O sonho de inovar e empreender contagia os jovens Eliezio e Genildo Moura, primos e parceiros na arte da marcenaria. Dividindo os dias entre trabalhar na empresa de um dos tios e terminar a faculdade, a dupla percorreu um caminho de ensinamentos que os levaram a montar o próprio negócio.
Instalados há menos de um ano no primeiro galpão do Polo Moveleiro de Cruzeiro do Sul, os empreendedores tocam a empresa Móveis Araújo com planejamento de modernização e já realizando boas vendas até para outros municípios. “Ser empreendedor significa fazer diferente. É montar uma empresa que possa mudar o sistema marceneiro aqui em Cruzeiro do Sul”, afirma Eliezio.
Depois de um ano em um espaço alugado em um bairro residencial, conseguiram o galpão em que estão instalados atualmente. Um importante apoio para a decisão de seguirem em um empreendimento próprio, foi o curso que Genildo fez com professores italianos. Por seis meses, ele estudou conceitos da Scuola Politecnica di Design (Escola Politécnica de Design), de Milão na Itália, por meio de uma parceria com o governo do Estado, construído pela primeira-dama Marlúcia Cândida.
“Fiz vários cursos. Fiz um de design, com professores de Milão, que me incentivou muito. Foi aí que deu a partida para tudo e construir nossa empresa, ficamos com outro olhar para o ramo”, afirma Genildo, sentado em meio às máquinas. Ao lado, Eliezio complementa, com o espírito de inovação: “Existe uma forma diferente de a gente trabalhar. Temos uma boa mão de obra e o conhecimento de 20 anos na profissão, assim fomos montando uma estratégia. Estamos no início do que a gente quer, mas vamos modernizar e fazer diferente.”
Aplicando sua experiência de vida aos conceitos que aprendeu no curso, Genildo explica como essa relação está influenciando os trabalhos: “O design italiano é bem moderno. Eles ensinam para nós que é importante estudar as coisas que tem em nossa região, estudar nossa cultura. Assim trabalhamos o design em cima disso, estudando ribeirinhos e seringueiros para produzirmos tudo com nossa identidade”.
Cultura do seringal
A identidade amazônica está no sangue e nos corações de Genildo e Eliezio. Os dois nasceram na comunidade Paraná dos Mouras, antigo seringal próximo a Cruzeiro do Sul. Desde novos, viviam entre o trabalho no roçado e os estudos. Na adolescência, na cidade, continuaram a relação estudo e trabalho, agora na marcenaria. “Quando vim para a cidade, entre um estudo e outro comecei a carregar o pó de serra na marcenaria do meu tio, e assim fui aprendendo”, relata Genildo.
A trajetória levou esses meninos a construírem uma determinação necessária para os bons negócios. Com a experiência que adquiriram tanto nos anos de trabalho, quanto nos cursos e nas conversas com os mais velhos, como o marceneiro João Evangelista, montaram sua estratégia de mercado. “A gente pensa primeiro em deixar de trabalhar por encomenda, em seguida produzir os móveis em série e buscar mercado fora de Cruzeiro do Sul, também”, explica Genildo.
Eliezio complementa, explicando alguns outros passos que pretendem seguir, ainda com conselhos de Evangelista. Pretendem organizar e deixar o local de trabalho livre do pó de serra e investir em novas tecnologias: “Como trabalhamos com madeira e vemos o trabalho do MDF chegando, planejamos abrir um novo galpão para trabalharmos separado as duas modalidades. Ainda existe a forma de atendimento. Com um espaço mais organizado e um investimento em tecnologia 3D”.
A raiz acreana da determinação
Os dois jovens são exemplos do resultado de um conjunto de políticas públicas do governo do Estado para o setor moveleiro. As ações, organizadas a partir de 2011, vão desde o licenciamento e regularização dos marceneiros, que saíram da ilegalidade e, atualmente, só utilizam madeiras certificadas; a possibilidade de venda para o poder público com a lei estadual 2.441; parceria para aprimoramento técnico com a Escola Politécnica de Design, de Milão e a construção e ampliação de oito novos polos moveleiros em todo o estado.
O marceneiro acreano agora tem orgulho do sua profissão, trabalha com dignidade e totalmente dentro da lei. “Rapaz, tanto eu como o Eliezio temos tanto amor a essa profissão, que mesmo formados no ensino superior, não passa pela cabeça exercer nada fora da marcenaria”, revela Genildo.
“Passa um filme pela minha cabeça. Comecei a trabalhar com 11 anos na marcenaria, mas também ajudava meu pai na roça e fazendo farinha. Lembro de toda minha trajetória, trabalhando como funcionário e hoje poder ter minha empresa me faz sentir realizado”, ressalta Genildo, determinado em continuar a construir sua história, seguindo suas fortes raízes nas tradições acreanas.