EJA, uma janela de oportunidades para quem se atrasou nos estudos

A partir da próxima segunda-feira, 3 de julho, até o dia 28, a Educação de Jovens e Adultos (EJA) do Acre estará com as inscrições abertas para quem deseja retomar os estudos. Para se inscrever, é só procurar uma escola que ofereça a modalidade.

Como critério para ingressar na EJA, é preciso ter pelo menos 15 anos de idade, para cursar o ensino fundamental, e 18, para o ensino médio. Ao longo dos anos, a EJA abriu uma janela de possibilidades e oportunidades para quem, por algum motivo, teve que abandonar os estudos.

É o caso do hoje professor Regis Quevedo. Nascido no Paraná, veio para Rondônia e em seguida para o Acre. Ele não teve vida fácil. Em Rondônia, por exemplo, vendeu picolé e foi engraxate. Já no Acre fez tudo de um pouco. Foi desde cobrador de loja, passando por mecânico, até mototaxista.

No Centro de Educação de Jovens e Adultos (Ceja), que ficava localizado na Avenida Getúlio Vargas, em Rio Branco, estudou de 2008 até 2012, quando cursou o fundamental, anos finais, e o ensino médio. Havia transcorrido 20 anos sem estudar, desde que concluíra o ensino fundamental, anos iniciais, ainda em Rondônia.

Professor Regis: após 20 anos sem estudar, foi auxiliado pelo EJA a dar a volta por cima. Foto: Mardilson Gomes/SEE

Regis conta que o tempo parado foi devido ao fato de que, na família, havia uma espécie de “analfabetismo hereditário”, em que sua mãe era analfabeta e o pai concluíra a antiga terceira série do primário. “Meu pai sempre foi contra os estudos, ele não acreditava”, relata.

Então resolveu procurar a EJA, e diz que foi muito bem acolhido. “Foi quando dei início aos estudos, com muito gosto, pois achava que ali poderia ter uma nova oportunidade de sonhar, de ter um emprego com carteira assinada”, ressalta.

Logo após a conclusão do ensino médio, foi aprovado, na Universidade Federal do Acre (Ufac), para o curso de Matemática. Concluiu e foi ministrar aulas na Escola Serafim Salgado. Hoje é professor na Fábrica de Asas, que funciona no Complexo Penitenciário Francisco de Oliveira Conde (FOC).

“Enquanto há vida, há esperança. Jovens que estão hoje sem estudar, procurem uma escola, porque vocês serão muito bem atendidos. Vale a pena, se matriculem, corram atrás dos seus sonhos, que vocês irão se surpreender”, incentiva o professor.

Dormia em sala de aula

Quem também não teve vida fácil e precisou estudar na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA) foi Francisco da Conceição Ferreira, professor de História da Escola Paulo Freire, localizada no bairro Belo Jardim, no Segundo Distrito da capital. Por trabalhar durante o dia e estudar à noite, conta que muitas vezes chegava exausto à sala de aula.

O professor Francisco, ou “Quinari”, como também é conhecido, nasceu em Rondônia, e em 1975 veio com a família para o Acre. O fundamental I e II ele fez na Escola Veiga Cabral, em Senador Guiomard. O ensino médio, iniciou também no município e concluiu em Rio Branco, no Instituto de Educação Lourenço Filho (Ielf).

Professor Francisco: uma vida dedicada à educação de jovens e adultos e ao ensino rural. Foto: Mardilson Gomes/SEE

“Eu fui estudar à noite pela necessidade do trabalho e, como eu trabalhava na enxada, muitas vezes dormia em sala de aula. Fiz as provas finais graças a uma chance dada por uma professora da Veiga Cabral, a quem hoje ainda sou muito grato”, disse.

Após a conclusão do ensino médio, Francisco foi ministrar aulas na Escola Elias Mansour, no bairro Taquari. Depois foi para a zona rural, para escolas de difícil acesso. Em 2013 se formou em História pela Ufac e foi para a Edgar Cerqueira, localizada na região do Baixa Verde, na BR-317.

Sobre os alunos da EJA, diz que são “diferenciados”. “Eles trabalham o dia inteiro e não têm tempo para fazer as tarefas em casa, por isso, tem que ser tudo feito em sala de aula, mas na EJA é a grande chance de transformação que eles têm na vida, eu mesmo já passei por isso”, destaca.

Catorze anos sem estudar

Para o professor de Matemática Heliton Melo da Silva, atualmente coordenador de Ensino da Escola Paulo Freire, no Belo Jardim, a EJA também foi fundamental. Natural de Cruzeiro do Sul, todo o ensino fundamental, anos iniciais, ele cursou na Escola Rego Barros, no município.

Depois, veio para Rio Branco, onde estudou o fundamental, anos finais, na Carlos Vasconcelos. A partir daí começou a sua saga: o primeiro ano do ensino médio ele fez no Colégio Estadual Rio Branco (Cerb) e logo em seguida foi para Manaus (AM), onde começou o segundo ano.

Parou no meio do ano e voltou para Rio Branco, onde ficou seis meses sem estudar. Voltou para Manaus e se matriculou novamente no segundo ano. Mais uma vez abandonou o curso no meio do ano e retornou para Rio Branco. Trabalhando e estudando, quando fez 18 anos vieram os problemas de ordem financeira.

Professor Heliton: entre idas e vindas, hoje é professor efetivo do Estado. Foto: Mardilson Gomes/SEE

Foi trabalhar na marcenaria no pai e ficou 14 anos sem estudar, quando, no início dos anos 2000, foi para a EJA enfim cursar o segundo e o terceiro anos do ensino médio, na Escola Darcy Vargas. Em 2003, prestou vestibular para Matemática na Ufac e ficou em 41º lugar, sem aprovação.

Tentou novamente no ano seguinte e foi aprovado, concluindo a graduação em 2008. Antes mesmo de terminar o curso, já trabalhava na área. Em 2013 foi aprovado em um concurso para professor efetivo do Estado. “Foi uma mudança brusca que tive em minha vida”, afirma.

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