Florestas Plantadas: o reflorestamento e a valorização da borracha

O Florestas Plantadas começou em 2010 e hoje já apresenta bons resultados (Foto: Angela Peres/Secom)

O Florestas Plantadas começou em 2010 e hoje já apresenta bons resultados (Foto: Angela Peres/Secom)

Para um pequeno produtor rural, tirar o sustento de sua família diretamente da terra não é uma tarefa fácil. Mesmo com um alto número de atividades possíveis, cada uma delas possui um tempo de dedicação, investimento e retorno diferentes. Como então conciliar esses três elementos em uma única atividade que beneficie essas famílias não só por um momento, mas com um efeito de longa duração? Foi então que surgiu a ideia de plantar uma floresta para cada uma desses produtores, o que beneficiaria não apenas eles, mas, de quebra, o mundo inteiro.

{xtypo_quote_right} De 2010 a 2012, 936 famílias aderiram ao projeto, com 846.804 mudas distribuídas{/xtypo_quote_right}

Implantado em 2010, ainda durante o governo de Binho Marques e com total apoio de
Tião Viana para sua continuidade, o projeto Florestas Plantadas é ousado: convencer pequenos produtores rurais, principalmente seringueiros, a utilizar parte de suas terras para se dedicar ao reflorestamento de áreas degradadas. São áreas que depois de alguns anos e dedicação possam gerar renda, sendo a seringueira o carro chefe do projeto, aliada a árvores frutíferas de alto valor econômico para a região.

Atualmente, 936 famílias já fazem parte do Florestas Plantadas entre 2010 a 2012. O governo do Estado foi responsável por reunir a comunidade e apresentar o projeto e quando aceito, com os produtores aptos, distribuiu as mudas gratuitamente, além do auxílio técnico. Ao todo, já foram entregues 846.804 mil mudas no mesmo período e a expectativa é de muito mais em breve. E mesmo com o ano em sua metade, em 2013 já foram distribuídas até agora 220.376 mudas.

Apostando alto

“Cuido disso como se fosse uma filha. me despedaçando aqui dentro para que isso dê certo”, conta Isaias Flores sobre sua Floresta Plantada, na Comunidade Iracema, em Assis Brasil. São três hectares dedicados a seringueiras, num consórcio com graviola, acerola, banana, cana e maracujá. Isaias realmente se dedica bastante ao projeto, entrou nele em 2010 e algumas das frutíferas estão dando resultados animadores. Já consegue retirar R$ 800 por mês da área, principalmente da banana e o melado. 

Isaias Flores mostra a plantação de bananas em consórcio com as seringueiras (Foto: Angela Peres/Secom)

Isaias Flores mostra a plantação de bananas em consórcio com as seringueiras (Foto: Angela Peres/Secom)

Mas não é uma tarefa tão simples. O esforço para fazer a produção dar certo não é pequeno e os resultados são a longo prazo. As mudas de seringueira são clonadas, crescem mais rápido e são mais resistentes, ainda assim, são sete anos de crescimento para o primeiro corte. Quando estiver com a produtividade em alta, a pequena floresta deve gerar uma renda de pelo menos R$ 2.300 por mês.

{xtypo_quote_left} Quando estiver com a produtividade em alta, a pequena floresta deve gerar uma renda de pelo menos R$ 2.300 por mês{/xtypo_quote_left}

Marcos Góes, assessor técnico da Secretaria de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof), conta que Assis Brasil tem 54 hectares de Florestas Plantadas, quase 30 mil mudas plantadas até agora. A expectativa é que esse número passe para 100 hectares até o final de 2014 com a entrada de mais 25 produtores. E alguns deles ainda conseguiram financiamento através do Banco da Amazônia, como o próprio Isaias.

Mercado certo e produtividade

Mas para onde vai essa borracha toda gerada nos próximos anos? O destino é praticamente certo. “A borracha tem um ciclo completo no Acre. Nós temos a fábrica de camisinhas de Xapuri, que irá dobrar a sua capacidade de produção e que precisará então do dobro de látex, além da indústria de borracha que será construída em Sena Madureira, que já está com a ordem de serviço assinada”, explica Ademir Batista de Almeida, coordenador do Florestas Plantadas através da Seaprof.

Ademir exibir com orgulho sua Floresta Plantada que já apresenta seringueiras bem desenvolvidas (Foto: Angela Peres/Secom)

Ademir exibir com orgulho sua Floresta Plantada que já apresenta seringueiras bem desenvolvidas (Foto: Angela Peres/Secom)

Um dos que espera se beneficiar desse ciclo é o seringueiro Nizomar Mendes. Ele lembra que começa a cortar seringa oito horas da manhã. E o processo não é nada simples. Cruzar a floresta durante o dia inteiro, levantando às 4 horas da madrugada e voltando muito tarde para casa exige força e garra. Para piorar, “Tive que parar de cortar as seringas da região porque elas estavam desgastadas demais. A seringa nativa tem um limite de uso, tem vez que dá muito leite, tem vez que não dá nada”.

{xtypo_quote_right}Se numa estrada de seringa é possível realizar 180 cortes, na Floresta Plantada serão mil{/xtypo_quote_right}

Mas Nizomar sabe que a borracha tem seu valor, não quis abandoná-la e a Floresta Plantada lhe mostrou algo nunca antes imaginado, cortar seringa no quintal de sua casa. Ele entrou no projeto em 2010, a floresta de Nizomar ocupa dois hectares e é surpreendente até para os técnicos da Seaprof de tão crescida em tão pouco tempo. E os números são animadores. Se numa estrada de seringa é possível realizar 180 cortes, na Floresta Plantada serão mil.

