Produtores aprendem técnicas de identificação botânica

Conhecer e identificar corretamente as árvores existentes na floresta é uma necessidade para quem trabalha com manejo florestal madeireiro

 
Com esse propósito, a Embrapa Acre (Rio Branco), Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, está capacitando pequenos produtores do  ramal Nabor Júnior, localizado no Projeto Pedro Peixoto, município de Senador Guiomard, para a atividade de identificação de espécies florestais com potencial madeireiro.

A capacitação conta com a parceria da Universidade Federal do Acre (Ufac) e Fundação de Tecnologia do Acre (Funtac). A primeira etapa, realizada na escola rural Primeiro de Maio, no quilômetro 23 do ramal, encerrou-se nesta quinta-feira, 12. O segundo e último módulo do treinamento será realizado no fim de julho.

A iniciativa  faz parte das açoes do projeto “Monitoramento Técnico-Sócio-Econômico e inovações de pesquisa para o avanço do sistema de manejo florestal comunitário do Projeto de Colonização Pedro Peixoto”, desenvolvido pela Embrapa. Participam 13 produtores rurais que atuam com manejo florestal madeireiro, aprendendo sobre as principais características morfológicas das plantas (tipos de folhas, casca, semente, flor e fruto), requisito essencial no trabalho de identificação botânica; sistema de classificação das plantas (taxonomia vegetal); amostragem botânica; e técnicas de coleta, identificação de plantas e de escalada em árvores.

Caráter científico

A diversidade de espécies florestais existentes na Amazônia dificulta a identificação das  plantas pelo manejador florestal. Outra dificuldade é a abundância de nomes vulgares existentes e a variação desses nomes de região para região. A solução para o problema, conforme explica o pesquisador Evandro Ferreira, do Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre e instrutor do evento, é incorporar ao trabalho um caráter científico, acrescentando, além dos nomes vulgares, os nomes das famílias e das espécies exploradas, de acordo com as regras formais de nomenclatura botânica.

Segundo Ferreira, algumas espécies são de fácil identificação, mas, via de regra, esse trabalho exige um padrão de conhecimento elevado sobre as caraterísticas individuais das plantas. Conhecer esses aspectos faz melhorar a qualidade do manejo das espécies, reduzindo os riscos de erro na retirada de madeireira, ajuda a conservar a floresta e valoriza o profissional.

O pesquisador estima que, das cerca de 30 espécies de plantas exploradas comercialmente no Acre, aproximadamente 30% tem problemas relacionados ao nome. Conhecer tanto o nome vulgar como o científico ajuda no processo de identificação. “Nossa intenção não é apenas fornecer conhecimentos, mas formar multiplicadores para atuar na comunidade, repassando, de forma organizada, esse conjunto de informações. “O produtor precisa saber exatamente que planta está explorando, para avaliar seu valor comercial. Um erro na identificação da espécie pode resultar em sérios prejuízos”, conclui.

Manejo florestal comunitário

A proposta do curso, de acordo com o pesquisador Henrique José Borges de Araújo, líder do projeto, é aprimorar os conhecimentos já existentes e preparar os produtores para a elaboração do inventário florestal, base do plano de manejo e exploração da floresta e constitui o principal requisito para as operações madeireiras. “Esse saber contribui para o uso sustentável e a valorização dos recursos florestais, além de possibilitar ao produtor melhor aproveitamento dos benefícios oferecidos pela floresta”, afirma.

O ramal Nabor Júnior abriga cerca de 180 famílias de produtores rurais, cuja principal atividade econômica é a agricultura. Há 14 anos a Embrapa Acre implantou no local o projeto Manejo Florestal Comunitário e vem capacitando as famílias para a exploração de espécies madeireiras de valor comercial, como fonte alternativa de renda. Atualmente cerca de 18 famílias estão envolvidas diretamente na atividade madeireira, produzindo anualmente 400 metros cúbicos de madeira bruta (200 metros cúbicos de madeira serrada).

Comercializado ao preço médio de R$ 500 o metro cúbico de madeira, a produção gera uma renda média anual de R$ 10 mil, dividida entre as famílias. A  atividade contribui para a melhoria da qualidade de vida no meio rural, proporcionando, entre outras coisas, o acesso a bens de consumo como televisor, antena parabólica, telefone, geladeira e outros produtos que indicam a elevação das condições sócio-econômicas na comunidade.

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