Plateia ansiosa, júri atento, tapete vermelho, decoração a caráter, candidatas produzidas. Toda essa atmosfera para o concurso que elegeu, nesta quinta, 31, a mais bela presa, K. A. N., 25 anos e o mais belo preso trans, K. G. M., 24 anos, do sistema prisional do Acre, com o hall de entrada do pavilhão feminino do Complexo Penitenciário de Rio Branco transformado num palco harmonioso em defesa da oportunidade e do recomeço.
Para tanto, o governo do Estado, por meio do Instituto de Administração Penitenciária (Iapen), convidou para parceria o Tribunal de Justiça e o Ministério Público, por meio da Vara de Execuções Penais; a Defensoria Pública; a Ordem dos Advogados do Brasil; o Rotary Club; a Secretaria de Empreendedorismo; e a Federação da Indústria, todos compartilhando a ação de entretenimento como estímulo à ressocialização.
A estratégia foi primar pela valorização da mulher, utilizando todo o mês de março para desencadear ações de caráter artístico, cultural, de lazer, de saúde, de assistência jurídica e social junto às detentas do sistema prisional de todo o estado. Assim, o concurso para eleger a mais bela detenta fechou com grande destaque toda essa programação realizada no mês dedicado à mulher.
A gerente de reintegração do Iapen, Liliane Moura, enumera avanços na garantia dos direitos das pessoas do sistema prisional, pois 252 mulheres no estado passaram por atendimento jurídico, tiveram assistência religiosa, material, qualificação profissional, palestras de reforço à reintegração social e diminuição nos índices de reincidência, atividades físicas, de lazer, além desta atividade de resgate da autoestima.
“A parceria fortalece uma ação como esta, que muda realidades para melhor e pode, sim, transformar vidas”, defendeu Liliane Moura.
Antes do anúncio dos vencedores do concurso, a coordenação do evento prestou homenagens às policiais penais responsáveis pela guarda no pavilhão feminino, atendendo a pedidos das detentas, em reconhecimento ao trabalho ético e humano desenvolvido na unidade prisional. Representando as policiais, a chefe da equipe, Silvânia Fontenele, reconheceu a importância da ação que tem a ressocialização como foco principal, partindo do princípio de que toda mulher gosta e precisa se sentir bonita.
“Todas merecem oportunidade e esperança, com ações concretas, de que além dos muros tem uma vida lá fora esperando por elas”, reforçou Silvânia.
O concurso para eleger a mais bela detenta está em sua segunda edição e contou com a parceria da Fundação Elias Mansour (FEM). Foi suspenso nos últimos dois anos por causa da pandemia, sendo retomado a pedido das próprias presas. Contou com a participação de 18 candidatas mulheres e oito homens trans.
As atividades preparatórias das candidatas primaram pela inclusão social, com palestras para o despertar da autoestima, enfatizando a conquista da liberdade, mudanças de hábitos. Também foram ensinadas técnicas de passarela, postura, expressão corporal e facial.
O vencedor como mais belo homem trans disse que se sentiu valorizado, especial, estimulado a nunca mais cometer os erros que o levaram à prisão.
A vencedora como a mais bela detenta feminina reconheceu que toda mulher quer se sentir bonita, ouvir que está linda, que é capaz de ter oportunidade de uma vida longe do crime.
No que se refere à criação de oportunidades, por meio do concurso foi firmada uma parceria com uma designer de sobrancelhas, para ofertar um curso gratuito com 100 vagas para as detentas.
O governo do Estado, por meio da Secretaria de Empreendedorismo e Turismo lançou, em 2021, o Projeto Empreender para Crescer, visando capacitar ex–detentos (as) e internos para gerar renda com o artesanato em fabricação de biojoias.
“Reafirmamos o compromisso da continuidade desse projeto para o ano de 2022, sabendo que muitas pessoas poderão conseguir seu sustento e de sua família por meio do artesanato”, destacou Suelany Paiva, coordenadora Estadual do Artesanato do Acre, enfatizando que, durante o desfile, as presas utilizaram as peças confeccionadas no projeto.