na condenação dos criminosos responsáveis pelo assassinato do líder seringueiro e ambientalista, Chico Mendes, em 22 de dezembro de 1988, em Xapuri.

O livro ainda vai além, revelando um Genésio que precisou sair de Xapuri devido às ameaças após o julgamento e andou por diversos estados, iniciando pelo Rio de Janeiro, sempre com dificuldades de se enraizar.

“Acredito que eu faço parte da história do Acre, do Brasil e talvez até pro mundo. Eu levei seis meses pra escrever essa obra e não encontrei dificuldades, porque quando a gente tem a verdade em mente, é só por em prática”.

Parcerias únicas

Escrito à mão por Genésio, o manuscrito original apresentava 365 páginas frente e verso (Foto: Alexandre Noronha)

Publicado pela Editora Instituto Vladimir Herzog, o autor dispôs do apoio e colaboração do jornalista acreano Elson Martins. Outro ilustre colaborador na consolidação da obra foi o jornalista e escritor brasileiro, Zuenir Ventura, que esteve no Acre em 2004, e descobriu manuscrito.

“Quando eu peguei o manuscrito, eu acho que eu li numa noite e meia. Eu fiquei tão absorvido pela história com muita verdade, muita transparência, muito tocante, cheia de situações inusitadas. E aí eu falei pro Zuenir: ‘Eu acho que nós estamos com um best seller nas mãos’”, relata Elson Martins.

Elson foi o responsável pela digitalização e edição de parte do livro e ressalta que é “uma descrição da vida na fazenda [do mandatário do assassinato], a relação entre a família violenta, tudo escrito de forma muito perfeita e memória prodigiosa”.

Pássaro sem Rumo – Uma Amazônia Chamada Genésio tem 240 páginas e já está disponível para venda na Livraria Paim ao preço de R$ 50.