Meta do Governo do Estado é preparar os produtores para que assumam a gerência da usina de óleos vegetais
A Fundação de Tecnologia do Estado do Acre (Funtac) realizou uma oficina de capacitação para extração de óleos vegetais na comunidade Nova Cintra, no município de Rodrigues Alves, Vale do Juruá. No local existe uma usina de extração de óleo construída pelo governo do Estado já em funcionamento, feita pela Funtac em convênio com a Eletronorte.
A usina foi pensada inicialmente para a pesquisa e produção de óleos apropriados à fabricação de biodiesel, mas como se tornou inviável economicamente, o foco se voltou para a fabricação de óleos visando a indústria de cosméticos. Apesar disso, não se descarta a possibilidade de ser feito biodiesel com a torta (massa que resulta depois de extraído o óleo) ou mesmo com o óleo de má qualidade, segundo informação do coordenador da Divisão de Tecnologia de Energia de Fontes Renováveis da Funtac, Alcides Loureiro Santos.
As 20 pessoas inscritas na capacitação/profissionalização – nove delas já trabalham na usina – aprenderam não apenas a operar as máquinas que fazem parte do processo de extração de óleos na usina, mas também a se inteirar de todo o processo da cadeia produtiva do murmuru, desde as normas para a coleta do coco ao transporte, secagem e armazenamento. A prioridade é o trabalho com murmuru, mas também estão sendo feitos testes com o buriti e o patoá.
A Funtac, em convênio com a Eletronorte, compra o coco dos coletores: cerca de 100 famílias em 13 comunidades ao longo do Rio Juruá, desde Rodrigues Alves até Porto Walter. Os coletores têm o murmuru como fonte alternativa de renda, já que são essencialmente produtores agrícolas, com predominância para o cultivo da macaxeira e produção de farinha.
O gerente da Secretaria de Extrativismo e Produção Familiar em Rodrigues Alves, Lauro da Silva Oliveira, conta que o órgão vem atuando como parceiro da Funtac na usina, contribuindo em toda a logística, manejo e alimentação, e já fez distribuição de 150 kits de trabalho para os coletores contendo itens como capacete, luvas, facão, rastelo e outros. Além disso, a Seaprof fez todo o levantamento das comunidades produtoras e o tipo de produção das famílias participantes.
"A gente está complementando a renda dessas famílias com um produto que não era aproveitado, caía na mata e lá ficava apodrecendo. Agora está sendo aproveitado e trazendo desenvolvimento para esta região do Juruá", disse o gerente. Segundo ele, o prefeito de Rodrigues Alves, Francisco Ernilson de Freitas (Burica), tem o maior interesse no desenvolvimento de atividades sustentáveis no município.
Manteiga de murmuru
A instalação da usina na comunidade Nova Cintra começou em 2006 e em 2007 foi completada toda a parte estrutural. Em 2008 foi adquirida a primeira safra de mais de 30 toneladas de coco. Hoje, a Funtac tem em estoque mais de uma tonelada de manteiga de murmuru. A Fundação agora estuda a questão da comercialização da produção, para fechar todo o ciclo da cadeia produtiva.
Agora, na safra de 2009, a Funtac comprou 34 toneladas que já estão armazenadas secas, no ponto para quebra e processamento. A usina tem capacidade para processar uma quantidade bem maior, podendo a prensa esmagar 100 quilos de coco por hora. No entanto – como explica Alcides – a compra é baseada nos recursos do convênio em vigor, então a quantidade comprada tem limite. No entanto, ele explica que a Funtac está montando a estrutura e capacitando os comunitários para que mais à frente a própria comunidade, organizada em forma de cooperativa, possa tocar o negócio, podendo, com a abertura de mercados compradores, agregar mais coletores e comprar mais coco. Ele adianta que ainda vai ser construído mais um galpão, um secador e um escritório, ficando pronta então a estrutura planejada. Só então vai haver a inauguração oficial da usina.
Nesta semana, a Funtac, junto com a Seaprof e a ONG SOS Amazônia, vai promover uma oficina da cadeia produtiva do murmuru quando será fechada a cadeia produtiva e prospecção de mercados compradores do produto. "Hoje, a usina está na administração da Funtac, mas, daqui a um ano, quando os convênios acabarem, nós queremos deixar tudo pronto sabendo quem compra nosso óleo, de quem compramos o coco, deixar tudo isto fechado para que a atividade se torne auto-sustentável e possa beneficiar toda a comunidade de nova Cintra e também os produtores da região de Rodrigues Alves e Mâncio Lima", explicou Alcides.
Hoje a Funtac paga 30 centavos por quilo de coco, que foi o preço estipulado na época da assinatura dos convênios, mas podem acontecer novos convênios e posteriormente com a administração própria pela comunidade o preço pode subir mais ainda. "A gente pode pensar que o valor é muito baixo, mas uma saca de 50 quilos sai a R$ 15,00. Tem famílias que colhem dezenas de sacas, e a renda é uma complementação da renda obtida com atividades agrícolas. O mais importante é que este trabalho traz um desenvolvimento sustentável. As pessoas vão manter a floresta em pé e mesmo assim tirando proveito dela", enfatizou.
Meta: mercado de cosméticos
A bióloga Roberta de Freitas Lopes trabalha como analista no laboratório de produtos naturais da Funtac e é a ministrante do curso que tem duração de 196 horas/aula. Segundo ela, o conteúdo refere-se ao controle de qualidade através da análise físico- química e as boas práticas de produção, coleta da semente, tratamento da semente, até a extração da matéria-prima final que é o óleo em si. Finalmente vem a busca pelo comprador, o mercado. Para a bióloga, o mercado atual mais favorável para os óleos da Amazônia é o da indústria de fito-cosméticos.
O micro-empresário Manoel Bezerra, que se tornou conhecido até internacionalmente por sua produção artesanal de sabão e sabonete, foi convidado a participar da oficina. Para ele é a oportunidade de uma ‘troca de experiências’. Ela vai contar sua experiência na extração de óleos de buriti, patoá e açaí de forma artesanal e vai aprender como se faz a extração em máquina industrial.
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