Governo transfere quatro indústrias para cooperativa de trabalhadores da floresta

Governador transferiu quatro indústrias para a Cooperacre, cooperativa que agrega mais de duas mil famílias de trabalhadores (Foto: Sérgio Vale/Secom)
Governador transferiu quatro indústrias para a Cooperacre, cooperativa que agrega mais de duas mil famílias de trabalhadores (Foto: Sérgio Vale/Secom)

A velha imagem das balsas partindo carregadas com a castanha produzida no Acre para ser beneficiada em outros estados não vai mais se repetir. Foi sepultado o tempo em que suor dos extrativistas das florestas acreanas não era valorizado.

Agora a castanha-do-brasil continua deixando o estado, mas dessa vez após passar pelo processo de beneficiamento, com valor e orgulho agregado. Hoje o fluxo é outro – o Acre compra castanha para beneficiar e vende para outros estados.

Para coroar a vitória dos extrativistas – agora organizados em cooperativas que reúnem mais de duas mil famílias em vários municípios -, o governo do Estado, reconhecendo a força e o empenho dos trabalhadores da floresta, transferiu para a Cooperativa Central de Comercialização Extrativista do Acre, a Cooperacre, três indústrias de beneficiamento de castanha (Brasileia, Xapuri e Rio Branco) e uma de processamento de borracha (Sena Madureira).

Governador Tião Viana concretizou o sonho de Chico Mendes ao transferir para os extrativistas as indústrias de beneficiamento de produtos florestais (Foto: Sérgio Vale/Secom)
Governador Tião Viana concretizou o sonho de Chico Mendes ao transferir para os extrativistas as indústrias de beneficiamento de produtos florestais (Foto: Sérgio Vale/Secom)

“A assinatura dessa lei é a realização do sonho de Chico Mendes. Quando ele lutou para a floresta ficar em pé, queria que os frutos dessa floresta pudessem gerar riqueza para os que moram na floresta. E não dá para gerar essa riqueza se não tivermos condições de agregar valor aos produtos da floresta”, disse o secretário de Indústria e Comércio, Edvaldo Magalhães.

A solenidade foi no pátio da maior e mais moderna fábrica de castanha-do-brasil, que será entregue oficialmente em março, com todo o maquinário. Serão necessárias 500 mil latas de castanha para fazer a indústria funcionar.

Vitória do homem da floresta

O governador Tião Viana falou sobre o bonito momento que significou a solenidade. “Sempre sonhei mostrar que é possível quem mora no campo viver melhor do que quem mora na cidade. É assim na Europa, e essa simbologia de hoje demonstra tal possibilidade”, afirmou.

Na hora que o produtor colhe o produto na floresta também participa como sócio numa indústria de ponta. Essa é a construção de uma economia capaz de gerar riqueza e distribuir renda”, disse o governador.

“Não foi fácil aprovar uma lei que desse aos trabalhadores essas quatro indústrias, um investimento de R$ 25 milhões. Eles preferiram prejudicar duas mil famílias, e essa é a parte ruim da política”, pontuou o vice-governador César Messias, referindo-se às dificuldades para aprovar a lei na Assembleia Legislativa.

Lourival Marques, secretário de Produção, anunciou a aquisição de 250 mil mudas de seringueira, que serão entregues aos produtores rurais.

Seringueiros comemoram o reconhecimento

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Raimundo Mendes de Barros, o “Raimundão”, primo do sindicalista morto

“Admito que não tenho palavras para dizer o tamanho do significado de um encontro como este, por ser tão rico e de um valor tão grande. Esse encontro só é possível acontecer graças a essa luta que se iniciou na década de 70, com o companheiro Chico Mendes. A luta era tão justa que foi possível construir um governo neste estado que tem valorizado e reconhecido esse trabalho. Tem um significado histórico esse encontro.”

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Manoel da Gameleira, diretor da Cooperacre

“A castanha ia para Belém [Pará], e agora ela vem para o Acre. Ela não sai mais daqui para ser vendida lá fora. Agora é o contrário. Eu hoje agradeço aos companheiros que estão à frente do governo. Foi uma luta nossa botar eles onde estão. Antigamente a gente tinha medo do governo, tinha medo de sentar perto de um secretário. Hoje eles estão no nosso meio.”

Sobre a Cooperacre

Criada em dezembro de 2001, a Cooperativa Central de Comercialização Extrativista do Acre, a Cooperacre, celebra 12 anos de luta, que simboliza uma história iniciada por Wilson Pinheiro e Chico Mendes.

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Manoel Monteiro, superintendente da Cooperacre

 Hoje a cooperativa conta com 30 galpões comunitários para armazenamento, quatro galpões centrais e cinco indústrias para beneficiamento de castanha, polpa de frutas e látex. São 250 funcionários e mais de duas mil famílias cooperadas.

A indústria de beneficiamento de castanha de Rio Branco – a maior e mais moderna do Brasil – tem a capacidade de processar 500 mil latas de castanha, mais que o processado em Brasileia e Xapuri. “Já compramos castanha de outros estados, e se Deus quiser nunca mais o Acre vai precisar vender a castanha como matéria-prima para ser beneficiada lá fora”, disse Manoel Monteiro, superintendente da Cooperacre.

Deputados aprovaram transferência das fábricas aos trabalhadores

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Geraldo Pereira, deputado estadual

“Este é fruto de um trabalho que fazemos há muito tempo, e eu preciso agradecer ao ex-presidente Lula por todo o apoio que nos deu. Hoje estamos passando quatro indústrias para as mãos de duas mil famílias de produtores, e, acreditem, toda a bancada de oposição foi contra. Eles alegaram que isso era um endividamento do estado, quando na verdade é um investimento. Eles nem conhecem de economia.”

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Eduardo Farias, deputado estadual

“O trabalhador extrativista e da agricultura familiar terá a carteira verde, que vai garantir prioridade no atendimento. Vinte por cento de todos os procedimentos, sejam consultas ou exames, serão destinados aos trabalhadores, e até a metade do próximo ano essa lei estará aprovada e valendo.”

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Astério Moreira, deputado estadual

“Estamos aqui vivendo esse legado de Chico Mendes. Tive a oportunidade de ter contato com ele três vezes e pude ouvi-lo. E já se vão 25 anos de sua morte, e ele vive por meio da história e do valor que nos deixou. Quando eu votei nessa lei eu me emocionei, pois lembrei os meus avós e todos que deram o suor nessas florestas.”

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Moisés Diniz, deputado estadual

“Na Assembleia há uns deputados que dizem que no Acre não se produz nem cheiro-verde, e isso é um desrespeito ao que o trabalhador tem de mais sagrado, que é o suor dele. Precisamos de um governador assim, que seja incansável, quebre paradigmas e preconceitos de achar que não é possível o estado brasileiro botar fábrica na mão de trabalhador. Esse ato é fruto de uma visão avançada de um socialista democrático que compreende que é possível os trabalhadores viverem bem.”

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Sibá Machado, deputado federal

“É a indústria que faz a economia crescer. O Tião também faz certo quando aposta na parceria público-privada-comunitário. Dinheiro na mão do povo sempre volta aos caixas do governo. Trabalhador só quer uma oportunidade, só um jeito de fazer as coisas andarem.” 

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Perpétua Almeida, deputada federal

Quem iria imaginar que seria possível botar dois mil produtores ao lado de uma fábrica como esta, onde cada um pode bater no peito e dizer: ‘Isso aqui é nosso, nós ajudamos a construir’. Esse é o melhor presente que o extrativista poderia receber neste Natal.”