Em seu último plantão, policial militar recebe homenagem por carreira dedicada ao atendimento de mulheres

Muitos são os desafios enfrentados pelas mulheres nos mais diversos setores de trabalho. Na Segurança Pública do Acre não é diferente. Entre as muitas histórias de protagonismo feminino, a subtenente Francineide Moura certamente se destaca. Com 24 anos dedicados à Polícia Militar do Estado (PMAC), em sua carreira profissional viveu muitas experiências marcantes, que influenciaram seu olhar para o mundo.

Prestes a ir para a reserva remunerada, nesta terça-feira, 3, seu último dia de serviço, a subtenente recebeu uma homenagem-surpresa de seus colegas de batalhão, incluindo a filha, que também é militar. “O que eu planejei pra minha carreira foi isso, sair subtenente na PM e ser promovida a oficial, e agora vou ser”.

Francineide conta os desafios e o apoio dado e recebido por mulheres em sua trajetória. Foto: Pedro Devanir/Secom

Vida militar

Logo que assumiu a vaga conquistada em concurso, ela foi direcionada para o 2º Batalhão, onde teve a experiência de trabalhar nas ruas de Rio Branco, com atendimento a ocorrências e ao público. Posteriormente foi para o presídio feminino da capital, atuando com mulheres privadas de liberdade. E conta que sempre buscou cultivar um olhar humanizado para aquele público, acreditando que a mudança de comportamento e de vida é possível.

“Eu conversava muito com as mulheres, pois sabia que elas podiam ter a vida transformada, se quisesse; dependia delas. Nunca fui aquela policial que julga muito. E, quando precisava ser dura, eu era também, porque tinha que ser”, lembra.

Francineide narra que, há quatro anos, atravessou uma fase profissional difícil, que lhe causou transtornos psicológicos. E então o conselho de uma figura inspiradora, sua mãe, fez com que ponderasse a decisão de se aposentar: “Ela disse: ‘Minha filha, não desiste, você vai conseguir’, quando surgiu a oportunidade de atuar na Patrulha Maria da Penha”.

Após 24 anos de serviços prestados à sociedade acreana, Francineide irá para a reserva como segundo-tenente da PMAC. Foto: cedida

A possibilidade lhe rendeu novo fôlego e o sabor das decisões acertadas. “Hoje meu choro é de vitória, de alegria, porque eu já ia para a reserva sem ter chegado no fim da minha carreira de praça, que é de subtenente. E ia sem a sexta parte, que é um valor que a gente recebe depois de 25 anos de serviço, porque eu estava nessa situação. Mas eu ainda tinha uma missão para cumprir, não era a hora de eu ir embora e fui para a Patrulha Maria da Penha”, relata a militar.

Na Patrulha, pôde continuar auxiliando muitas mulheres: “Eu sempre quis trabalhar com violência doméstica, porque senti isso na pele. Não tem nada melhor, para uma mulher, que receber a gente que já sentiu aquilo; quem passou sabe. Então eu queria ajudá-las, e foi o que eu fiz esse tempo todo aqui na Patrulha, que foi onde mais me identifiquei como profissional. Levo comigo essa bagagem, me sinto gratificada e algumas mulheres me agradecem até hoje”.

Luta e superação

Ainda criança, a acreana Francineide saiu do seringal com a família para Rio Branco, onde começou a estudar aos 8 anos de idade. “Vim do Seringal Lua Nova, nasci no seringal, meus pais foram seringueiros. Somos uma família grande, de nove mulheres e um homem; imagina, minha mãe, meu pai, eles lutaram pra gente chegar até aqui”, recorda.

Na capital, moraram no Papouco e depois na beira do Rio Acre. Sua mãe trabalhou lavando roupas e em outros serviços para manter a família. “Ela é o maior exemplo de força. De que a gente, mulher, não pode baixar a cabeça. Ela sempre foi uma mulher à frente do seu tempo, sempre disse para a gente que nosso emprego era nosso marido e que não podíamos depender de homem. Então eu aprendi isso”, diz.

Mãe de quatro filhos, Francineide tem uma filha pertencente ao quadro da PMAC. Foto: cedida

A subtenente conta que sempre quis passar num concurso e estudar, fazer faculdade. Porque aquela mesma mãe encorajadora também sempre incentivou os filhos para o estudo. E assim Francineide se formou em História pela Universidade Federal do Acre (Ufac).

“Hoje eu sou militar, tenho mais uma irmã militar, tenho outra entrando agora, tenho um irmão que é policial penal e a minha filha, que também é policial militar. Então a gente está contribuindo muito com essa parte da segurança pública”, enfatiza.

Acabou por aí? Não. Francineide, que também é técnica em Gestão de Resíduos Sólidos, agora se volta para o início de uma nova jornada, de importância vital para o planeta, na área da sustentabilidade. Com um projeto voltado para a reciclagem, ela pretende continuar ajudando muitas mulheres.

E numa frase resume a sua conquista: “Estou em paz, tranquila, com saúde, e com tudo o que eu queria, então eu vou feliz”.

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