Doador você já é. Só falta decidir para quem

Após a morte cerebral todos os órgãos serão doados, mas o destino deles cabe a cada um decidir

Seus órgãos, tecidos, medula óssea e sangue podem salvar vidas. A doação de órgãos permite que uma pessoa recomece a vida quando não há mais esperança. No dia 27 de setembro é comemorado o Dia Nacional da Doação de Órgãos e Tecidos. Este ano, a Campanha Nacional traz como mensagem “Doe Órgãos! Deixe Sua Marca, Multiplique Vidas”.

Para celebrar a data, a equipe da Central de Transplante do Acre promove uma programação variada com o objetivo de conscientizar a população acreana sobre a importância da doação de órgãos.

Na segunda-feira, 26, haverá uma caminhada de sensibilização. A concentração será em frente da Maternidade Bárbara Heliodora, a partir das 17 horas. Já na terça-feira, 27, haverá palestras no auditório da Uninorte –manhã, tarde e noite, nas quais os participantes terão a oportunidade de tirar dúvidas e quebrar preconceitos sobre o tema doação de órgãos.

“Nós queremos sensibilizar e informar a sociedade sobre a importância da doação de órgãos, esclarecendo as dúvidas mais freqüentes e desmistificando todas as questões relacionadas, desde autorização dos familiares, diagnóstico de morte encefálica e a efetivação de todo o processo que envolve a doação e o transplante”, informa a coordenadora da Central de Transplante do Acre, Regiane Ferrari.

Segundo Regiane, a doação de órgãos ocorre somente quando é constatada a morte encefálica, através de uma rigorosa avaliação médica. São necessários empenho e dedicação de inúmeros profissionais, e a doação somente se concretiza mediante a autorização da família do doador.

Além da mensagem trazida pela campanha nacional, a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) veiculou nos meios de comunicação, em maio deste ano, uma campanha de impacto – mostrando para as pessoas a importância de doar os órgãos após a morte -, com o slogan “Doador você já é. Só falta decidir para quem”.

De acordo com a campanha, após a morte cerebral todos os órgãos serão doados, mas o destino deles cabe a cada um decidir. As opções são: escolher ajudar outra pessoa que precisa de um transplante para viver, ou “doá-los” para bactérias e larvas que se alimentam e atuam na decomposição de restos mortais. As peças publicitárias mostram pessoas reais que estão na fila à espera de doação de órgãos e ao lado os principais “predadores” dos órgãos que não são doados: mosca, bactéria e larvas.
 
Doação de órgãos no Brasil

Segundo dados do Ministério da Saúde, o Brasil bateu um novo recorde de doações de órgãos e, conseguintemente, o aumento de transplantes. O número de doadores efetivos cresceu 14% em apenas um ano.

Em 2010, foram registrados 1.896 doadores, sendo que em 2009 os registros foram de 1.658. Com esse acréscimo o Brasil passa a conta com 9,9 doadores Por Milhão de Pessoas (PMP). O aumento se deve ao fortalecimento do Sistema Nacional de Transplantes (SNT) e ao surgimento cada vez maior de recursos nessa área.

A doação de órgãos no Brasil é regulamentada pela Lei nº 9.434 de 4 de fevereiro de 1997 e pela lei nº 10.211 de 23 de março de 2001 que reconhecem duas situações. A doação de órgãos de doador vivo, que pode ser realizada por qualquer pessoa saudável que concorde com a doação, podendo doar um dos rins, parte do fígado, parte da medula óssea e parte do pulmão. De acordo com a lei, pessoas da mesma família – até 4º grau de parentesco – e cônjuges podem ser doadores, já não parentes precisam de autorização judicial para ser o doador.

Outra situação é a doação a partir de um doador falecido, que são pacientes em UTI (Unidade de Terapia Intensiva) com morte encefálica, geralmente vítimas de traumatismo craniano ou derrame cerebral (AVC). A doação é determinada pela vontade dos familiares até 2º grau de parentesco, mediante um termo de autorização para a retirada do órgão, e é importante que a família tenha conhecimento da intenção da pessoa quanto à doação de órgãos (coração, pulmão, fígado, pâncreas, intestino e rim) e tecido (córnea, pele e ossos – podendo ser doados até seis horas após a morte).

