A Secretaria de Estado de Assistência Social, dos Direitos Humanos e de Políticas para as Mulheres (SEASDHM) realizou na última sexta-feira, 25, o webinário “Migração e Direitos Humanos nas Fronteiras Acreanas: Antigos e Novos Dilemas e os Impactos da Pandemia”, em alusão à Semana do Refugiado e Migrante.
No dia 20 de junho foi celebrado o Dia Mundial do Refugiado, já no dia 25 celebra-se o Dia Nacional do Migrante. Durante esta semana, a SEASDHM promove atividades culturais com os imigrantes que estão sob tutela do Estado e também palestras sobre essa população e o movimento migratório. Por conta da pandemia, este ano a atividade da Semana do Refugiado e Migrante foi realizada no formato online.
O diretor de Gestão e Direitos Humanos da SEASDHM, André Crespo, realizou a introdução ao evento e passou a palavra para a professora e pesquisadora da área de Sociologia da Universidade Federal do Acre, Letícia Mamed, que foi a moderadora e direcionou os palestrantes durante o webinário: a ouvidora da Defensoria Pública do Estado do Acre, Solene Costa; o antropólogo e pós-doutorando do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Rondônia, Daniel Belik; a cubana e técnica de referência do Abrigo Estadual de Migrantes, Centro Dia, Hany Cruz, e a artista venezuelana Avril Curvelo.
“Essas datas não podem passar em branco e nem deixar de ser comentadas e refletidas, principalmente no nosso estado, por ser de fronteira. Não medimos esforços para fazer com que o imigrante e o refugiado se sintam amparados. Ajudar a população migrante é um trabalho que não deve ser somente para esta semana ou este mês, mas um trabalho que precisa ser diário”, diz André Crespo.
A palestrante Solene Costa contou sobre suas experiências nos atendimentos da ouvidoria, os acompanhamentos que realizou e em como o estado do Acre sempre teve um grande fluxo migratório. “Essas pessoas que chegaram até o Acre vieram por diversos motivos, tanto aqueles que passam apenas uma temporada, quanto os que resolvem ficar por aqui”, afirma a ouvidora.
O antropólogo Daniel Belik relatou os desafios da mobilidade do povo Warao, principalmente durante a pandemia. Ele explica que se trata do segundo maior grupo indígena da Venezuela e soma em torno de 50 mil pessoas. Desde 2014 os Warao começaram a sair da Venezuela por diferentes problemas políticos e outras situações e passaram a migrar para o Brasil via estrada, de carona, ônibus ou até mesmo a pé.
“O povo Warao passou a ocupar não só a Região Norte, mas também Centro-Oeste, Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil, e a pandemia não os parou. De acordo com os números, temos em torno de seis mil espalhados pelo Brasil, ou seja, dez por cento da população originária já está aqui. Percebemos cada vez mais que não é mais possível tentar entender o fenômeno migratório deles a partir de um só grupo, afinal, eles possuem conexões familiares com outros grupos que estão em um outro estado e isso cria uma rede extensa”, afirma o antropólogo.
Hany Cruz explicou um pouco da trajetória desde que saiu de Cuba até sua chegada ao Acre, e que apesar de hoje ter um emprego, trabalhando na linha de frente da situação de imigrantes no Acre, foi um caminho árduo chegar até aqui. “Foi necessário fugir. Meu esposo é preso político cubano, sancionado no ano de 2003 durante a Primavera Negra de Cuba; foi um dos 75 presos políticos e ficou nove anos na cadeia. Quando ele saiu ficamos sendo vigiados. A primeira estadia foi na ilha de Trinidad, depois Guiana Inglesa, depois cruzamos a fronteira, chegamos a Roraima, depois Manaus, Porto Velho e finalmente, Rio Branco”, conta Hany.
A artista venezuelana Avril Curvelo, além de compartilhar um pouco da sua história, cantou, à capela, durante o evento online e disse que sua história está na música. “Deixei muitas coisas, pessoas e sonhos para trás para tentar algo melhor, uma vida mais digna. Apesar de todas as circunstâncias, nós migrantes, não devemos desistir, eu sei que é difícil parar nossa vida por conta de conflitos que nem são nossos, mas, se cairmos, precisamos levantar e eu sei que um dia vai dar certo para todos que estão nessa luta”, diz Avril.
Atualmente a artista mora em São Paulo e trabalha no abrigo em que está morando, mas também passou pelo Acre.