O governo do Acre, por meio da Fundação de Tecnologia do Estado do Acre (Funtac), celebrou um acordo de cooperação técnica (ACT) com a indústria francesa fabricante de tênis Vert, para a capacitação de jovens extrativistas. A marca, 100% ecológica e sustentável, conquistou a categoria de ecofriendly, ou seja, amiga do meio ambiente. A empresa utiliza, em sua linha de produção, o látex extraído dos seringais do Acre. O ato foi realizado no fim da tarde desta segunda-feira, 23, no Palácio do Comércio, em Rio Branco.
Na oportunidade, foi formalizado o termo de adesão voluntária com quatro organizações comunitárias e 200 novos produtores extrativistas, para o beneficiamento e comercialização de látex nativo. Os beneficiários receberão também capacitação sobre técnicas de cartografia social, diagnóstico socioeconômico, mapeamento e monitoramento participativo de áreas de coleta do látex nativo.
“Estamos gratos pela celebração deste acordo de cooperação, que vem para somar junto ao governo do Estado. A Funtac já realiza uma série de iniciativas e, com a parceria, vamos alcançar outras 200 famílias, atingindo uma média de 800 pessoas”, disse a presidente da Funtac, Missara Guimarães. A gestora contou que a parceria servirá para estimular jovens a aprenderem técnicas de beneficiamento e comercialização de látex nativo, o que representa uma alternativa de renda e qualidade de vida para esse público, ao passo que também contribui para a continuidade da atividade e a conservação das florestas do Acre.
Já o fundador da Vert/Veja, François Ghislain, lembrou que a empresa começou comprando borracha do Acre, em Brasileia, crescendo devagar nos primeiros anos. A produção aumentou e, além da França, a marca começou a vender em outros países da Europa. Em 2013, a marca Vert chegou ao Brasil. “Fabricamos cinco mil pares em 2004, e hoje produzimos quatro milhões de pares por ano. A nossa necessidade de borracha cresceu, especialmente nos últimos três anos, de 89 para 500 toneladas”, relatou.
Em contrapartida, a Funtac, com apoio financeiro do Programa REM Acre – Fase II, irá entregar 200 kits de coleta e beneficiamento de látex ao fim das atividades. As ações preveem ainda o desenvolvimento de pesquisas de apoio ao manejo florestal responsável na Amazônia, incluindo a realização de dois encontros com a participação de 60 jovens de famílias beneficiárias abordando as temáticas da juventude em empreendimentos florestais comunitários, gestão de cooperativas e associações rurais e mercado, produtos e inovação na cadeia produtiva do látex.
Sobre o REM
O programa é fruto de cooperação financeira entre os governos do Acre, Alemanha e Reino Unido para implementação de projetos voltados para conservação das florestas, que beneficiam milhares de extrativistas, produtores rurais, ribeirinhos e indígenas, assumindo o compromisso de reduzir o desmatamento, cuidar de sua biodiversidade e de suas populações.
Na fase I, o programa beneficiou 21.940 famílias com atividades voltadas para o manejo sustentável de florestas e aumento de estoques de carbono florestal. A sigla REM significa REDD+ for Early Movers, em português, Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal para pioneiros.
Sobre a Vert
Em 2003, dois franceses encontraram na Amazônia a inspiração para criar uma linha de tênis 100% ecológica e sustentável que gerasse impacto social positivo. No ano seguinte, nasceu a Veja (de “ver”) em Paris, na França. Ao expandir para outros países, inclusive o Brasil, a marca agregou o nome de Vert (“verde”, em francês). Com uma abordagem totalmente ecológica, a Veja utiliza, como matéria-prima, borracha adquirida de seringueiros do Acre, além de algodão e os tecidos orgânicos do Nordeste do Brasil.
Pagamento por Serviços Ambientais
Em 2021, a Vert comprou, dos extrativistas do Acre, 500 toneladas de borracha processada, número que saltou para 700 toneladas em 2022, com a meta de mil toneladas para 2023, pagando R$ 3,50 o quilo (valor com incentivo para qualidade), acrescido de um bônus por pagamento a serviços ambientais de R$ 8,50/kg, projetando o preço final para R$ 12,00/kg. As cooperativas também recebem um incentivo de R$ 3,50/kg.
O preço praticado no mercado mundial é de R$ 2,50/kg. A empresa paga, portanto, um preço acima do praticado no mercado, valorizando quem está na ponta, com respeito aos princípios das boas práticas socioambientais, e valorizando aqueles que conservam e usam os recursos naturais de forma responsável.