Muitas são as dificuldades para que pessoas com surdez ou alguma deficiência auditiva tenham vez no mercado de trabalho. O sistema tradicional de ensino básico e técnico, a discriminação social, a falta de oportunidades e de capacitação profissional são algumas delas.
Buscando reverter esse cenário no Acre, o governo do Estado, por meio do Instituto Estadual de Educação Profissional e Tecnológica (Ieptec), tem investido em cursos de formação inicial e continuada (Fics), na modalidade de ensino a distância (EaD), com tradução da língua portuguesa para a Língua Brasileira de Sinais (Libras). É a chamada acessibilidade comunicacional.
Visando à construção de um ambiente inclusivo na profissionalização e a superação dos limites ditados pela deficiência, o Ieptec lançou mão de recursos diferenciados e soluções específicas, permeados de recursos de comunicação visual, disposição de conteúdo em legendas, material multimídia direcionado e, claro, a valorização da tradução e interpretação da Libras.
De acordo com o presidente do Ieptec, Francineudo Costa, a intenção é sobretudo ampliar a empregabilidade desse público. “O trabalho é libertador. Pode levar a pessoa com surdez ou alguma deficiência auditiva à conquista da autonomia. E o instituto foi a porta de entrada que essas pessoas encontraram na aquisição de competência para exercer uma profissão; uma oportunidade para alcançar maturidade profissional e conquistar um espaço no mercado de trabalho, tão competitivo nos dias atuais”, disse.
Um olhar diferenciado
Há quem diga que só “incluir por apenas incluir” não é o suficiente; que é necessário, acima de tudo, um olhar diferenciado diante das necessidades específicas dos alunos surdos.
É no que acredita a tradutora e intérprete Dilaina Costa. Aos 47 anos, ela atua na Libras há quase 30 anos. Graduada em Pedagogia e pós-graduada em Tradução e Interpretação da Libras e Educação Especial na perspectiva da inclusão, ela integra a equipe do Ieptec neste desafio.
“Em muitas situações, eles desconhecem a própria língua, daí a importância de uma maior atenção às necessidades específicas para que a pessoa com surdez ou alguma deficiência auditiva seja, de fato, incluída no processo”, explica.
Ela também conta que o trabalho começa bem antes da transmissão das aulas virtuais com os conteúdos apresentados pelos formadores dos cursos. É que, como nem toda palavra da língua portuguesa tem sinal equivalente para cada contexto na Língua de Sinais, uma pesquisa prévia de vocabulários equivalentes pode servir de instrumentalização e ajudar na hora da interpretação.
“Como a inserção da Libras é algo novo, ainda costumamos gravar o conteúdo do formador e a interpretação de maneira simultânea; porém se faz necessário que haja antecipação dos áudios para que possamos ter maior qualidade nas traduções”, ressalta.
O que diz a lei
A lei federal nº 10.436, de 24 de abril de 2002, prevê que os sistemas educacionais garantam a inclusão dos surdos através da Libras e o decreto presidencial nº 5.626/2005 rege a forma que essas ações inclusivas devem ocorrer.
Embora os termos surdo e deficiente auditivo sejam, costumeiramente, empregados para descrever pessoas com problemas auditivos, eles não são sinônimos.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a deficiência auditiva é a diminuição na capacidade de ouvir sons. Geralmente, pessoas com essa dificuldade se comunicam pela linguagem falada, escrita, aparelhos auditivos etc.
Já a surdez é definida pela OMS como perda completa da capacidade de ouvir em ambos ouvidos. Nesse caso, o uso da Libras é impreterível.