Que o fonoaudiólogo é responsável pelo teste da orelhinha, procedimento realizado ainda na maternidade logo após o nascimento do bebê, que identifica problemas auditivos, além de atuar com habilitação e reabilitação da voz, quase todo mundo sabe. Mas o que pouca gente sabe é que esse profissional é de fundamental importância na vida de recém-nascidos que vieram ao mundo antes do tempo previsto.
Esse é o trabalho da fonoaudióloga neonatal e professora universitária, Daisy Guerra, dentro da Maternidade Bárbara Heliodora, referência em saúde materno-infantil no Acre. A profissional é responsável pelos recém-nascidos prematuros que saem da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal e são acompanhados pelo método Mãe Coruja e Mãe Canguru.
O suporte aos prematuros é realizado em conjunto com outros profissionais (pediatras, psicólogos, fisioterapeutas, entre outros), que desenvolvem ações e estratégias dentro da unidade para o estímulo e promoção do aleitamento materno exclusivo.
Desde 2001 a Maternidade Bárbara Heliodora tem reconhecimento nacional como Hospital Amigo da Criança, onde o Banco de Leite Humano “cumpre seu papel”, provendo e incentivando à amamentação.
Por terem nascido antes do tempo previsto, ou seja, antes dos nove meses de gestação, e muito abaixo do peso, os recém-nascidos acabam enfrentando dificuldades na amamentação, por não apresentarem o reflexo, força de sucção ou não coordenarem bem as funções de sugar, deglutir e respirar.
“É um trabalho de extrema responsabilidade. O reflexo de sucção normalmente é imediato ao nascimento do bebê, por isso é tão importante colocar ele no peito no instante do seu nascimento. Mas quando se trata de prematuros, eles não conseguem desenvolver, ou mesmo não possuem força para fazer sozinhos. Existe todo um processo, técnicas e avaliação para a recuperação total desse bebê. Para ir ao peito da mãe, antes de sair da sonda, por exemplo, o bebê precisa chegar a 1,5 quilo, porque amamentação exige um esforço físico, e essa criança não pode perder peso”, explica.
Bebês prematuros que precisam do atendimento é de quase 90%
O trabalho da fonoaudióloga consiste em exercícios e manobras que podem envolver, além do aparelho fonoarticulatório do bebê (estimulação sensório-motora-oral), várias outras partes do corpo a fim de tratar a desorganização motora e respiratória.
De acordo com Daisy, quase 90% dos bebês que nascem prematuros precisam do acompanhamento fonoaudiólogo. A pequena Valentina, que nasceu aos seis meses de gestação, conseguiu, após quase dois meses de acompanhamento fonoaudiológico, mamar no peito da sua mãe pela primeira vez.
“Tivemos momentos difíceis aqui dentro. Ver seu bebê tão frágil e tão pequeno passar por tantos procedimentos na UTI, com sonda, é de cortar o coração. Mas apesar de tudo isso, a fé nunca é abalada, e agradeço o acompanhamento de todos os profissionais aqui dentro. A fonoaudióloga teve um papel crucial para a Valentina estar hoje mamando”, destaca Naykelle Feitosa, mãe da Valentina.
Além dos prematuros, bebês com síndromes, como a de down, microcefalia, com fissura palatina e portadores de doenças cardíacas ou pulmonares são frequentemente tratados por fonoaudiólogos ao nascer – a terapia começa ainda na maternidade, podendo se estender após a criança ter alta.