Central Estadual de Transplante no Acre

No Acre, a Central Estadual de Transplante (CET) iniciou o serviço de captação e transplantes de órgãos em 2006. A função da CET é programar e coordenar o processo de transplantes de órgãos e tecidos, desde a seleção de receptores até o transplante propriamente dito, obedecendo aos critérios da lista única estadual.

Em 2009, a CET realizou as primeiras captações de múltiplos órgãos e tecidos a partir de doadores por morte encefálica, beneficiando pacientes que aguardavam na fila única de fígado, pâncreas e rim.

De 2006 a 2011, foram realizados no Acre 20 transplantes de rins por meio de doadores vivos. Já nos últimos dias de 2010, a equipe da CET concretizou os dois primeiros transplantes de rim com doador falecido.

Além disso, também foram realizados 41 transplantes de córnea, desses, 36 córneas foram ofertadas pelo Sistema Nacional de Transplante (SNT). Hoje, 43 acreanos estão na fila aguardando por um transplante, 28 de rins e 15 de córneas.

Recomeçando a vida

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A dona de casa Antônia Torres, 53, fez transplante de fígado há sete meses e conta com satisfação a alegria que teve diante da oportunidade de recomeçar a vida (Foto:Assessoria Sesacre)

A dona de casa Antônia Torres, 53, fez transplante de fígado há sete meses e conta com satisfação a alegria que teve diante da oportunidade de recomeçar a vida. Antônia diz que tudo foi muito rápido.

“Primeiro começou um problema grave na minha vista que segundo a médica tratava-se de uma doença rara (autoimune) e eu deveria tomar uma medicação muito forte durante dois anos. Isso faz mais ou menos uns três anos. Depois de fazer esse tratamento fiquei um pouco fragilizada, com a imunidade baixa”, diz Torres.

O tempo passou e no final de 2010, dona Antônia foi acometida pela dengue, sendo necessária a internação para curar a doença. Durante os dias que passou internada, vários exames foram realizados e, para sua surpresa, a médica informou um novo problema de saúde.

“Eu pensava que estava tudo bem comigo, a princípio estaria somente com dengue. Depois que a médica recebeu o resultado dos meus exames, percebeu que o caso era mais grave. Havia um problema sério no meu fígado, pediu então outros exames para confirmar a doença. Não deu outra, o resultado foi positivo. Eu estava com hepatite B num estado avançado. A emoção foi tão forte que não consigo descrever qual foi a sensação daquele momento”, relata a dona de casa.

Para Antônia, a pior notícia ainda estava por vir. Foi quando a médica informou que seu fígado estava completamente incapacitado e a única esperança de sobreviver seria um transplante.

“Apesar da má notícia, tudo ocorreu de forma rápida e eficiente. A médica que estava me atendendo me transferiu para uma equipe de muita competência que me encaminhou para São Paulo, já com indicação de transplante, onde fiquei aguardando ansiosa na 12ª posição por um doador compatível”, diz Antônia, emocionada.

Segundo a dona de casa, tudo seguiu de forma positiva, apesar dos medos e da falta de informação sobre o assunto sempre se sentiu aliviada e confiante em Deus e no futuro. O processo de mudança de cidade e a bateria de avaliações e exames para o ingresso na fila do transplante se deram de modo relativamente fácil.

“Eu sabia que o transplante era a minha única opção pra continuar vivendo. Sabia também que Deus quer o melhor para cada um de nós. Chegando lá, tive uma piora, pois a doença evoluiu para uma hepatite fulminante, sendo assim, apenas com dois dias de internação recebi a notícia que havia um doador compatível pra mim. Fizemos todos os procedimentos necessários e em seguida o transplante foi realizado com sucesso. Hoje, depois de sete meses, vivo uma vida saudável, apesar de algumas restrições. Tive a oportunidade de conhecer meu neto, que na época do transplante ainda não havia nascido. Eu agradeço a Deus e a família da doadora por esta oportunidade de vida. Tudo o que aconteceu foi um milagre de Deus, pois muitos não têm a mesma sorte, morrem na fila aguardando por um doador”, relata Torres.

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