E o preço também é um forte incentivo. “A borracha chegou a valer R$ 0,40 o quilo. Hoje o preço é de R$ 3,50 no mínimo. Problemas a gente tem aos montes, mas temos que ter a consciência de que as coisas estão melhorando muito nesse meio”, reforça Ademir Almeida.

Mudas a perder de vista

Só o viveiro Amazônia Viva produz 800 mil mudas de seringueira (Foto: Angela Peres/Secom)

Só o viveiro Amazônia Viva produz 800 mil mudas de seringueira (Foto: Angela Peres/Secom)

A partir do momento que o produtor rural se compromete em cuidar de uma Floresta Plantada a única obrigação dele será zelar por isso. É o governo quem fornece as mudas e a assistência técnica através da Seaprof. Mas fornecer mudas de seringueira se tornou um desafio. Para se ter uma ideia, a primeira compra de mudas feita pelo governo foi há seis anos e elas vieram de São José do Rio Preto (SP). Hoje, oito viveiros privados produzem mais de 1,7 milhão de mudas, que em breve atenderão novos produtores.

Só o viveiro Amazônia Viva, o maior do Acre, localizado em Senador Guiomard, produz hoje 800 mil mudas. Criado em 2010, são 10 hectares exclusivos para reprodução de seringueiras, com 22 funcionários fixos, podendo chegar a 60 no ápice da produção. E a seringueira em todo o seu processo de aprimoramento genético (o enxerto) leva de oito a dez meses para se desenvolver antes de poder ser entregue para os produtores. Do seu ponto mais alto, o viveiro parece um grande mar verde, tomado por mudas.

“Não é um processo nada fácil”, conta sorrindo a engenheira florestal responsável pelo viveiro, Miriam Barbosa, “É um aprendizado todo dia e tem dado certo. A seringueira é uma escola. O próprio processo de enxerto precisa de mão de obra especializada”.

O viveirista Sérgio Laélio (D) faz sua produção sobre orientação dos técnicos da Seaprof (Foto: Angela Peres/Secom)

O viveirista Sérgio Laélio faz sua produção sobre orientação dos técnicos da Seaprof (Foto: Angela Peres/Secom)

Entre Brasileia e Assis Brasil fica outro grande viveiro. O paranaense Sérgio Laélio, com mais de 20 anos de Acre, produz hoje 350 mil mudas, em 11 tipos de clones (variações), trabalho feito com apoio técnico da Seaprof, já que é o governo o comprador dessas mudas. “A seringueira clonada é mais forte, resistente a doenças e possível de cortar mais cedo que a seringueira nativa”, reforça Ademir, da Seaprof.

Só esse ano Sérgio deve contratar 40 pessoas para realizarem o processo do enxerto, cada um recebe em média R$ 1.000 por mês. “Hoje a gente corre atrás de mão de obra. Meus dois filhos são formados. Um tem doutorado em agronomia, se graduou pela Universidade Federal do Acre mesmo e me ajuda aqui. O outro fez medicina em Cuba. Foi difícil ajudar eles na época dos estudos. Se eu tivesse plantado seringueira antes, teria dado mais condição pra eles”.

Expectativas econômicas e ambientais

O projeto não tem só sensibilidade econômica, mas visibilidade ambiental também. Além do importante ponto de reflorestamento de áreas degradadas, a seringueira é capaz de propor a diversificação da propriedade agrícola, através de consórcio com outras culturas, resistência à seca e ao frio, lucro e mercado garantidos.  Só não podem plantar mandioca, mamona e mamão, culturas que não se adaptam com a seringueira devido à incidência de fungos.

Aurélio de Oliveira acredita na importância ambiental do projeto (Foto: Angela Peres/Secom)

Aurélio de Oliveira acredita na importância ambiental do projeto (Foto: Angela Peres/Secom)

A seringueira também realiza um trabalho ecológico importante. É uma das plantas que mais sequestra o carbono da atmosfera por meio da fotossíntese no processo de constituição de seu tronco, galhos e folhas, mas principalmente na produção do látex, contribuindo significativamente com a neutralização dos Gases de Efeito Estufa (GEE’s). Ela também nutre o solo, recuperando áreas degradadas pelo pasto ou outras práticas agrícolas, inclusive em terrenos com até 35% de declividade.

“As pessoas não tem visto o quão bom é essa política de produção e extração sem danificar a natureza”, reforça o viveirista Sérgio Laélio, “Muita gente diz: ‘mas eu vou ter que esperar uns oito anos pra cortar seringa…’, mas quando começar não vai parar”.

{xtypo_quote}Muita gente diz: ‘mas eu vou ter que esperar uns oito anos pra cortar seringa…’, mas quando começar não vai parar{/xtypo_quote}

Aurélio de Oliveira, que mora no Polo Agroflorestal Wilson Pinheiro e, exatamente por ser um polo, só pode plantar um hectare de Floresta Plantada revela que, “Eu me interessei mesmo foi pela ideia de preservar o meio ambiente. O nosso polo é na beira do Rio Acre e temos nascentes aqui perto. Então quis plantar perto da nascente que eu tenho aqui”, mas o produtor brinca, abre um sorriso e não esconde que, “Quem sabe eu consigo tirar um dinheirinho bom lá na frente se a borracha continuar com esse preço”.

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